Categorias
Música Torre Entrevista

Torre Entrevista: Jimmy London

Jimmy London fez a fama cantando sobre bebedeiras, brigas e roubos de caminhões em durante quase mais de vinte anos em frente ao Matanza. O seu jeito único de cantar e sua presença de palco criou uma legião de fãs a cantar as histórias do bebum acabado. Com shows históricos e performances destruidoras a banda foi uma das mais importantes nas últimas décadas. Por isso que muitos lamentaram o fim da banda.

Mas nunca é o fim para Jimmy London.

Foto: Felipe Diniz

O vocalista se uniu a banda carioca Rats, que ele já tinha produzido o primeiro disco, e formou a interessante Jimmy & Rats, onde mistura Irish, Folk, um tanto de Country com o bom e velho punk rock. A banda recentemente lançou o excelente álbum Só Há Um Caminho a Seguir.

Em meio a tudo isso ele ainda se uniu com dream team do metal brasileiro como Felipe Andreoli (Angra) no baixo, Antonio Araújo (Korzus) na guitarra e Amilcar Christófaro (Torture Squad) na bateria e assim foi formado o Matanza Ritual, onde pretende reencontrar com o público da antiga banda e no horizonte tem um disco de inéditas.

E ainda Jimmy ainda é ator e apresentador! Participou de produções como a minissérie Dois Irmãos e na novela Deus Salve o Rei, ambas na TV Globo, participou do filme A Viagem de Pedro (2018) e da série Cidade Invisível da Netflix. A próxima produção será O Anjo de Hamburgo do diretor Jayme Monjardim na Globoplay. Na TV ele ainda apresentou o Pimp My Rider Brasil, na antiga MTV e atualmente está de frente ao Rock Estúdio no Canal Bis.

Aqui batemos um papo sobre tudo isso e mais um pouco. Segura aí!

1 – Uma vez você postou no seu Instagram que estava lendo Watchmen. Você curte quadrinhos e está lendo o que atualmente?

Eu me amarro muito em quadrinhos. Quando era moleque, deixava de comer no recreio pra poder comprar duas revistinhas na hora de voltar pra casa. Quando as revistas mudaram de formato, o preço ficou salgado e eu me afastei, mas continuo achando esse tipo de literatura um tesão. Algum dia eu volto a ler com frequência, com certeza. Hoje em dia a vida tá corrida pacas e os livros tem preferencia, mas também entendo que as duas artes dialogam demais. Quem já leu um livro do jack London, com certeza sabe do que tô falando…

2 – Recentemente o Jimmy & Rats lançou o seu primeiro álbum de estúdio. A banda já tinha feito alguns shows, gravados algumas músicas, mas esse é o primeiro trabalho… digamos… completo. Esse tempo todo que passou até culminar no disco, rolou um bom caminho. Esse caminho foi necessário para muitos aspectos? Como por exemplo “afinar” mais a banda em um só ideal?

Bom, eu já tenho uma historia longa com o Rats. Ajudei o Fernando com algumas composições, produzi o primeiro disco deles, então sempre me senti muito confortável com a banda. Mas realmente, na hora em que começamos a trabalhar juntos foi necessário um ajuste de expectativas e no modo de fazer as coisas.

Eu tenho um jeito muito “guerrilha” de fazer as coisas, que se adaptava muito bem a realidade do Matanza, mas no J&R os ritmos são outros e os seres humanos são ímpares. Foi preciso ter um freio de arrumação pra gente conseguir andar em passos sincronizados, mas foi ótimo pra mim também. Sempre bom lembrar que o mundo não funciona de um jeito só e que sempre há uma opção, em qualquer cenário que seja.

Jimmy & Rats

3- É muito visível quanto o Jimmy & Rats de completa e te satisfaz. Vi umas entrevistas suas que você está bem satisfeito e orgulhoso do trampo. Ele foi uma evolução musical para a sua carreira?

Sem duvida alguma. São novas vozes, novos instrumentos e um fim a uma “cela auto-imposta” do Matanza. A verdade é que deixávamos nos fazer reféns do estilo Matanza e a inovação tava ficando de lado. Além disso, meu som mesmo começa com Country, Irish, Folk, Bluegrass, e é exatamente isso que fazemos no J&R.

