Dirigido por Chloé Zhao, vencedora do Oscar 2020 pelo seu trabalho incrível em Nomadland, ‘Eternos’ chegou nos cinemas brasileiros dividindo opiniões: enquanto uma parte das críticas deram notas baixas para o filme, outra parte elogiou bastante o que foi visto em tela – apresentando, inclusive, 48% no Rotten Tomatoes e a pior pontuação entre todos os filmes do MCU no CinemaScore.
Por sorte, nem toda crítica deve ser considerada uma verdade universal ao se encarar qualquer filme. Neste caso em específico, mesmo diante das críticas negativas e com ciência das mesmas, decidi conferir e acabei de me deparando com um dos melhores filmes já feitos dentro deste universo cinematográfico.
Nos quadrinhos criados por Jack Kirby durante a década de 70, os Eternos são seres geneticamente modificados criados pelos Celestiais – os deuses espaciais deste universo. Em tese, Kirby se inspirou nos elementos de sua saga da DC, Quarto Mundo, e no famoso livro ‘Eram os Deuses Astronautas?’ lançado em 1968. Além dos Eternos, os celestiais foram responsáveis também por criar os Deviantes: o oposto destes protagonistas, sendo uma raça destrutiva que entra em conflito com estes seres.
A trama do filme segue o que foi exposto nos quadrinhos originais: os Eternos foram criados pelos Celestiais com a missão de proteger a humanidade dos Deviantes e vieram para a Terra cumprir este objetivo. Por sete milhões de anos, os protagonistas presenciaram toda a história mundial e fizeram suas respectivas partes nela, até que optaram por viver tranquilamente.
Sem poder interferir diretamente nos conflitos humanos, aqui usado como uma desculpa para a ausência do grupo na luta contra Thanos durante o arco do Infinito, o grupo segue separado observando os eventos da Terra até que os Deviantes retornam e indicam que o fim do mundo acontecerá dentro de sete dias – dessa forma, os membros devem se unir novamente e evitar o pior para o planeta.
O mais interessante de se observar na obra de Kirby é que, por mais que os protagonistas de seus quadrinhos sejam comparados com os deuses greco-romanos por conta de suas habilidades e seus feitos ao longo da história humana, os mesmos são os equivalentes aos guardiões presentes no cristianismo. O principal ponto é ver como os Celestiais se equiparam ao Deus cristão e suas criações, os Eternos, aos anjos enviados para proteger a humanidade de sua criação que deu errado.
Porque eu disse isso? pois Chloé Zhao consegue manter essa essência intacta enquanto nos apresenta a este novo lado místico e, de certa forma, religioso dentro deste grandioso universo que a Marvel iniciou em 2008. A diretora já concretiza este argumento ao apresentar mudanças na formação da equipe onde, cada membro se apresenta em pares de sexo opostos que veio à Terra em uma arca espacial – semelhante a Arca de Noé nas histórias sagradas.
E falando na Chloé Zhao, sua direção neste filme está surpreendente e faz jus ao seu Oscar na prateleira. A diretora consegue trabalhar bem a trama mesmo que o roteiro envolva inúmeros acontecimentos em tela e diversos personagens para desenvolver. Por mais que um ou outro se torne subdesenvolvido, – com destaque a Dane Whitman, personagem de Kit Harington – todos os principais são bem trabalhados e se entende que a trama tem como foco o relacionamento entre os protagonistas e em abrir a porta para a entrada de Dane Whitman no MCU. Sua direção é tão leve que consegue trabalhar com a devida naturalidade a primeira cena de sexo em um filme da Marvel e todas as representatividades presentes no longa.
Zhao consegue trabalhar o tempo de tela de cada um, desenvolver toda a trama dos Celestiais e introduzir de forma sólida este novo lado para o universo cinematográfico da Marvel. Porém, devido ao excesso de informações e de personagens presentes no roteiro, alguns elementos acabam não sendo trabalhados da forma que deveriam e se tornam furos durante a exibição. Além disso, é tanta coisa acontecendo em tela que algumas passam despercebido aos olhos do telespectador.
Neste ponto, acaba que um dos poucos defeitos do título se encontra dentro do seu roteiro, que se apresenta desarmônico em certos momentos e deixa o telespectador confuso diante de tanta informação exposta em tela. Entretanto, Zhao dirige o seu filme da melhor forma possível e consegue deixar este roteiro o menos irregular nas quase três horas de exibição do longa. E já que estamos falando dos defeitos, outro grande ponto é a edição do longa que também se torna irregular ao transitar sempre entre passado e futuro, além de iniciar o filme com uma abertura que mastiga a principal trama do título – esta que, é exposta em uma simples conversa entre Whitman e Sersi no primeiro ato.
Quanto ao elenco, todos os integrantes apresentam a química necessária para interagirem entre si e desenvolverem suas respectivas tramas e lados dentro da história. Cada membro da equipe apresenta um arco individual que é bem elaborado em tela e, quando todos estão juntos, se complementam de forma perfeita. Não somente em suas relações interpessoais como também nas batalhas que ocorrem ao longo dos anos.
Assim como os efeitos visuais, a fotografia do filme está incrível e cada cena é de tirar o fôlego! Ben Davis consegue enquadrar bem todos os elementos presentes em tela e transmitir uma sensação única ao telespectador que vê eles em tela. Por último, os figurinos do longa podem ser considerados alguns dos melhores já feitos para o MCU.
Então, é bom?
Ao adaptar para as telas toda a premissa cristã desenvolvida por Jack Kirby em seus quadrinhos na década de 70, Chloé Zhao consegue introduzir com maestria este novo lado do universo cinematográfico da Marvel, apresentando um desenvolvimento honesto dos personagens que compõem a equipe, da composição deste lado místico e com uma trama única que consegue escapar por um triz da fórmula Marvel.
Com uma fotografia excepcional, efeitos visuais de tirar o fôlego e um elenco incrível que funciona bem em conjunto nas telas, ‘Eternos’ consegue se consagrar como um dos melhores filmes já produzidos dentro deste universo.
Nota: 4.5/5