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‘Gioconda’ celebra o amor e a arte por Da Vinci

Vencedora do edital de quadrinhos do ProAC em São Paulo no ano passado e lançado ainda este mês pela Nemo, Gioconda nos conta uma história apaixonante e entrega uma celebração, não só do amor entre duas pessoas como também ao amor que temos pela arte e, além disso, homenageia com maestria todo o trabalho do grandioso Leonardo Da Vinci.

Em Gioconda, acompanhamos Francisco: um imigrante brasileiro que mora em Paris e trabalha no famoso museu do Louvre como faxineiro, sendo o responsável pelo andar no qual se encontra a Monalisa – a famosa obra de DaVinci. Como um grande amante das artes e admirador da obra, o protagonista acaba se apaixonado pela criação de Leonardo DaVinci e pelo seu misterioso sorriso. Até que, em um certo momento, ele encontra uma mulher extremamente semelhante à obra do pintor enquanto andava no metrô da cidade

Com uma trama simples e, relativamente curta, Gioconda consegue se mostrar como uma obra simples e bela que cativa o leitor do início ao fim. É interessante observar que a obra não se restringe apenas em exibir nas páginas toda essa relação entre Francisco, a obra e Elisa – a mulher pelo qual Francisco se apaixona. Além de trabalhar o mistério por trás da semelhança física entre a Elisa e a obra de arte, o quadrinho também aborda, mesmo que brevemente, a xenofobia que o brasileiro sofre em outros lugares.

A história feita por Felipe Pan consegue, com a sua simplicidade, arrastar o leitor mas o grande mistério principal que marca a obra. Além disso, as ilustrações de Olavo Costa com a coloração de Mariane Gusmão casam de forma perfeita e com um grande brilhantismo onde se nota todo o carinho pelo qual a obra foi feita, além da paixão pela mesma.

De fato, um dos únicos pontos negativos da obra é a sua numeração de páginas: por mais que consiga apresentar uma excelente narrativa e expor suas ideias de forma clara, a trama é relativamente curta e diversos assuntos que poderiam ser mais desenvolvidos acabam passando despercebidos ou são deixados de lado com o tempo.

Por fim, celebrando o amor pela arte e homenageando de forma incrível as obras de DaVinci, além de abordar temas importantes, como a xenofobia, em algumas de suas páginas, Gioconda é um quadrinho cuja a simplicidade encontra a beleza e nos entrega uma história formidável da forma mais linda possível, aquecendo o coração do leitor até o fim.

Número de páginas: 112
Capa: Papel Cartão
Editora: Nemo
Data de Publicação: 15 de Dezembro de 2021
Dimensões: 21 x 1.2 x 28 cm
Onde comprar? Amazon

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A Marcha Vol.3 já está em pré-venda pela Editora Nemo

A editora Nemo já começou a pré-venda da edição que conclui uma das mais importantes histórias publicadas por aqui nos últimos anos. A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 3, apresenta o desfecho das memórias da longa batalha de John Lewis pelos direitos humanos e civis, seu encontro com Martin Luther King Jr. e a luta pelo fim das políticas de segregação no país.

Em 1963, o Movimento pelos Direitos Civis penetra profundamente a consciência dos Estados Unidos, e, como presidente do Comitê Coordenador Estudantil Não Violento (SNCC), John Lewis está guiando a ponta da lança. Por meio de ação direta implacável, o SNCC continua a forçar a nação a confrontar sua injustiça flagrante, mas a cada passo à frente, o perigo fica mais intenso: as leis “Jim Crow” contra-atacam por meio de manobras legais, intimidação, violência e morte. A única esperança de uma mudança duradoura é dar voz aos milhões de americanos silenciados pela proibição ao voto.

Para realizar sua revolução não violenta, Lewis e um exército de jovens ativistas lançam uma série de campanhas inovadoras, incluindo o Freedom Vote, o Mississippi Freedom Summer e uma batalha generalizada pela alma do Partido Democrata, travada ao vivo em rede nacional de televisão
.

 

Com essas novas lutas, vêm novos aliados, novos oponentes e um novo presidente imprevisível, que pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Mas as fissuras internas do movimento estão se aprofundando… mesmo enquanto John Lewis, então com 25 anos, se prepara para arriscar tudo em um confronto histórico bem acima do Rio Alabama, em uma cidade chamada Selma.

Infelizmente, John Lewis nos deixou em 17 de julho de 2020, mas sua história e legado ficaram para toda a eternidade.

A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 3 tem formato 17 x 24 cm, 256 páginas e tradução de Érico Assis.

Você pode conferir as resenhas da Torre de Vigilância para os Vol. 1 (AQUI) e Vol.2 (AQUI).

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Editora Nemo lança Duplo Eu, quadrinho francês sobre obesidade

está em pré-venda o próximo lançamento da Editora Nemo: Duplo Eu, de autoria de Navie (roteiro) e Audrey Lainé (arte). Confira detalhes abaixo!

Um dia, Navie percebeu que estava carregando o peso de uma segunda pessoa. Um duplo que ela teve de eliminar para sobreviver.

Navie estava doente. Tinha obesidade mórbida e sofria todos os dias com um sorriso no rosto. Aceitar-se é sempre difícil, mas para Navie amar a si mesma era como amar um reflexo de seu sofrimento. Ela tinha um duplo, carregava o peso de uma segunda pessoa de quem ela tentou fugir, tentou amar e finalmente matar. Mas como você se mata sem morrer? Este é um testemunho raro e forte de uma luta que por vezes travamos com nós mesmos.

Se você já teve medo do olhar dos outros, se já comeu para se sentir melhor, se faz qualquer coisa para que gostem de você, se já se calou ainda que quisesse gritar, se já se enganou dizendo que está tudo bem ainda que por dentro o Titanic estivesse afundando, se já se viu no espelho e desprezou o que via, se já se tratou como burra, idiota, se ama sexo e piadas embaraçosas, se nunca encarou seu reflexo e disse: eu te amo… Este livro é para você. Excesso de peso envolve todo mundo, que seja no corpo ou no coração.

Esta obra foi originalmente publicada na França pela editora Delcourt em 2018.

Duplo Eu possui 144 páginas encadernadas em formato 17 x 24 cm. O preço de capa sugerido é R$ 54,90. Clique aqui para reservar sua edição na pré-venda com desconto.