4 – O Jimmy & Rats tem uma influência de Flogging Molly muito forte. E se olharmos para a música nacional, não temos muitos trabalhos assim, apesar de termos um bom público para esse estilo. Pode-se dizer que esse caminho do Jimmy & Rats é algo novo por aqui?

Não. Aqui no Brasil nós temos o Terra Celta, Confraria e mais uma porrada de banda fazendo essa mistura de Irish e Celta aqui, nos curtimos muito isso mesmo. Talvez nos sejamos a banda que mais mistura isso com o punk rock, mas também não estamos inventando nada. Mas estamos definitivamente colocando nosso tempero nessa mistura, e fico feliz que isso seja percebido como algo único.

Capa do novo álbum

5 – Fiquei sabendo que o Matanza Ritual está com novas músicas engatilhadas e que um álbum de inéditas será possível no futuro. O quanto é importante para a nova banda ter um disco com músicas inéditas nesse “universo” do Matanza? É uma nova identidade ou uma repaginada do que já foi feito?

Na verdade, ainda não sabemos exatamente qual será o futuro do Ritual. O disco tá nascendo porque ele nos obrigou a ser escrito (risos).. As músicas são uma mistura completamente insana das influencias dos quatro integrantes, então acho seguro dizer que vai surpreender a maioria das pessoas.

Obvio que tem sangue de Matanza, mas também vem cheio de korzus, Angra, Torture e mais uma porrrraaaada de coisa. Melhor esperarem pra tirar suas próprias conclusões.

6 – E como foi essa montagem do Matanza Ritual? Foi algo que aconteceu naturalmente ou você chegou a escolher do tipo: “Quero esse aqui no baixo. Esse aqui eu quero na guitarra…”?

Os parâmetros eram simples: tem que tocar pra caralho e ser um puta profissional e gente finíssima. Era uma escolha pra fazer com que fosse, antes de mais nada, um enorme prazer pra se excursionar. Então não houve dúvidas, pq os três caras a bordo são dentre os melhores músicos do Brasil e do mundo, e de uma elegância ímpar.

7 – Eu acredito que a pessoa passe por uma evolução seja na vida pessoal e/ou na vida profissional. O Jimmy de hoje não é o mesmo dos tempos do Matanza. E não será o mesmo de dez anos para frente. Como essa evolução tem ajudado tanto no Rats e para voltar com algo como o Matanza Ritual?

Bom, que bom que eu evolui, né? comecei o Matanza com 20 anos, agora tô prestes a fazer 45 (essa entrevista foi realizada no dia 15/07, um dia antes do aniversário do Jimmy). Se nada tivesse mudado eu teria sérios problemas… eu acho que, hoje em dia, tenho mais clareza sobre o que quero alcançar e mais capacidade de trabalho. Acho que meu discurso também ta mais limpo, com menos interferência externa e isso me ajuda muito na comunicação com o público.

E como também tô fazendo várias coisas ao mesmo tempo, isso ajuda muito a não patinar, quando algo para de andar eu simplesmente mudo o que tô fazendo e volto depois. Costuma dar certo.

O Matanza Ritual, da esquerda para a direita: Felipe Andreoli, Amilcar Christófaro, Jimmy e Antonio Araújo. A banda fará shows em 2022!

8 – Você uma vez falou que sente falta do público do Matanza, (como público do Matanza, também digo que sentimos falta), e como você acha que vai encontrar esse público? Você acha que ele chegou a se renovar?

Não sei se chegou a se renovar ainda, nao tem nem três anos do fim da banda, mas acho que essa galera vai ficar feliz quando sentir a energia que tá guardada dentro de mim pra fazer esses shows do Ritual. Como também tivemos essa sinistra pandemia, eu tô acumulando quase dois anos em casa sem tocar. Imagina quando eu puder colocar pra fora? sai de baixo, mermão…

9 – E a carreira de ator, bicho? Quem viu o Jimmy lá no início do Matanza, nunca imaginaria ver você como ator em novelas. Como está sendo esse rolê? O próximo trabalho será O Anjo de Hamburgo do Jayme Monjardim, que tem uma forte história e uma certa ligação sua por causa de uma parente próxima.

Atuar é tão divertido quando fazer shows, e isso é uma afirmação bem radical. Tô apaixonado por essa nova atividade onde os mais mínimos detalhes ficam enormes a tela e meus instintos precisam ser utilizados ao máximo. Vou ate me conter, ou acabaria falando demais sobre isso. Só digo que tá foda, uma diversão gigantesca e uma honra poder estar fazendo projetos tão importantes.

