“A parte mais surreal em escrever Venom é que todas as perguntas que eu tinha quando era criança, seriam eventualmente respondidas. E o estranho é que todas seriam respondidas por mim.” – Donny Cates sobre seu run pelo simbionte. Em maio deste ano, Marvel começou um novo relaunch chamado Fresh Start. Semelhante ao Rebirth da DC Comics, a iniciativa prometia trazer os personagens de volta ao básico. Entretanto, alguns títulos fugiram dessa linha, tais como Venom. Um quadrinho o qual vem chamando a atenção de muitos leitores lá fora. Por quê?
Desde sua criação, na década de 90, o personagem sempre esteve ligado ao Homem-Aranha, de alguma forma. Não importava se ele tivesse transformado em Protetor Letal, Agente ou Guardião da Galáxia. O Amigão da Vizinhança sempre está lá. Entretanto, Venom é um personagem muito popular e muito interessante. Talvez fosse a hora dele ser algo a mais do que um derivado da franquia do Teioso. Ele tem sua própria revista mensal há anos, era uma questão de tempo até alguém começar a criar uma mitologia própria para o simbionte. Pois é, era uma questão de tempo até Donny Cates falar com os editores da Marvel: “Que tal contarmos a origem dos simbiontes?” Graças a Odin – e outros deuses – eles disseram sim.
No primeiro arco da revista, chamado Rex, acompanhamos Venom (Eddie Brock) tendo pesadelos sobre outros simbiontes na Terra, durante a Idade Medieval. O que os leva a um militar chamado Rex, revelando ao leitor a existência de hospedeiros militares, antes de Flash Thompson, o Agente Venom. Para finalizar, o Deus dos Simbiontes está vindo para a Terra por motivos desconhecidos. Sim, esta é a premissa da primeira história do título.
O roteiro de Cates condensa perfeitamente todos esses elementos, trazendo um verdadeiro épico de ação e horror. É notável as influências do roteirista em Lovecraft, Stephen King e até mesmo, George Miller. Eddie Brock aqui, é em suma, o Max de Mad Max. Um homem incompleto, impossível de ser definido, sobrevivendo a todo tempo, servindo como uma espécie de espectador em um show de loucuras.
Percebe-se como o autor tem certo apreço pelas obras noventistas, não economizando nos absurdos (o simbionte tem novos poderes) ocorridos nos momentos de ação, mas ao mesmo tempo, encontrando um equilíbrio entre o escapismo e o autoral. Algo bem raro no mercado de quadrinhos mainstream atual.
Os desenhos de Ryan Stegman, a arte-final de JP Mayer e as cores de Frank Martin são uma combinação tão perfeita quanto simbiontes e humanos. Enquanto os traços evocam grandes desenhistas como Todd Mcfarlane, as cores se destacam pelo contraste entre os fracos feixes de luz e a plena escuridão contínua. Há uma presença forte de psicodelia, dando sentido literal ao nome do personagem. Há diversas viagens a serem feitas nesse quadrinho, desde as mais lúcidas até as mais alucinógenas.
Por fim, Cates inventa uma nova e incrível origem para os simbiontes, revelando que o planeta Klyntar, nada mais é do que uma prisão. Não apenas isso, ele cria um deus para eles, chamado Knull, o qual provavelmente, será um antagonista recorrente nas próximas edições.
Através de um ritmo frenético e aterrorizante composto pelos elementos mais diversos e improváveis de serem condensados de forma tão coesa, Venom é, surpreendentemente, o melhor título publicado pela Marvel Comics, no momento o qual eu vos escrevo.
Estamos diante de um run o qual pode vir a se tornar tão importante quanto Jason Aaron em Thor, ou Brian Bendis em Vingadores.