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Resenha | Todo o amor e coragem por Justin

“O tempo todo estou tentando me defender. Digam o que disserem, o mal do século é a solidão. Cada um de nós imerso em sua própria arrogância. Esperando um pouco de afeição”.
(Esperando por Mim – Legião Urbana)

Saber quem você é e se aceitar como é. Esse é o principal ponto que Justin da quadrinista francesa Gauthier trata na graphic novel lançada pela Editora Nemo aqui no Brasil. No resumo da história, Justine é uma menina, que durante a sua infância começa a sentir, digamos, “incomodada” pelo corpo que tem. Ela então entra em uma jornada para procurar o que lhe deixa feliz, o que lhe satisfaz, mesmo sem entender o que está acontecendo. O que acaba incluindo psicólogos, bullying dos amigos, pressão e decepção dos pais. Mas Justine tem uma característica de ser decidida. Ela tem seus momentos em que a dúvida paira sobre sua cabeça. Mas também tem atitude em diversas ocasiões. E isso é encorajador para diversas pessoas no mesmo caso.

Em uma rápida pesquisa no Google, você pode ver como casos como esse são rotineiros. Pessoas que começam a se incomodar com o próprio corpo como se existisse um grito de socorro dentro delas. Algumas decidem lutar para serem felizes. Outras, por um medo compreensível da sociedade, escondem-se atrás de mentiras e passam a vida assim. Algumas delas chegam até ao suicídio.

“Bobeira é não viver a realidade”. (Malandragem – Cazuza)

A transexualidade é um assunto extremamente polêmico e muito menos discutido do que deveria ser. Talvez por isso, por não entendermos exatamente do que se trata, essa condição seja motivo de tantos casos de preconceito. Transexual é aquela pessoa que nasceu com um determinado sexo, mas não se identifica com ele. E esse sentimento diferente com mudança de comportamento leva a pessoa a procurar tratamentos hormonais e até fazer cirurgias para mudar o corpo. Tratada por muitos como um transtorno, são recomendados acompanhamento psicológicos ou até mesmo com remédios.

Mas onde fica a linha tênue que separa se é transtorno ou apenas um grito pedindo liberdade de uma pessoa?

Gauthier trata disso em Justin. A trama começa na década de 80, quando os sentimentos e as dúvidas começam a aflorar em Justine. Todos os elementos que compõem essa “Ópera da Negação” estão na HQ. A negação dos pais, a negação da sociedade, a negação da família, a negação de profissionais e a negação da própria Justine. Em poucas páginas, a graphic novel, revela e conta sobre como é dolorido e pesado o fardo de tentar se posicionar em um mundo que simplesmente não te aceita. A trama mostra que muitas vezes você será chacoteado, humilhado… mas ao mesmo tempo ela te dá coragem para seguir para o que quer de verdade. E imagina você, amado leitor, que se hoje em dia a transexualidade é ainda um tabu, pense como era em 1983.

Sempre foram casos tratados como “sem-vergonhice”; “ah é falta de um bom homem”, “falta de porrada”, e essas canalhices que todos já escutaram diversas vezes. O tambor de ódio e incompreensão sobre esse assunto e outros semelhares já transbordou há tempos, e ainda mais no momento em que vivemos onde ter ódio parece que ficou na moda. Mas exemplos de publicações como Justin são essenciais para sabermos com tratar essas mazelas e não alimentar o preconceito. Táoquei?

A arte de Justin é simples com traços normais, sendo até mesmo infantis às vezes, mas o que é bom para a graphic novel. O assunto em si é pesado, e os desenhos com as pessoas sendo retratadas como bichinhos dão a leveza necessária para a carregada história. O ponto fraco é que o desenvolvimento é muito rápido pela trama ser curta (se é que isso é um ponto fraco). Às vezes a gente fica pensando “como é que chegou assim, já?” Mas nada que te deixe extremamente confuso com a trama.

“Olhos nos Olhos, quero ver o que você faz. Ao sentir que sem você eu passo bem demais”.  (Olhos nos Olhos – Chico Buarque)

O ponto forte é Justine. Ela é uma protagonista, que de forma simples, você abraça e fala: “estou contigo até o fim”. Ela passa por todo um processo onde ela se deprime, fica decidida no que quer, fica confusa, ela revida o ódio, se apaixona, se descobre sexualmente e se coloca em xeque. Toda essa salada de sentimentos sinceros da protagonista acaba estreitando o caminho dela com o leitor.

O trabalho editorial da Nemo aqui está incrível, o que não é nenhuma novidade se tratando desta editora. A publicação é prazerosa de se ler. O acabamento é de primeira linha como todos os trabalhos da Nemo. Sempre dando esse deleite para o seu leitor.

Justin é uma história que nos faz pensar. Ela traz para a mente aquela velha questão: e se acontecesse comigo? Se por acaso uma pessoa próxima a mim, como por exemplo, um membro da família se descobrisse transexual, como agiria? Você pode ter uma mente aberta, ser sem preconceitos, mas será que diante de um caso tão próximo, você seria como a mãe da Justine? Ou aceitaria de braços e coração abertos? Faça esse exercício.

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Melhores quadrinhos estrangeiros publicados no Brasil em 2018

O ano de 2018 foi marcado pela publicação de excelentes quadrinhos. Algumas editoras estrearam no mercado, outras consolidaram seus nomes, e em meio a uma crise que atinge todo o setor livreiro do Brasil, os leitores priorizam suas coleções e leituras através de boas indicações e séries/personagens favoritos.

A Torre de Vigilância, para marcar o início de 2019, elencará nesta publicação os 10 Melhores Quadrinhos Internacionais do ano passado na opinião de três redatores da categoria Quadrinhos do site, sendo eles: Marcus Santana, Ricardo Ramos e Gabriel Faria. No total, são 30 (ou quase 30, pois alguns se repetem) quadrinhos indicados.

Os critérios básicos para escolha dos materiais foram: o quadrinho deve ter sido lançado no Brasil em 2018, e deve ser uma obra inédita, nunca antes publicada no país. O motivo é simples: queremos indicar as melhores novidades para o público leitor. Haverá também uma lista elencando as melhores republicações do ano, e outra elencando os melhores quadrinhos nacionais – para dar um destaque único e exclusivo aos autores nacionais -, mas isso ficará para outro dia. Outro critério para escolha dos gibis, é claro, foi o gosto pessoal de cada um dos redatores. Uma das graças em fazer este tipo de levantamento é a divergência (ou não) de opiniões, e o gosto  pessoal sempre influenciará na escolha dos indicados.

Sem mais delongas, vamos às listas:

Marcus Santana

Blacksad – Alma Vermelha

Os dois primeiros volumes de Blacksad saíram pela Panini no Brasil há mais de 10 anos. Na época, A Alma Vermelha já havia sido lançado na Europa, mas as baixas vendas, fruto de uma estratégia mal-sucedida de vender álbuns europeus em bancas fez somente em pleno 2018 os leitores brasileiros terem acesso ao terceiro álbum da série. 