Sobre a segunda guerra, acho que é um dos capítulos mais terríveis da nossa humanidade. Eu sou judeu e minha família passou em primeira mão vários desses horrores. É essencial falar sempre sobre isso pra que não caia no esquecimento e pra que as pessoas não comecem a usar estapafurdiamente o holocausto como certos políticos tem usado. A humanidade tem capítulos drásticos: os massacres, escravidões, guerras, extermínios…

Não sei como ainda existimos, sendo um ser tao defeituoso e capaz de tanta maldade.

Jessica Córes e Jimmy em cena na série Cidade Invisível.

10 – E qual seria o sonho de atuação? Uma produção que se pudesse gravar seria a cereja no topo do bolo?

Quero muito fazer cinema, algo grandioso. Meu sonho é um puta papel num filmão estilo Senhor dos Anéis. Em breve num cinema perto de você!

11 – O lançamento do disco do Jimmy & Rats agora e as preparações do Matanza Ritual, que terá shows (se tudo der certo com a vacinação) ano que vem, enquanto isso quais os planos do Jimmy para o restante de 2021?

Tudo andando ao mesmo tempo agora! Lives pro J&R, disco pro Ritual, atuando cada vez mais, Rock Estúdio no Canal Bis voltando em breve, e mais uma porrada de surpresa vindo ai!

Seguuura, e puuutaquipariu!!!

Categorias
Entretenimento

O valor de revisitar conteúdos já conhecidos

Minha mãe nunca foi muito de ver televisão. Ela assiste novelas e programas de fofoca como todo brasileiro médio faz (mesmo que escondido), mas nada muito além disso. Por isso, fiquei bastante surpreso quando, há uns dois anos, ela me pediu para usar minha conta da Netflix (que eu também não uso, pra ser sincero). Ela queria assistir “Grey’s Anatomy”, por recomendação de algumas amigas.

Quinze temporadas depois, me pego perguntando o que será que ela assistirá em seguida. Afinal, ela tinha criado um hábito de sempre sentar para assistir seu seriado durante a noite. Cheguei a pensar em algumas recomendações, caso ela viesse perguntar por elas, mas a conversa que tive foi inesperada: “Vou reassistir tudo do começo”.

Introdução feita, vamos falar sobre o tema da postagem: Qual o valor de revisitar obras que você já consumiu? Qual o balanço ideal entre consumir novas coisas e buscar de novo aquilo que já foi consumido? Esse é um assunto relevante o bastante para se discutir?

Vou começar respondendo a terceira pergunta: Não, não é. Não acho que precisamos discutir ou criar conversas elaboradas sobre o assunto. Afinal, acaba sendo uma coisa pessoal e de opinião, certo? Isso sim é questão de opinião. Minha mãe não está fazendo mal a ninguém por reassistir Grey’s Anatomy inteiro pela quinta vez (sim, pois é). Então… tudo bem? Se ela prefere assistir a mesma coisa de novo ao invés de conhecer novas séries, pra quê discutir?

Então é isso. Acabou a postagem. Valeu galera, e até a próxima.

Foto de Patrick Dempsey, no papel de "Derek Shepherd", em "Grey's Anatomy"
E foi aí que o problema começou… Aquele sorriso… Aquele maldito sorriso…

Ok, ok. De verdade, acredito que a questão principal é que existem dois grupos bem distintos de pessoas, e elas não costumam entender o outro lado. As pessoas que preferem conteúdo novo não entendem a motivação das pessoas que gostam de revisitar conteúdo já conhecido, e vice-versa.

Como uma pessoa que era membro fanático dos exclusivetes, mas que está começando a virar a casaca, acredito que posso falar pelos dois lados.

Seja lá qual a mídia que você gosta de consumir, pode ter certeza que existe o suficiente para que você possa ficar o resto de sua vida sem precisar repetir uma única vez. Séries? Mais de mil delas, só na Netflix; Filmes? Provavelmente mais de cem mil já foram produzidos; Quadrinhos? Só na sua estante você deve ter uns trinta que não foram lidos ainda; Animes? Só a Crunchyroll oferece mais de 700 títulos no Brasil; Livros? São escritos há literalmente milhares de anos.

