Sendo sincero, é um pouco difícil ter que falar sobre o maior vencedor da noite do Oscar 2021, Nomadland, de forma totalmente mais técnica e objetiva. Tanto quanto crítico e espectador, quando vemos um filme, nunca sabemos o que enfrentaremos ou adoraremos; com toda certeza, não estava esperando receber tamanha obra de arte, em um ano tão difícil para o audiovisual.
O longa nos apresenta Fern (interpretada por Frances McDormand, que venceu como ‘Melhor Atriz’ no último domingo), uma mulher que perde seu marido e que deverá sair da casa onde morava, pertencente a empresa, que acabou falindo. Com isso, ela decide buscar esse novo caminho de sua vida vivendo pelas estradas dos Estados Unidos, com os nômades. Assim, começa uma grande jornada que explora lados pessoais e a tão aclamada ideia do “American Way of Life”. Desde empregos na Amazon (coisa na qual o longa foi duramente criticado no país, após polêmicas de como os funcionários são maltratados) e ajuda voluntária com outros andarilhos, vemos cada detalhe dessa vida que parece tão incomum, porém, enorme.
É muito difícil abordar aspecto por aspecto do filme, já que o roteiro, direção e edição foram todos feitos pela aclamada Chloé Zhao. Ela consegue encaixar tão perfeitamente tudo tão bem como se fosse uma simbiose, cada pilar que sustenta a obra é firme e unido, o que é feito aqui é algo singular, coisa que vemos a cada 5, 10 anos no cinema. A direção aqui é tomada com tanta delicadeza, o ritmo do filme é lento – mas necessário. Você consegue sentir na pele, você cria uma empatia com cada personagem apresentado, e até com objetos. A imersão é humana, e tem um porquê disso.
Uma coisa precisa ser dita que pode mudar totalmente sua experiência com o filme, e que surpreende ao ponto de ficar boquiaberto: A maioria das personagens aqui são não-atores. No máximo, somos apresentados 4 ou 5 atores de verdade. Todos os nômades aqui disseram que interpretaram a si mesmos, é por isso que quando assistimos, é tão real ao ponto de parecer um documentário. Ali são sentimentos reais, histórias reais, pessoas reais. Até mesmo ‘personagens’ em que o livro se baseia, escrito por Jessica Bruder, aparecem no longa, como o nômade Bob Wells, que ajuda a todos os seus companheiros de estrada a conseguirem se encaixar nessa vida. Mostra os motivos das pessoas estarem lá, seja por suas perdas, pelo o fator econômico; mostra que todos lá são um só, são uma família. Frances e todos seus companheiros de estrada dão o seu melhor e são a alma de tudo isso.
A maior esnobação do Oscar, com todas suas letras em maiúsculo, devem se a fotografia dessa obra não ter ganho. O empenho de Joshua James Richards é de tirar o fôlego, cheio de close-ups, planos abertos, e independente do enquadramento, vemos a emoção e sentimento carregados aqui. A colorização também é outro ponto magnifico, desde cenas que passam solidão, até o calor da felicidade e descoberta. Um ponto também muito interessante de ser levantado, é que a diretora levou a as não-atrizes do filme, Linda May e Charlene Swankie, para o festival. E Frances, ao ganhar sua estatueta, uivou como um lobo em homenagem ao engenheiro de som, Michael Wolf Snyder, que faleceu no último mês de março.
E com sua trilha-sonora composta por Ludovico Einaudi (Intocáveis, Samba) é também um ponto que cria uma atmosfera que dialoga com o que a protagonista sente. Com 11 faixas e tendo um foque enorme em seu piano, e sua parte em músicas autorais. É impossível não se apaixonar, se emocionar e se identificar.
Vencedor de três Oscar’s, melhor filme pelo BAFTA, Globo de Ouro, Critic’s Choice Awards e outros inúmeros prêmios, Nomadland é um filme que você precisa ver pelo menos uma vez em sua vida. É uma experiência que apenas o cinema consegue transmitir, é uma montanha russa de sentimentos e descobertas.
“Não há despedidas finais. Vejo você na estrada. ”
Nota final: 5/5 – Diamante