Mesmo que um pouco abaixo de Arctic-Nation, meu volume favorito do personagem, o nível ainda é muito alto. A trama envolvendo pesquisas nucleares, tensões políticas bem parecida com os dias de hoje, uma fórmula secreta e obras de arte é genial. A arte, as cores, a narrativa, a tradução e o projeto editorial deram muito certo.

A aceitação dos leitores pela segunda encarnação de Blacksad por aqui parece ser boa, uma vez que, em menos de um ano e meio, a editora SESI-SP lançou cinco álbuns do gato de sobretudo. Ainda em 2018 saíram  O Inferno, o Silêncio e Amarillo, alcançando assim o último álbum da série lançado até o momento. Agora é esperar por novos volumes, que foram anunciados em 2016 mais ainda não foram lançados.


Verões Felizes – Senhorita Estérel

Nostalgia é a maior inimiga do senso critico. Grande problema ver tantos produtos de entretenimento que mexem com o passado, nos encantamos e achamos que é o máximo simplesmente por isso. 

Verões Felizes conta em cada volume determinado período de férias da família Fálderault. Apesar de breves passagens em 1992, Senhorita Estérel se passa em 1962, antes dos dois primeiros álbuns da série. Em direção à Saint-Étienne, nos aprofundamos mais ainda na origem dessa família que identificamos cada vez mais como nossa. Seus pais, avôs, filhos… nos sentimos em casa. A arte de Jordi Lafrebe é linda. Seus cenários, expressões, cores e etc. Mesmo ser uma diferença imensa entre hábitos, nostalgia aqui tem qualidade. 

Fica a torcida para os volumes 4 e 5 serem lançados o quanto antes. Já estamos ansiosos.


Ayako

Poucos autores simplesmente não erram. Osamu Tezuka sequer deu a alguém a chance de apostar um descuido em suas obras. E no Brasil já tivemos algumas chances: Adolf, A Princesa e o Cavaleiro, Buda, Dororo, Kimba… Ainda uma lista tímida  se levarmos em conta que ainda faltam obras como Astroboy, Black Jack, Doutor Tenma e Pukko.

Tezuka conseguia surfar em mares agitados, tratava de temas para todos os públicos e mostrou que HQs lá no oriente não é entretenimento somente para jovens. Ia do infantil ao seinen.

O Japão pós-guerra narrado em Ayako foi o período que justamente popularizou os mangás por lá, devido a ocupação dos EUA no país. Temos uma narrativa mais real que fantástica, diferente de Adolf, que mescla os dois universos.

Não vou negar que, apesar da qualidade imensa, a edição da Veneta é grande e cara. 720 páginas em capa dura não teriam como resultar em outra consequência, mas Tezuka vale o esforço. 


Duas Vidas

Já havia gostado muito de Não Era Você Quem eu Esperava, lançamento anterior desse francês que fala português melhor que muito brasileiro.

Dois irmãos, duas carreiras e duas vidas em colisão. É nada mais que isso.

Toulmé fala de obstáculos e situações complicadas de forma ao mesmo tempo serena, preocupante e cômica. Ponto pra editora Nemo.


Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash

A surpresa do ano. Muitos têm seu auge e depois se mantém, apesar de um nível abaixo, regulares.

Não é o caso. Apesar de recente e ter sido um trabalho encomendado por um instituto, considero essa uma obra-prima de McKean.

São sonhos (sim, pensei o mesmo que você a respeito de outro personagem do autor) e reminescências de Paul Nash, artista e militar da Primeira Guerra Mundial. Com suas imagens de conflito, ficou conhecido como artista oficial do período.

A leitura é sensorial. Uma ótima experiência. Obrigado, DarkSide! Inclusive por escolher capa dura, edição que, no reino unido, só saiu em 500 exemplares.


Mort Cinder

Oesterheld é para mim o maior roteirista de HQs que já existiu. Podem tentar copiá-lo, mas não tem como chegar no patamar que ele tinha em combinar palavras em sua narrativa. Eu sinto a tensão do ambiente, o peso das vozes e os efeitos sonoros de cada palavra que ele escreve. É o maior.

Alberto Breccia é um gênio da ilustração. Desenhar assim usando como um dos utensílios LÂMINA DE BARBEAR não é para qualquer um.

A trama? Bom, vou deixar vocês mesmos descobrirem. O assunto poderia ser o que fosse, com esses dois não teria a mínima possibilidade de dar errado.

A edição da Figura é melhor até que a versão argentina, país de origem da HQ, que já saiu na França, Alemanha, Portugal, Espanha, Estados Unidos da América e FINALMENTE no Brasil. 

Ano que vem é o centenário de ambos os autores, então se ainda não os conhecem, a hora é essa.


Crimes e Castigos

Carlos Nine é um autor quase desconhecido no Brasil e quase nada de sua autoria foi publicado por aqui. Reparando esse erro, a Figura lançou este ano essa inesperada edição que por pouco não veio. Crimes e Castigos quase não teve sua meta de financiamento coletivo atingida, e o azar seria nosso.

A narrativa de Nine é similar à de Rodolphe Töpffer e Hal Hoster. Com apenas caixas de texto, o detetive Babously desvenda um mistério que, ao mesmo tempo que conta uma história ao longo da HQ, é recheada de narrativas mais curtas em cada uma de suas aventuras.

Os desenhos de Nine beiram o surreal e misturam erotismo, ação e violência neste volume. Sua construção de página são extremamente criativas e divertidas.

Seria muito bem-vinda a iniciativa de novas histórias do autor, mas acredito que seja muito difícil pois até na Argentina, seu país de origem, o público é muito específico.


Uma Irmã

Bastien Vivés, apesar de muito jovem, já é visto como um dos grandes nomes das Narrativas Gráficas na França. Jovem como sua idade, também é sua introdução no mercado brasileiro: esta é apenas sua segunda HQ publicada por aqui. A primeira, O Gosto do Cloro, saiu em 2012.

Assim como na primeira HQ aqui lançada, o foco de Vivés é um relacionamento ao mesmo tempo instantâneo e incomum. Um garoto tem afeto cada dia maior com uma garota que tem que conviver diariamente devido suas férias. A convivência cresce e suas atividades avançam. Seria inicialmente uma irmã, mas a convivência torna a relação difícil de explicar.

Melhor dizendo, é muito bem descritível graças ao traço de Vivés. Tão leve e puro como uma convivência familiar.

