Após três anos de hiato e dois especiais lançados, Euphoria retornou em 2022 com uma segunda temporada. Criada por Sam Levinson, produzida pela HBO e co-produzida pela A24, a série de drama adolescente conquistou milhares de fãs devido a sua qualidade técnica, história fatal misturada com humor negro e as atuações do elenco principal, como Zendaya no papel de Rue, e Hunter Schafer interpretando Jules.
O primeiro ano do seriado puxa o telespectador para dentro da sua trama celestial, sendo uma temporada surpreendentemente imersiva e espetacular, transformando-se como uma das melhores produções televisivas de todos os tempos. Pouco tempo depois, a série foi renovada para a sua segunda temporada, causando uma verdadeira euforia naqueles que acompanharam de perto a jornada de Rules como um casal (além dos outros dramas envoltos nas construções dos personagens secundários).
Entretanto, lamentavelmente, o segundo ano é assustadoramente inferior em comparação ao seu antecessor. Mesmo com uma direção impecável partindo de Levinson e desenvolvimentos razoavelmente satisfatórios, a segunda temporada de Euphoria é decepcionante.
Zendaya como Rue.
O retorno de Euphoria explora novos lados dos personagens que não tiveram muito destaque na primeira temporada e ainda revela o destino de Rue. Em meio a caminhos entrelaçados, Rue precisa encontrar esperança enquanto tenta equilibrar as pressões do amor, perda e vício.
Afortunadamente, o primeiro capítulo começa com uma grande tensão entre Nate Jacobs (Jacob Elordi), Cassie (Sydney Sweeney), Maddy Perez (Alexa Demie) e Fezco (Angus Cloud), que serve como desenvolvimento e estudo mais aprofundado de personagens até o quarto episódios. Por outro lado, temas importantes e sem soluções introduzidos na primeira temporada são deixados de escanteio e mal aproveitados, tendo resoluções apressadas e pouco atrativas devido aos anseios iniciais de Nate, Cassie, Maddy e Fezco. Mas porque ‘’iniciais’’? Simples, pois os fatores servem apenas para deixar uma falsa adrenalina no telespectador, que posteriormente, também são deixados de lado.
Zendaya continua fantástica como Rue, entregando mais uma vez, uma atuação de respeito. Os seus problemas com entorpecentes (e familiares) são levemente agravados, dado que a trama corrida e desleixada se preocupa mais em ‘’ir pra lá e pra cá’’ com sujeitos menos atrativos, do que se focar em personas interessantes de verdade. Rue ainda é a protagonista, já que é ela quem narra os eventos de Euphoria; porém, possui um desenvolvimento mais raso. Há momentos de positivamente estressantes para a adolescente, mas são solucionados de uma forma indecente.
Se Rue, a personagem mais importante de Euphoria, foi tratada porcamente por Sam Levinson no novo ano, Jules (Hunter Schafer) recebe um zelo ainda pior. Transformada em uma ‘’figurante’’ de luxo, Jules parece acompanhar as ações de seus colegas, sem ter uma identidade própria. A narrativa da garota construída anteriormente não é aproveitada, tirando todo o seu brilho. Por sorte, Hunter segue interpretando Jules com excelência, e graças a atriz, ela não caiu no esquecimento.
O relacionamento de Rue e Jules também não convence. Nos primeiros episódios, ele é bem desenvolvido e podemos ter uma noção de como o casal está se comportando após três anos. Mas posteriormente, é melancólico ver as decisões de Sam perante as colegiais. A introdução de Elliot (Dominic Fike) é razoavelmente boa, mesmo ele sendo um personagem chato. Contudo, quando o garoto decide se ‘’intrometer’’ na relação das personagens principais, resultando em um triângulo amoroso, a mitologia de Rue e Jules perde o seu vigor, acabando em uma convivência amorosa desinteressante.
Através de Nate, Cassie e Mady, a segunda temporada de Euphoria constrói uma bomba relógio imensurável, que quando estoura, não satisfaz as expectativas. Por outro lado, é nítido que estes elementos tiveram um tratamento muito mais abrangente e cuidadoso em relação ao primeiro ano, como por exemplo, o aprofundamento nos problemas familiares de Nate Jacobs (mais especificamente com seu pai, vivido por Eric Dane), que previamente eram vistos com muitos mistérios.
Quanto a Cassie, o progresso em sua depressão é condizente com devaneios mentais que assolam uma grande parte dos adolescentes, que muitas vezes veem refúgio em um namoro abusivo e sem amor para as suas carências psicológicas ou até mesmo, para tentar apagar um trauma da memória.
Já, em relação com Mady Perez, não há nenhuma mudança drástica em sua história. A figura continua com os mesmos traços, não trazendo nenhuma adição interessante para o novo conto de Euphoria.
A trama flerta entre um possível romance entre Fezco e Lexi Howard (Maude Apatow). É satisfatório assistir as interações de ambos, mesmo em segundo plano. Neste caso, é compreensível que o flerte entre eles não foi aprofundado, apenas levemente introduzido, visto que ele deve ser mais explorado no terceiro ano (lançamento previsto para 2024).
Por último, vale mencionar brevemente a participação de Barbie Ferreira como Kat, que foi drasticamente reduzida por Sam Levinson após desentendimentos criativos entre a atriz e o cineasta. Kat foi diminuída para uma personagem enfadonha e desprezível, podendo ser facilmente cortada da obra.
Entediante de acompanhar, é inacreditável como a classe de Euphoria decaiu em relação ao seu primeiro ano. Não adianta ter uma boa direção com uma fotografia bem feita, quando os pontos chaves da produção são jogados de escanteio. Instintivamente, tem-se a impressão de que não se trata da mesma série devido a baixa qualidade da sua história. Todavia, como mencionado no terceiro parágrafo dessa crítica, Euphoria continua sublime em relação à outros seriados, principalmente com os que possuem juventude como alicerce.
Sem medo de falar sobre sexo, drogas e comportamentos problemáticos, tanto a primeira quanto a segunda temporada de Euphoria dão uma aula de como o fim da juventude para o começo da fase adulta se comporta em jovens mais frágeis. Entretanto, a ‘’fábula’’ moderna não consegue se superar, causando uma grande frustração.
Nota: 3/5