Depois de dois anos cercados por fake news e diferentes conflitos, não só políticos como também em relação ao gigantesco negacionismo da ciência diante da atual pandemia que vivemos, chega na Netflix o mais novo longa do diretor Adam McKay, Não Olhe Para Cima (Don’t Look Up), que visa justamente demostrar uma crítica certeira aos tempos modernos e sombrios que vivemos por meio de um humor ácido aplicado com maestria e por bons momentos mostrados em tela – que, infelizmente, se coincidem e muito com a realidade.
Em Não Olhe para Cima, acompanhamos o doutor Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e sua doutoranda, Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence). Após descobrirem que um cometa localizado em nosso sistema solar está prestes a colidir com a Terra e que apresenta 99,8% de chance de dizimar toda a espécie humana em seis meses, os astrônomos decidem avisar a Casa Branca. Com a ajuda do doutor Oglethorpe (Rob Morgan), os dois tentam alertar não só a presidente (Meryl Streep) e o seu filho Jason (Jonah Hill), como também todo o mundo antes que o pior aconteça.
Com uma trama que chega a ser clichê se comparado a filmes que retratam uma catástrofe, Adam McKay consegue dirigir com maestria o roteiro e satiriza todos os elementos que estão presentes em um filme do gênero utilizando, não só eles, como também outras figuras de linguagem como uma forma de criticar toda a situação atual, não só de interesses políticos e econômicos diante de determinada situação como também do negacionismo extremo perante aos dados expostos cientificamente – seja no cenário da atual pandemia como em eventos passados, junto com a geração de fake news e conflitos por viés político.
A forma como o diretor decide trabalhar esta sátira misturando elementos da vida real com os ficcionais perante a situação que envolve a trama é bastante interessante, feita através de um humor ácido bem aplicado e por meio de sátiras dos principais talk-shows e empresas de tecnologia norte-americanas. Entretanto, durante a exibição do filme, ele se perde nisso e, ao apertar sempre na mesma tecla, torna uma experiência que antes estava agradável em arrastada e repetitiva – principalmente a partir da metade do segundo ato.
Além disso, McKay tenta alarmar a situação subestimando toda a população e fazendo com que todos os personagens do filme (além dos protagonistas) apresentem tal comportamento negacionista. Porém, isso não tira o brilho do filme: o seu argumento é bem estabelecido e a sua mensagem é transmitida de forma clara e precisa, da melhor forma possível e no tempo necessário.
Quanto ao elenco, é impossível não elogiar os nomes de peso presentes nele. Leonardo DiCaprio está sensacional e transmite todas as nuances de sua personalidade, um cientista que antes tem problemas de ansiedade e não consegue falar com o público sem utilizar termos técnicos se torna uma certa celebridade da televisão. Junto a ele, Jennifer Lawrence vive uma doutoranda que expressa de forma nítida seus sentimentos e se equilibra perfeitamente com o personagem de DiCaprio.
Meryl Streep interpreta com maestria o papel de uma presidente irresponsável que nega com todas as forças a situação que está por vir, sendo o principal elemento de sátira da trama. Um problema deste elenco de peso é que, diante de tantos nomes bons da indústria, alguns ficam ofuscados e seus personagens acabam sendo esquecidos na trama, como é o caso de Jonah Hill ou de Timothee Chalamet.
Então, é bom?
Não Olhe para Cima é um filme excelente e que foi lançado no tempo certo. Sua temática, apesar de clichê, utiliza elementos satíricos como uma forma certeira de criticar toda a situação que vivenciamos desde o ano passado e que vem crescendo com o tempo.
Adam McKay consegue amarrar do melhor jeito possível todas essas informações e dirige com maestria o projeto. Além disso, o elenco de peso ajuda na composição do longa e nos traz uma excelente reflexão, não só do tempo que vivemos, como do que está por vir e o que precisamos fazer para mudar o cenário de forma mais rápida possível.
Nota: 4/5