A Editora Nemo há um bom tempo mudou seu perfil de publicações, e tem lançado HQs cada vez mais autorais. Infelizmente projetos como de Hugo Pratt e Enki Bilal não vingaram, mas bom saber que continuam ousando em publicar um material tão exclusivo por aqui.


Paraíso Perdido

Sempre tive um pé atras com adaptações em HQ. Ao meu ver é o mesmo que assistir ao filme ao invés de ler a HQ. Ridículo aos que têm preconceito com quadrinhos mas lotam salas de cinema. É preguiça de ler. Medo de gostar.

Mas é tão bom quando calam nossa boca; recentemente tivemos esse gostinho com Elric da Glénat (publicado no Brasil pela Mythos) e Paraíso Perdido faz exatamente isso novamente. Baseado num poema de John Milton no século XVII, temos aqui o drama de anjos que sucumbiram à uma revolta de Satanás, corrompendo a humanidade e gerando o mundo que até hoje vivemos.

A quase falta de texto não incomoda. Me lembrou bem o que Danilo Beyruth me disse em uma entrevista realizada aqui no site: quando uma arte é tão bem feita que o espaço de tempo é diferente. Passamos mais tempo que de costume apreciando cada página pois Pablo Auladell destrói. Que esse autor esteja mais presente por aqui.

A DarkSide definitivamente veio para ficar no mercado de quadrinhos. Ainda bem.


A Terra dos Filhos

Sinceramente acho que o gênero “pós-apocalíptico” se aproxima do cansaço. Muitos filmes, séries e HQs sobre o mesmo assunto em um curto espaço de tempo os estão tornando cada vez mais previsíveis. No mesmo ano, por exemplo, tivemos os filmes Um Lugar Silencioso e Bird Box. A diferença de um para outro era o sentido a ser evitado.

Finalmente publicado no Brasil, Gipi conseguiu fazer uma obra sem cair na mesmice desse gênero. Dois garotos viajam uma terra arrasada buscando uma coisa apenas: conseguir ler o diário de seu pai.

O trabalho editorial da Editora Veneta é muito bom, inclusive escolhendo uma capa melhor que a versão original.


Ricardo Ramos

Black Hammer

Uma das séries mais elogiadas lá na gringa chegou ao Brasil por meio da Intrínseca, e foi um baita golaço. A premiadíssima obra de Jeff Lemire juntamente com o artista Dean Ormston e o colorista Dave Stewart já arrebatou em 2017 o Eisner na categoria Melhor Série Original, contando a trama de um grupo de super heróis em total decadência.

Até agora a Intrínseca publicou dois volumes: Origens Secretas e O Evento, mas a editora tem em seus planos manter a continuidade da série.


A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1

Lançado originalmente em agosto de 2013 nos Estados Unidos, A Marcha é a primeira parte de uma trilogia que apresenta a longa batalha do lendário congressista americano John Lewis pelos direitos humanos e civis e a luta pelo fim das políticas de segregação no país. É um retrato sobre o movimento de direitos civis na América, sob a perspectiva de Lewis e a influência que foi exercida sobre ele pelo ícone Martin Luther King.  A obra foi escrita pelo parlamentar norte-americano John Lewis e Andrew Aydin e tem desenhos de Nate Powell.

Aqui no Brasil A Marcha foi publicada pela Editora Nemo que já anunciou a segunda parte da trilogia para abril. Confira a nossa resenha AQUI.


Visão de Tom King

O tão comentado e elogiado arco de Tom King que reformulou o Visão com um vendaval de inovações na sua mitologia chegou ao Brasil e agradou os leitores. Uma história suburbana que mistura suspense, ficção científica e comédia de erros que dá prazer de ler e reler. É praticamente um thriller bem no estilo de King, com simpatias com os personagens e reviravoltas que aparecem a todo momento durante a leitura. Você pode conferir nossa resenha AQUI.


Drácula

O último trabalho de Mike Mgnola antes de cair de cabeça em Hellboy, a adaptação do filme Bram Stoker’s Drácula, chegou ao Brasil pela Editora Mino. E chegou em grande estilo. A Mino não poupou trabalho para publicar uma lindíssima edição, com uma capa vermelha sangue e a história em preto e branco, que só realçou e valorizou mais a arte de Mignola. A qualidade é tão absurda, que quando você termina a leitura dá vontade de assistir ao filme de Francis Ford Coppola em preto e branco. Um dos melhores trabalhos editoriais lançados no país ano passado.


Asa Quebrada

A obra do escritor espanhol Antonio Altarriba conta a trajetória de sua mãe Petra. Uma mulher calejada de tragédias, que começaram logo quando ela nasceu. Quando a sua mãe morreu quando dava luz a ela, o seu próprio pai a tentou matar e no ato deixou Petra com um braço imóvel permanentemente. Anos depois, ela teve que cuidar do seu pai que ficou paralisado após uma briga. E chegando até salvar a sua vida durante a Guerra Civil Espanhola. Assim como em Arte de Voar, onde Altarriba narra a história de seu pai, a trajetória de Petra se mistura com o momento em que o fascismo da Guerra Civil Espanhola aterrorizava o país.

Tanto Arte de Voar quanto Asa Quebrada foram publicadas por aqui pela Editora Veneta.


Os Vampiros

Baseada em fatos reais, a HQ de Filipe Melo e Juan Cavia apresenta um grupo de soldados portugueses que são destacados durante a guerra colonial para uma missão secreta no Senegal em dezembro de 1972. Mas o clima tenso vai pesando sobre eles que acabam sendo consumidos pela paranoia e pelo cansaço. Os homens enfrentam sucessivos demônios. Tanto os da guerra como os que cada um carrega com si mesmo. A publicação aqui foi da SESI-SP.


A Entrevista

A HQ do italiano Manuele Fior apresenta o psicólogo de meia idade Raniero, que conhece a jovem Dora, uma paciente que se torna uma catalisadora das mudanças que se impõem sobre a sua conturbada vida. Publicado por aqui pela Editora Mino, A Entrevista chegou liderar por um tempo o ranking de vendas na Amazon Brasil.


Juízes Negros: A Queda do Mundo Morto

Não poderia faltar nesta lista de 30 quadrinhos, um do universo do Juiz Dredd, maior e mais famoso personagem dos quadrinhos britânicos. Este, escrito por Kek-W (que já teve uma obra publicada no Brasil, A Lei de Canon) e ilustrado por Dave Kendall, é um prelúdio da vida dos principais inimigos do Juiz Dredd, os Juízes Negros (Morte, Mortis, Fogo e Medo), mostrando como era seu universo que foi destruído posteriormente por sua política de “o crime é a vida, a sentença é a morte”. Com arte fenomenal e história elucidante para os fãs do Bom Juiz, A Queda do Mundo Morto (e todos quadrinhos do Dredd) merece receber destaque por parte dos leitores brasileiros.


