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“In The Land of Leadale” e os desafios da inocência

Animê é uma mídia com uma grande flexibilidade. Isso permite que você tenha produções de sucesso em qualquer tipo de gênero ou temática que você possa pensar, com grandiosas cenas de ação ou elaboradas coreografias. Mas, às vezes, tudo que você precisa é o mínimo necessário. E se o intuito da obra e do espectador se alinharem, as coisas funcionam.

Baseado numa light novel de mesmo nome, “In the Land of Leadale” é uma animação recém-concluída que se encaixa exatamente nessa descrição. Desde o início, o animê já te deixa claro o que esperar dele: Mais um exemplo do popular sub-gênero de isekai, onde o objetivo é buscar uma vida tranquila e aconchegante que não foi possível no mundo real. 

Segue abaixo a sinopse e o trailer da série, ambos fornecidos pela Crunchyroll:

“Após um terrível acidente, Keina Kagami fica presa ao sistema de suporte de vida, e sua única distração é Leadale, um VRMMORPG. Um dia, seu suporte de vida é desligado, e Keina falece… mas acorda encarnada dentro de Leadale, 200 anos no futuro. Ela agora é a meia-elfa Cayna, detentora de raras habilidades e atributos apelões. Embora não conheça nenhum dos habitantes desta nova era do mundo, dentre eles aparentemente estão três de seus ‘filhos’?! Uma aventura tranquila cheia de risadas e lágrimas!”

Como já comentado várias vezes, “isekais” já estão saturados, de forma que é preciso quebrar os moldes e tentar conquistar o público com alguma coisa fora do comum. O que “Leadale” faz para combater o “mais do mesmo” das histórias de reencarnação é inverter a situação etária da protagonista. Cayna é uma criança no corpo de uma adulta. Além de ser diferente do que costumamos ver (já perdi a conta de quantos adultos em corpos de criança eu já vi…), isso acaba sendo a principal ferramenta para o charme do animê: A inocência e inexperiência.

Quantos de nós já não passamos por uma situação parecida? Bem, claro que não estou falando sobre reencarnar num jogo online (embora, caso você tenha passado por isso, me conte sobre nos comentários), mas sobre repentinamente perceber que se é um adulto.

Existe uma certa faixa de idade onde a sociedade espera que você seja um adulto pleno e funcional, ciente de tudo que faz e capaz de lidar com todas as responsabilidades atreladas à sua posição social. E muitas pessoas passam por esse momento sem realmente estarem preparadas para isso. É uma situação de ainda se sentir um adolescente num corpo de adulto, e tendo que se virar para aprender a viver, ou fazer o melhor que pode para fingir que sabe o que está fazendo.

Captura de tela do episódio 12 de "In The Land of Leadale"
Cayna passa por várias ressacas devido a sua situação. Algumas são morais, já outras… um pouco mais literais. (Reprodução: Crunchyroll)

O animê nos mostra uma Cayna que sofre exatamente desse mesmo problema, mas com alguns agravantes, que fazem com que a situação dela seja bem mais intrigante e empolgante de acompanhar. Tendo passado praticamente a vida inteira no hospital, a garota possui pouco convívio social, uma das ferramentas mais úteis na hora de driblar a inexperiência. Para piorar (ou melhorar), a personagem dela existe como uma espécie de mentora, uma pessoa que, em teoria, deveria ser profundamente sábia. O contraste entre a persona experiente e as ações inocentes da Cayna são o que tornam as interações dela com o mundo tão divertidas, fazendo com que as melhores cenas do animê sejam momentos onde estamos apenas acompanhando uma conversa e nada mais acontece.

Ainda bem que momentos calmos e sem movimento são o ápice do show, aliás, pois a produção técnica não é lá essas coisas… Não querendo soar negativo, mas a animação, direção e sonoplastia de “Leadale” são um exercício de perseverança. Tudo parece estar no limite de desmoronar o tempo inteiro, como um baralho de cartas na frente de um ventilador.

Captura de tela do episódio 4 de "in the land of leadale"
Alguns odeiam as tais “cenas de exposição”, mas aqui? As cenas de exposição SÃO o conteúdo! (Reprodução: Crunchyroll)

O mesmo pode ser dito da história. “Leadale” possui um esqueleto de trama, e não se preocupa em tentar preenchê-lo com músculos ou tecidos. Apenas os ossos são necessários para servir de base para o mundo, e a “aventura” se torna a convivência diária e as peripécias que a inocência de Cayna causam ao seu redor.

Isso não é necessariamente um problema, é claro, se você estiver ciente de que a proposta da obra é te entreter com seus diálogos, e não com seus visuais ou roteiro. Mas entendo quem acabe dispensando por não aguentar uma produção desastrosa, ou se importar com a falta de objetivo do show. Faz parte.

Com suas óbvias falhas e concretos acertos, “In the Land of Leadale” acaba como um exemplo razoável de um isekai relaxante, onde é preciso de certa paciência para lidar com todo o resto. Para o redator que vos digita, 3/5 é uma nota mais do que justa para esse animê que não é a última bolacha do pacote, mas certamente não deve ser prontamente dispensado.

In the Land of Leadale” está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, completo em 12 episódios. Ele possui opções em japonês com legendas em português, assim como uma versão dublada, que ainda está sendo lançada.