Convenhamos, dentre as principais produções clássicas de horror, Hellraiser é a menos popular e quiçá, a mais problemática (batalhando o posto junto da saga O Massacre da Serra Elétrica).
Sua popularidade não veio através de histórias marcantes, mas sim, por meio do famoso Padre (apelidado carinhosamente pelos fãs como Pinhead); o cenobita central da série que foi majestosamente interpretado por Doug Bradley. Dada essa informação, a Walt Disney Company através da 20th Century Studios e HULU, decidiu dar mais uma chance à Hellraiser, produzindo um filme que seguisse a risca o material original criado por Clive Barker.
Hellraiser (2022) é uma reimaginação aos olhos do diretor David Bruckner do filme de 1987. Nesta versão, uma jovem deve enfrentar as forças sádicas e sobrenaturais por trás de uma enigmática caixa de quebra-cabeças responsável pelo desaparecimento de seu irmão.
Em síntese, Hellraiser não só agrada, como faz os fãs terem esperanças e otimismo com a saga novamente. David Bruckner, diretor da obra que já comandou curtas de V/H/S, V/H/S 2, V/H/S 94 e foi o responsável pela direção de A Casa Sombria, soube conduzir a história para um desfecho satisfatório, além de criar uma ambientação propícia e sombria para que os Cenobitas pudessem se ”divertir” sem pudor.
Todavia, o roteiro feito por Ben Collins, Luke Piotrowski e David S. Goyer deixa a desejar em diversos pontos, dado que, ao invés de se aprofundar de cabeça na mitologia de Hellraiser, prefere dar atenção a subtramas monótonas envolvendo os problemas pessoais da protagonista; mesmo que isto seja feito em poucos momentos da produção.
Quando Jamie Clayton foi anunciada como o Padre, muitos ”fãs” da série ficaram preocupados, dado que, para muitos, Pinhead é um homem. Entretanto, não há escolha que parecesse mais assertiva do que colocar Jamie no papel.
Esta versão do Padre supera a original, uma vez que, além de ser mais ameaçador, sua paz e tranquilidade da a sensação de que mesmo em momentos tensos, ele sempre vai se sobressair.
Além disso, este novo Pinhead é mais fiel aos livros de Clive Barker, afinal, aqui ele é uma criatura andrógena que mesmo sabendo que sua intérprete é uma mulher, fica inidentificável qual é o seu sexo.
Propositalmente, o filme não faz questão nenhuma de que o telespectador se sinta atraído pelos personagens humanos. Suas histórias são vazias e desinteressantes, sendo mais do mesmo quando comparado com outras obras de terror.
Por outro lado, ele não tem vergonha de se assumir como um longa-metragem gótico que utiliza elementos sombrios ao seu favor, no qual vai desde sua fotografia escura e suja, até objetos do cenário.
O gore está presente e é forte, mas não como deveria, afinal, estamos falando sobre um universo onde a dor e prazer são a mesma coisa (e diga-se de passagem, há mais dor do que prazer).
David Bruckner e sua equipe acertaram em mostrar os Cenobitas de forma menos caricata e mais imponente. Com visuais respeitosos, as criaturas dão um show quando aparecem, sendo sádicas e minuciosamente inteligentes na hora de caçar suas vítimas.
Mesmo sendo um ótimo recomeço para a franquia e expandindo as facetas do cubo de Lemarchand, Hellraiser permanece tímido quando o assunto é aprofundar sua mitologia. No entanto, ele conquista e deixa um gosto de ”quero mais”.
NOTA: 3,5/5