Lazarus

Greg Rucka e Michael Lark criam, em Lazarus (da Image Comics) uma história de ação e política deslumbrante. A dupla já havia trabalhado em união na série Gotham Central da DC Comics, e em Lazarus, uma série mais autoral, eles repetem o sucesso e qualidade dessa união tão fantástica, e apresentam muita violência com uma personagem feminina, protagonista, fortíssima. O foco da história está no poder mundial, controlado pelas “famílias”, e cada “família” possui sua espada e escudo, uma pessoa, um protetor denominado Lazarus.

A edição nacional é da editora Devir, que trouxe a série em capa cartão e capa dura, para que os leitores possam escolher o que mais lhe agrada.


Fugir: O Relato de Um Refém

A editora Zarabatana, casa brasileira dos quadrinhos de Guy Delisle, surpreendeu a todos ao trazer em 2018 sua obra sobre o sequestro de um funcionário de uma ONG médica na região do Cáucaso. Delisle narra, de forma angustiante, como Christophe André foi mantido em cativeiro sem saber o motivo do sequestro. Comovente, absurda e rivalizando com suas melhores obras (Pyongyang, Shenzhen e suas Crônicas Birmanesas e de Jerusalém), esta graphic novel de mais de 400 páginas explicita muito bem o motivo de Delisle ser tão celebrado no mundo inteiro.


Gabriel Faria

Paraíso Perdido

Pra mim, o melhor quadrinho de 2018. Sempre tive um fascínio por histórias fantásticas com personagens bíblicos. Tal qual o poema original de John Milton (que li somente após ter lido o quadrinho publicado pela DarkSide), o espanhol Pablo Auladell entrega um espetáculo narrativo e visual que enche os olhos do leitor. Sua arte assemelha-se a pinturas clássicas, o que entrega à obra um charme ainda mais especial.

A história narrada, apesar de simples, é recheada de nuances e significados. O que começa como uma história intrigante torna-se rapidamente um épico de guerra, e o texto rebuscado, apesar de dificultar a leitura no início, passa a ser plenamente legível com velocidade significativa no decorrer das páginas. A edição da editora DarkSide também é um espetáculo visual primoroso.


O Relatório de Brodeck

A estreia do francês Manu Larcenet no mercado nacional veio através da editora Pipoca & Nanquim. E, assim como o quadrinho que citei anteriormente, esta também é uma adaptação de um livro. Uma belíssima adaptação.

Uma história densa, que trata especialmente sobre a crueldade humana, O Relatório de Brodeck mostra a vida de Brodeck, escriba recém-saído da Segunda Guerra Mundial, contando e investigando um assassinato brutal cometido pelos moradores de um vilarejo. A obra original é de Philippe Claudel, e a adaptação de Larcenet destaca-se em grande parte por sua arte sombria e muito expressiva.

O quadrinho é tenso. Angustiante, triste e sofrido. Ele escancara o pior do que há na humanidade, e você sente o impacto de cada momento no decorrer das páginas. Brodeck compete com Paraíso Perdido, pra mim, como melhor publicação do ano. E o cuidado editorial da Pipoca & Nanquim é belíssimo.


Blue Note: Os Últimos Dias da Lei Seca

Publicado na França pela Dargaud e chegando ao Brasil pela Mythos Editora através do selo Gold Edition, Blue Note possui dois álbuns em um, ambos situados na Nova Iorque dos anos 30, quando a Lei Seca foi abolida nos Estados Unidos.

Uma das histórias é focada em um boxeador que retorna a ativa enquanto lida com a máfia e um novo amor, e a outra é sobre um músico que se mudou para Nova Iorque. As duas histórias têm em comum o envolvimento com a venda ilegal de álcool, os clubes de música, e principalmente, gângsteres.

A atmosfera de época traduzida às páginas pela dupla Mathieu Mariolle e Mikaël Bourgouin é simplesmente deslumbrante, e a ligação entre a vida de Jack Doyle (o boxeador) e R. J. (o músico) é belissimamente conduzida. Vincenzo, dono do maior clube da cidade e perigoso mafioso, também é um personagem intrigante, e a ligação entre jazz, boxe e noir torna Blue Note uma das surpresas mais agradáveis do ano.


Uma Irmã

Assim como o texto do Marcus no início desta postagem resumiu bem, Uma Irmã é um quadrinho leve e puro, e um adjetivo ficou de fora mas acrescento aqui: delicado. História sobre descobertas e uma relação inusitada que poderia facilmente desembocar na pornografia gratuita pura e simples, mas nas mãos de Bastien Vivès, acaba por se tornar um show de empatia e delicadeza.

Vivès possui apenas 34 anos mas é considerado por muitos como um dos prodígios do mercado europeu. E não é pra menos: sua arte e narrativa são muito singelos, e a forma como ele apresenta todos os personagens quase como rascunhos, em traços finos e limpos, colabora para a inocência da história. Ponto positivo para a edição da Nemo, que poderia muito bem se tornar a casa editorial do autor no Brasil. Seria ótimo.


Shangri-La

Um quadrinho polêmico que vem dividindo a opinião de muitos leitores, Shangri-La de Mathieu Bablet me encantou do início ao fim. Para muitos, a história de ficção-científica narrada neste quadrinho foi cheia de problemas: pretensiosa, cansativa, rasa, com desenhos insatisfatórios… Entretanto, todos estes pontos “negativos” para mim são os grandes destaques do quadrinho.

Shangri-La mostra a vida em uma estação espacial após a Terra ter se tornado um planeta inabitável. A estação é dominada pela grande corporação Tianzhu, que controla a vida dos habitantes quase como de forma hipnótica, através do consumo exacerbado de novas tecnologias e controle de créditos. Entretanto, a história da vida “perfeita” na nave rapidamente torna-se questionadora quando a empresa, que possui um plano de criar vida a partir do zero em Titã, uma das luas de Saturno, é posta em cheque por um leque de personagens da estação espacial. E a partir daí inicia-se a investigação e o caos generalizado da vida humana no local.