Com catálogos tão grandes, e tantas experiências novas podendo ser descobertas, muitas pessoas acabam tendo dificuldade em se imaginar “perdendo tempo” ao rever um filme ou reler um quadrinho que já conhecem. Quem sabe esse livro não é aquele que se tornará o meu novo favorito? Não saberei até terminar de lê-lo!

Por outro lado… Só existe um único favorito. Sempre haverá apenas um “melhor”. Isso significa que todos os outros não serão tão bons assim. As chances dessa coisa nova ser pior do que eu imagino são bem maiores do que a de ser algo melhor do que eu espero, não é? Mais vale ter certeza de que aquilo que estou consumindo é, de fato, bom. Assim, eu maximizo o meu tempo!

Mas, quando temos uma infinidade de possibilidades disponíveis, parece um pouco presunçoso pensar que você já encontrou sua alma gêmea. Claro que você pode ter gostado muito desse livro, mas achar logo de cara que ele é a maior invenção da humanidade desde o filtro de barro é forçar um pouco a barra. Que tal analisar aquilo que você gostou, e tentar entender o motivo de ter gostado daquilo? Você pode acabar encontrando alguns gêneros ou tipos de histórias que te agradam, e pode buscar isso em novas obras.

Dois exemplos disso, um que deu certo, e outro que não deu: Voltamos pra minha mãe. Ela adorou Grey’s Anatomy. Assim, recomendei que procurasse outras séries médicas. Ela assistiu “The Good Doctor: O Bom Doutor” na Globo Play, e o resultado? Ela não gostou. No final das contas, o que fez com que ela gostasse de Grey’s Anatomy não era o fato de ser uma série médica. Logo depois, ela começou a assistir “Lucifer”, na Netflix, e adorou o novo passatempo. Conclusão? Descobrimos que ela está mais interessada em romances no ambiente de trabalho do que em hospitais. E agora, ela tem exorbitantes DOIS seriados que ela gosta de assistir!

Foto de "Tom Ellis" no papel de "Lucifer"
Espere aí… talvez eu esteja começando a notar um padrão nos seriados que minha mãe gosta…

Além disso, tem aquele ditado lá né? “Nunca se banha duas vezes no mesmo rio”. Acho um péssimo ditado pois ele é um dos poucos ditados que requer corolário. Ele diz isso pois na segunda vez, tanto o rio como você já estão mudados, fazendo com que “outra pessoa” esteja se banhando em “outro rio”… Enfim. No contexto, o que quero trazer é que com o passar do tempo, com o ganho de novas experiências e de novas perspectivas, é possível que sua visão de uma obra mude.

Recentemente, tivemos a terceira e última temporada de “My Teen Romantic Comedy SNAFU” (Show que está disponível no Brasil na Crunchyroll e que eu comentei numa postagem). O animê estreou em 2013 e teve sua segunda temporada em 2015, e portanto, julguei mais sábio reassistir tudo antes de embarcar na última jornada. A série é um drama adolescente surpreendentemente realista, e isso é um ponto importante. Em 2013, eu ainda era um adolescente, e estava no segundo ano do ensino médio (mesmo ano que todas as personagens do show, inclusive). Um adolescente assistindo um drama adolescente é uma experiência absurdamente diferente de um adulto (supostamente) assistindo um drama adolescente. Eu revi o show e parecia que eu estava vendo uma coisa completamente nova. Minha visão sobre tudo mudou de uma forma drástica.

Foi uma mudança tão grande que me animou a dar uma nova chance para coisas que eu já tinha visto. “Será que meus favoritos ainda são tão bons quanto eu me lembro?” eu meu questionei. Pretendo rever “Angel Beats” em breve, para descobrir.

Imagem do tema de encerramento de "Angel Beats"
Algumas coisas, porém, o tempo não muda. Essa imagem ainda me dá um baque, dez anos depois…

O que tiramos disso tudo é que, sinceramente? Faça o que lhe deixar mais feliz. Às vezes, você simplesmente não está com saco para experimentar coisas novas, e quer o conforto de sentar no seu sofá e ler o mesmo gibi do Batman pela quadragésima vez, pois você sabe que aquele socão que ele dá na página 37 é muito satisfatório. E às vezes, você não aguenta mais assistir Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, que parece passar sete vezes ao dia na TV fechada, e clica em algo aleatório na Netflix. Dê uma chance para ambos.