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Resenha: Guarani – A Terra sem mal

                   “Prepare-se Duprat… o front não está muito longe.”

A Guerra do Paraguai foi o maior conflito armado internacional que já aconteceu na América Latina. A batalha travada entre o Paraguai, liderado pelo Marechal Solano López, contra a Tríplice Aliança, composta pelo Império do Brasil, Argentina e Uruguai, iniciou por diversos motivos diferentes (mas que todos ou a maioria, envolve influência do governo Britânico) e durou cinco anos.

A Guerra teve seu final com a captura e assassinato do Marechal López em Primeiro de Março de 1870, mas o grande último embate foi a Batalha de Campo Grande, também conhecida como “Batalha de Los Niños” ou “Acosta Ñu” pelos paraguaios, em 16 de agosto de 1869, a partir dessa data, ela tornou-se o Dia da Criança naquele país. Essa batalha foi a última tentativa desesperada de defesa do Paraguai, onde ele recrutou de forma forçada, crianças de no máximo 15 anos contra as forças de 20 000 homens da Tríplice Aliança, entre as crianças, vários jovens índios da tribo Guarani.

É esse é o grande ponto de Guarani – Terra sem mal dos argentinos Diego Agrimbau (roteiro) e Gabriel Ippóliti (arte), publicada aqui no Brasil pela editora Comix Zone em mais um belo trabalho editorial que se tornou característica de suas publicações.

Na graphic novel o leitor segue o fotografo francês Pierre Duprat, que vem para a América Latina para realizar um ensaio fotográfico com as índias da tribo Guarani, e, inevitavelmente, ele está testemunhando e convivendo com a guerra, suas mazelas e ideologias. Pois Guarani não trata somente do horror e miséria que uma guerra traz em sua bagagem. Durante a sua saga pela batalha, Duprat convive com pessoas que defende cada lado, e como os dias atuais, discutem em exaustão para justificar cada tiro e morte. Convive com as vitórias mortais da selva em cima de soldados de ambos exércitos, o que acontece com desertores, com pessoas recrutadas forçadamente para a guerra e como a guerra atingiu os mais antigos dessas terras: os indígenas.

E os únicos momentos belos e de respiro que existem, são exatamente quando Duprat finalmente encontra os Guaranis e convive com ele, mesmo por pouco tempo. Ali testemunhamos costumes, algumas tradições, o outro lado da selva com beleza e ternura. Algo que nos dimensiona um pouco de como eram os tempos antes do homem branco chegar com sua maquina de morte e guerra. E assim segue até o recrutamento forçado de homens e crianças da tribo para a guerra.

O roteiro de Diego Agrimbau conduz como telespectadores desde a chegada de Duprat, fazendo-nos escorregar por dentro de um conflito que, apesar da proximidade geográfica, não parece ser nosso. Mas a arte de Gabriel Ippóliti, com cores… digamos… que “não vibram”… mas que impressiona como deveria ser uma guerra, dão um tom importante demais para a ambientar o leitor dentro da história. O quadro dos corpos boiando mescla um horror que está aproximando e sentimos uma melancolia arrependida do personagem principal como fosse algo do tipo “onde eu fui me meter?”. E esse sentimento que a arte proporciona é um dos grandes diferenciais da obra.

Uma grande importância de Guarani – A terra sem mal é ser um registro histórico de uma parte da história do Brasil que muitas vezes é renegada em prol da glória do “nosso” exército. Massacrar crianças com armas e cavalos, não é nada digno de nota e grandes feitos. Mas muitos usam essa guerra para falar de libertação do povo paraguaio das mãos de López, que foi o estopim para a abolição da escravidão e que o primeiro vento do surgimento da Republica contra o Império. Mas o massacre de crianças, muitas delas indígenas seguem negligenciado por grande parte de historiadores. Como acontece até hoje em dia.

O Brasil por exemplo, segundo dados divulgados pelo Atlas da Violência no dia 31 de agosto desse ano, as taxas de mortes violentas de indígenas aumentou 21,6%, nos municípios que têm terras indígenas apresentaram um crescimento mais acentuado na última década. Muito fruto de invasões, garimpo ilegal e uma série de ilícitos que vêm ocorrendo.

O mais irônico (se é que existe alguma coisa irônica em uma guerra) é que as duas cabeças pensantes mais poderosas, Solano López pelo Paraguai, e o D. Pedro II pelo Brasil, assumiram suas posições quando muito jovens. Solano López foi nomeado general-de-brigada aos 18 anos de idade. Já D. Pedro II tornou-se Imperador quando tinha 5 anos, depois de seu pai abdicar o trono, e assumiu para valer ao completar 15 anos. Ambos iniciaram jovens e se tornaram expoentes, Solano é visto até hoje como herói nacional no Paraguai, enquanto seu rival é visto como a pessoa que não descansou até capturar, o para ele, sanguinolento ditador paraguaio.

Mas como é apresentado em Guarani – Terra sem mal, o grande vencedor dessa guerra não teve honra e a herança deixada foi um país devastado. Apresentar esses fatos, muitas vezes tomando um ou outro lado, mas sabendo que o horror da guerra é o único vitorioso aqui.

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A Importante HQ Guarani -A Terra Sem Mal, Chega ao Brasil pela Comix Zone

A Editora Comix Zone, não é de hoje, vem realizando um importante resgate histórico nos quadrinhos. Está sendo assim com as obras Capa Preta e Mundo Pet, ambos do Lourenço Mutarelli e com obras como Paracuellos de Carlos Giménez. E agora a editora traz um importante, e sangrento, evento da história sul americana que é muito… digamos… deixada de lado ou esquecida de propósito, por muitos brasileiros: Batalha de Acosta Ñu, imortalizada na HQ Guarani -A Terra Sem Mal dos argentinos Diego Agrimbau (roteiro) e Gabriel Ippóliti (arte).

Batalha de Acosta Ñu, que em 2019 completou 150 anos, aconteceu quase no apagar das luzes da Guerra do Paraguai, quando o Paraguai enfrentou os Exércitos do Brasil, da Argentina e do Uruguai. Que você aprende na escola como Tríplice Aliança. Durante os cinco anos de conflito estima-se que foram mortos entre 200 mil e 300 mil paraguaios, 80% eram homens.

Foi quando o governo Paraguaio recrutou crianças na idade de 6 até 14 anos e os enviaram para o front de batalha. Existem relatos de crianças desesperadas no campo de batalha, agarrando nas pernas dos soldados brasileiros, chorando pedindo que não os matassem e eram degoladas no ato. Em O Guarani – A Terra Sem Mal, A Batalha de Acosta Ñu foi testemunhada pelo fotografo francês Pierre Duprat, que veio para o continente com o pretexto da etnografia, suas fotos se destinam ao público parisiense ávido pelas belezas nativas… mas o exotismo e a aventura darão rapidamente lugar ao horror.  E é em cima desse olhar que a trama de se desenrola.

Guarani – A Terra Sem Mal em acabamento de luxo, com formato grande, capa dura com verniz localizado, 128 páginas em cores, impressas em papel couché de alta gramatura, além de um marcador de páginas exclusivo. A tradução é do Thiago Ferreira.

A edição já se encontra em pré-venda na Amazon com um desconto de 30%.