Esta história é ficção-científica pura, sem tirar nem por: o contexto fantástico e futurista serve para que o autor fale sobre a realidade no momento atual da raça humana. E os questionamentos que ele levanta são realmente pertinentes, além de chocantes em muitos aspectos. Mas o quadrinho não dá respostas: ele apenas questiona. E acho isso um charme especial, pois o leitor deve preencher as lacunas em sua cabeça e mostrar o que absorveu daquilo que leu. A arte de Bablet é linda (apesar de realmente possuir um problema, que é a representação do rosto humano), e a edição da SESI-SP ficou primorosa. Pra mim, uma surpresa positiva.


Um Pedaço de Madeira e Aço

O francês Christophe Chabouté foi um dos destaques de 2017, pra mim, com a publicação de Moby Dick pela editora Pipoca & Nanquim. Agora, este mestre francês da arte em preto & branco retorna por sua casa editorial brasileira com um de seus quadrinhos mais aclamados, Um Pedaço de Madeira e Aço.

Nesta história com mais de 300 páginas, Chabouté mostra a vida e a passagem do tempo com foco em um… Banco de praça. E a história deste banco de praça, frequentado por diversas pessoas (e animais) da cidade onde ele se localiza, inusitadamente é uma das leituras mais emocionantes do ano. Um mestre da perspectiva e narrativa gráfica, o autor consegue, através do banco, mostrar um pouco da vida de cada um que passa por lá, criando um envolvimento único com o leitor. O banco é, assim como “personagem principal”, o único cenário da história, e a passagem de tempo (demonstrada sem textos, pois este é um quadrinho mudo) torna a finalização da leitura uma verdadeira jornada de sentimentos, que vão do riso às lágrimas em algumas viradas de páginas.

Mais Chabouté deverá chegar ao Brasil em 2019, e se a qualidade se mantiver como Moby Dick e Um Pedaço de Madeira e Aço, este autor rapidamente se consagrará como leitura obrigatória por aqui.


Black Hammer

Jeff Lemire segue consolidando seu nome como um dos maiores autores do mercado norte-americano. A cada história é uma surpresa, e a qualidade não cai. Black Hammer, na minha opinião, é o grande destaque das histórias de super-heróis publicadas no Brasil em 2018.

Lemire homenageia todo o legado dos heróis da Marvel e DC através de uma história sombria, cheia de mistérios e constantemente chocante. O plot simples (heróis presos em uma realidade/tempo específica sem saber como voltar para a vida normal), nas mãos do roteirista, cresce de maneira surpreendente e entrega uma leitura que, ao terminar, você sente necessidade de mais. E todos os personagens são memoráveis e carismáticos, representados muito bem através da linda arte de Dean Ormston. O sucesso desta publicação da Editora Intrínseca é merecido, e os leitores brasileiros precisam de mais.


Boa Noite Punpun

Assim como Ayako (já citado pelo Marcus no início desta lista), Boa Noite Punpun é o destaque dos mangás lançados no Brasil em 2018. Inio Asano é, na minha opinião, o melhor mangaká contemporâneo do Japão. No Brasil já tivemos a publicação de algumas obras suas: Solanin, A Cidade da Luz e Nijigahara Holograph. Entretanto, Punpun é sua obra-prima.

Como todos os mangás de Asano, Punpun gira em torno do fator humano. A história, que segue a vida de um garoto chamado Onodera Punpun (representado como uma espécie de passarinho) enquanto ele cresce e convive com amigos e familiares, possui tudo que o autor mais sabe fazer: algo sincero, depressivo, metafórico, imperfeito, delicado… Todas as características que se enquadram nas obras de Inio Asano, em Punpun são trabalhadas com maestria.

O crescimento e as descobertas de Punpun, o convívio com sua família quebrada e seus amigos, sua rotina escolar, seus primeiros sentimentos (como amor e depressão, alegria e tristeza), suas incertezas a respeito do que está acontecendo, seu contato com Deus… Tudo é primoroso. E a edição da JBC, em Formato Big (com mais de 400 páginas), é perfeita. Boa Noite Punpun é uma história aclamadíssima no Japão, e a oportunidade de ler esta obra no Brasil é fantástica.


Gideon Falls

Jeff Lemire surge mais uma vez, agora com uma história bem diferente do que ele conta em Black Hammer, apesar do clima de tensão de ambas as obras. Aqui, temos uma história de terror publicada nos EUA pela Image Comics. E é uma história de terror de primeira categoria.

Ao lado de seu parceiro de outros trabalhos, Andrea Sorrentino, Lemire narra a história de um padre em uma pequena cidade do interior e um rapaz transtornado na cidade, enquanto um misterioso celeiro negro está linkado às suas vidas de forma similar. E a tensão evocada pelas aparições do celeiro e todo o mistério que gira em torno de sua existência são surpreendentemente curiosas. Você quer saber o que está acontecendo a qualquer custo.

A edição da Mino, em capa dura com bom acabamento gráfico, também merece elogios. Um quadrinho que, assim como B.H., os leitores brasileiros precisam de mais!


Réquiem: Cavaleiro Vampiro

O fantástico roteirista Pat Mills (de Guerreiros ABC, Sláine, Juiz Dredd e Marshall Law) mergulha no mercado francês, ao lado do fantástico desenhista Olivier Ledroit, para contar uma das histórias mais criativas presentes nesta lista.

Um nazista morto na guerra, ressuscita como um vampiro em um mundo que é o oposto da Terra (também geograficamente falando), onde o tempo corre ao contrário, cima é baixo, esquerda é direita, água é sangue. Este mundo, chamado Ressurreição, torna-se o lar de Heinrich, que ao renascer assume o posto de Cavaleiro Vampiro, soldado que deve manter a ordem caótica deste universo estranho cheio de lobisomens, zumbis e outros monstros.

Réquiem é a cara de Pat Mills: um quadrinho ácido, violento, e visualmente fantástico graças a maravilhosa arte de Olivier Ledroit. Assim como Blue Note, Réquiem foi publicado pela Mythos Editora através do selo Gold Edition, e foi uma das mais gratas surpresas do ano. Mais volumes virão, se Drácula ajudar.

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A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade

“Segregação racial é o impedimento, com base na origem étnica, do usufruto dos direitos disponíveis para todos os membros de determinada sociedade.”

Transportar grandes momentos históricos para as mídias é algo comum e rotineiro. Filmes e livros sempre contam passagens interessantes ocorridas no passado, que entraram para a história, sendo protagonizadas por grandes pessoas. Quando o lendário congressista americano John Lewis teve a ideia de contar a sua saga de vida e luta contra a segregação racial, ele recorreu aos quadrinhos.  E ao se juntar com Andrew Aydin e Nate Powell realizaram um dos trabalhos autobiográficos mais importantes dos últimos anos.  A graphic novel A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1.

É interessante saber o porquê Lewis escolheu contar a sua história em forma de quadrinhos. Quando era adolescente, ele se inspirou em uma HQ chamada Martin Luther King and the Montgomery Story, que custava dez centavos na época que foi publicada em 1956. Em diversas oportunidades, o congressista revelou que era como uma “bíblia” para ele e seus amigos ativistas. Como uma ferramenta indispensável para aprender como implementar o ativismo não violento nos protestos.

A Marcha foi lançado originalmente em agosto de 2013 nos Estados Unidos, e é a primeira parte de uma trilogia que foram publicados nos dois anos seguintes.  É um retrato sobre o movimento de direitos civis na América, sob a perspectiva de John Lewis e a influencia exercida sobre ele pelo ícone Martin Luther King. Ao longo da trilogia, vemos a longa jornada de Lewis pelos direitos humanos e civis, seu encontro com Martin Luther King Jr. e a infindável luta pelo fim das políticas de segregação nos EUA.

A publicação se tornou a primeira HQ a ganhar o National Book Award, um dos principais prêmios literários dos Estados Unidos, que geralmente só premia livros. O volume três levou na categoria Literatura Juvenil no ano de 2015. A Editora Nemo publicou aqui no Brasil o primeiro volume. E é dele que vamos falar aqui.

A graphic novel começa com a famosa marcha na Ponte Edmund Pettus, quando 600 manifestantes pacíficos foram atacados por tropas do estado do Alabama sob as ordens do então governador George Wallace. Onde veio ocorrer uma truculenta e violenta ação das autoridades contra os manifestantes. Recomendo assistir o filme Selma.

É bom falar que A Marcha é realmente uma histórias sobre “marchas”.  Esse primeiro volume fala sobre a marcha que foi Lewis sair da sua pequena fazenda no condado de Pike, Alabama, e contra a vontade dos seus pais, que tinham medo das leis opressivas e humilhantes das segregações, foi buscar nos estudos o seu futuro.  Quando acompanhamos a infância de Lewis, percebemos que ele não ficaria nos limites de sua fazenda. Ele fermentou relações com as galinhas da fazenda de seus pais, cuidado deles como pessoas e realizando até pregações religiosas para elas. Lewis eventualmente fazia um “protesto” contra os pais quando esses tinham que matar alguma das galinhas para servir de alimento.

Como dito antes, é uma história sobre marchas. É a marcha de um jovem em direção ao seu futuro inevitável de lutas, a marcha de uma nação em direção a algo maior, a marcha de uma raça para se unirem contra a opressão e a marcha de um grupo de jovens em busca de sua auto-realização. E como a marcha que ele começou quando a justiça considerou inconstitucional parte da segregação racial com que ele tinha que conviver, a vida de Lewis foi direcionada para que pudesse fazer a oportunidade valer a pena.

O texto implantado por John Lewis e Andrew Aydin flui muito bem deixando a leitura cada vez mais prazerosa a cada página, existem momentos de calmaria e bem agradáveis.mas existem momentos em que somos lembrados de como o ser humano pode ser cruel e estúpido. Um dos momentos mais fortes é quando no julgamento do grupo de ativista de Lewis, o advogado de defesa dos jovens tenta expor os seus argumentos ao juiz que simplesmente vira as costas e o ignora em pleno tribunal. Como se ele não estivesse no local.

Outras cenas fortes são as dos “treinamentos contra o ódio”. Era uma espécie de provocação que os membros do grupo de Lewis fazia um com os outros simulando ataques racistas. O intuito era segurar a raiva e agir de forma pacífica. E muitos não conseguiam passar no teste. A questão que logo surgiu para mim foi: “será que eu também conseguiria me segurar sendo afrontado e humilhado? Como eu agiria diante de um ato desse contra mim?” A Marcha desperta isso no leitor o famoso “e se fosse comigo?” 

Durante esse volume, vários momentos de racismo são apresentados, e nos faz pensar o porque as pessoas tem esse tipo de pensamento. E o pior fica quando pensamos: isso está cada vez mais latente.

A segregação racial ainda existe no nosso dia a dia, de vários modos diferentes que estão implantados em nossa sociedade. Mas ultimamente esse discurso de ódio tem se estendido as pessoas de diversas etnias, sexualidade, posição financeira e nacionalidade. O mais grave é que estamos vendo esse discurso crescendo e estamos caminhando direto para ele. Por isso que obras como A Marcha e Jeremias–Pele são importantes. Para lembrarmos que somos todos humanos. Que ainda devemos ter amor pelo próximo dentro de nós.

E com certeza um dos pontos fortes de A Marcha é a sua arte. O desenhista Nate Powell conseguiu captar e passar visualmente todo o roteiro com seu realismo expressionista com umas certas pitadas de estilo noir. O dinamismo atrai, sem esforço, o leitor para a história e prende até o fim. As vezes se pegar olhando os detalhes de cada traço nas páginas, depois de já ter lido, é algo normal pela quantidade de cenas bonitas. A visão de Washington/ DC no começo da graphic novel é uma cena digna de cinema, quando vagamos por uma imagem aérea do sol nascendo e depois caminhamos por uma rua vazia e silenciosa entrando no prédio onde mora Lewis.

A história de John Lewis é contada através de uma narração gentil e uma arte linda, onde parece que somos transportados para aquele momento. Sentimos a calmaria da fazenda, e a angústia da pressão racista da segregação racial que paira no ar. A torcida agora é que a Editora Nemo anuncie a publicação das sequencias.

A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1 é uma leitura obrigatória para todos que precisam saber como foram anos difíceis e como podemos mudar o futuro com ações sem violência e com inteligência contra o ódio.

E quem sabe poder presentear aquela pessoa que ainda insiste nesse discurso e poder mudar um pensamento?

 

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Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro, de Daniel Clowes, retorna ao Brasil pela Nemo

Após o lançamento da Paciência e a republicação de Ghost World (em edição comemorativa) em 2017, a Editora Nemo trará novamente aos leitores brasileiros outra obra consagrada de Daniel Clowes. Trata-se de Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro, que retornará às livrarias com novo acabamento gráfico e nova tradução. Confira detalhes abaixo!

Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro reúne os dez capítulos da história de mesmo nome publicada por Daniel Clowes entre 1989 e 1993 na revista Eightball.

Ao tentar desvendar os mistérios por trás de um _snuff film_ – gênero em que as mortes filmadas são reais –, Clay Loudermilk se vê envolvido com um elenco cada vez mais bizarro de personagens, incluindo uma dupla sádica de policiais que entalha um estranho símbolo no seu calcanhar; uma suburbana de meia-idade e libidinosa, cujo encontro sexual com uma misteriosa criatura das águas gerou uma filha mutante grotescamente disforme, mas não menos libidinosa; um cão sem qualquer orifício (que tem de ser alimentado via injeções); duas vítimas sinistras de implantes capilares terrivelmente malfeitos; um carismático líder de culto, no melhor estilo Charles Manson, que planeja sequestrar um famoso colunista de autoajuda e muito mais!

Um clássico dos quadrinhos, finalmente relançado no Brasil, e inspiração para incontáveis outras obras, esta assustadora e fascinante jornada pela loucura faz Twin Peaks parecer os Teletubbies.

Esta obra de Daniel Clowes já foi publicada no Brasil em 2002 pela editora Conrad, e irá compor a coleção de Clowes formada pela Editora Nemo, que apresentou sua obra inédita e relançou seus títulos mais famosos com acabamento gráfico impecável e tradução revisada.

Como Uma Luva de Veludo Moldada em Ferro contém 144 páginas encadernadas em formato 25 x 19 cm. O preço sugerido é R$ 49,80. Clique aqui para garantir seu livro na pré-venda com preço mais baixo garantido!

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A Marcha | Graphic Novel sobre luta dos direitos civis é publicada no Brasil

A elogiada graphic novel A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1, já está sendo vendida em terras brasileiras com publicação da Editora Nemo. A obra foi escrita pelo parlamentar norte-americano John Lewis e Andrew Aydin e tem desenhos de Nate Powell.

A Marcha foi lançado originalmente em agosto de 2013 nos Estados Unidos, e é a primeira parte de uma trilogia que foram publicados nos dois anos seguintes.  É um retrato sobre o movimento de direitos civis na América, sob a perspectiva de Lewis e a influencia exercida sobre ele pelo ícone Martin Luther King.

A trilogia apresenta a longa batalha de John Lewis pelos direitos humanos e civis, seu encontro com Martin Luther King Jr. e a luta pelo fim das políticas de segregação no país. A Marcha aconteceu em agosto de 1963, em Washington/DC e reuniu quase 300 mil pessoas. O emblemático discurso de King onde ele diz a frase “Eu tenho um sonho”, foi realizado durante os atos.

John Lewis.

A história começa na famosa Marcha de Selma até Montgomery, onde os manifestantes foram atacados violentamente por policiais (recomendo assistir o filme Selma: Uma Luta pela Liberdade), acompanhando a narrativa de John Lewis, e seu comprometimento com a justiça e a não violência, que o levou sair de uma pequena fazenda no Alabama para os corredores do Congresso norte-americano. De uma sala de aula segregada para a marcha de Washington. Dos ataques da polícia ao recebimento da Medalha Presidencial da Liberdade, pelas mãos do primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama.

A Marcha foi a primeira HQ a ganhar o National Book Award, um dos mais importantes prêmios literários dos Estados Unidos, que geralmente só premia livros. O Volume três levou na categoria Literatura Juvenil no ano de 2015.

A Marcha – John Lewis e Martin Luther King em uma história de luta pela liberdade – Livro 1 tem formato 17 x 24 cm, 128 páginas, capa cartonada e está com um desconto de 15% no site da Amazon Brasil.

A Editora Nemo pretende lançar os outros volumes por aqui também. Esperamos ansiosos. Fiquem ligados na Torre de Vigilância para futuros detalhes.

 

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Série francesa Os Diários de Amora chega ao Brasil pela Editora Nemo

Série juvenil de grande sucesso no mercado francês, Os Diários de Amora também marca o retorno da publicação de álbuns franco-belgas serializados trazidos ao Brasil pela Editora Nemo. Confira detalhes abaixo.

Amora sonha em ser escritora, e seu assunto favorito são as pessoas, principalmente os adultos – ela adora observá-los para tentar adivinhar seus segredos, como Michel… Todos os domingos ela observa o homem se embrenhar na floresta, desaparecendo por todo o dia. O que ele faz durante todo esse tempo? E por que parece tão triste quando retorna? Acompanhe Amora até o coração da floresta em sua primeira investigação.

Os Diários de Amora (originalmente Les carnets de Cerise) teve início em 2012 e possui até o momento cinco álbuns lançados, tendo sido o quinto publicado em 2017. A série foi criada por Joris Chamblain e Aurélie Neyret e sua casa editorial no mercado francês é a Soleil. A tradução da edição nacional é de Fernando Scheibe.

Confira abaixo um preview do encadernado:

 

Os Diários de Amora Vol.1: O Zoológico Petrificado possui 80 páginas encadernadas em formato 28,4 x 21,4 cm com acabamento brochura e preço de capa R$ 49,80. Compre sua edição com 33% de desconto clicando aqui.

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Uma Irmã, do francês Bastien Vivès, chega ao Brasil pela Nemo

O premiado autor francês Bastien Vivès retorna às livrarias de todo o Brasil com o lançamento de Uma Irmã pela Editora Nemo. Confira detalhes abaixo.

Ao ter suas férias pacatas transformadas por Hélène, o jovem Antoine passa a viver os dias mais intensos de sua vida, repletos de emoção e receios. De forma sutil, ainda que forte, ele vai descobrindo um universo feminino tão gracioso quanto perturbador. E o que poderia ser apenas mais uma história de verão, se transforma, pelas mãos de Vivés, em uma narrativa apaixonante. Um conto delicado e sensual sobre o despertar de um adolescente que provoca um turbilhão de sentimentos.

Bastien Vivès nasceu em 11 de fevereiro de 1984 e ficou conhecido pelas graphic novels O gosto do cloro (publicada no Brasil pela LeYa) e, posteriormente, por Amitié étroite (Amizade). Graduou-se em Animação pela Gobelins após estudar três anos de Design Gráfico. Iniciou sua carreira em uma oficina de quadrinhos que ajudou a fundar em Paris. Desde então publicou diversos trabalhos, vários deles aclamados pela crítica. Um desenhista em plena evolução, Vivès é um dos principais nomes dos quadrinhos contemporâneos.

O famoso jornal francês Le Monde, comentando sobre Uma Irmã, disse: “Às vezes cru. Também muito sensual. Mas nunca falso, nem no tom nem no desenho, quase minimalista, próximo à abstração.” Vivès já recebeu os prêmios AngoulêmeGrand prix de la critique.

Uma Irmã possui 214 páginas encadernadas em acabamento brochura e formato 24 x 17 cm. O preço sugerido é R$ 47,90. Para garantir sua edição na pré-venda com 17% de desconto, clique aqui.