Em 14 de abril de 1912, o mundo tinha presenciado o trágico naufrágio do RMS Titanic em sua viagem inaugural de Southampton, na Inglaterra, à cidade de Nova York ao se colidir com um iceberg no norte do Atlântico, afundando partes do casco do estibordo por uma extensão de quase 100 metros e expondo à água do mar os seis compartimentos dianteiros à prova d’água. Era completamente inevitável. O total de mortos chegou a 1.500 com este desastre marítimo, contando com tripulantes e passageiros.
Foi apenas em 1985 (73 anos depois) que os destroços foram encontrados no fundo do mar pelo oceanógrafo Robert Ballard junto com o cientista francês Jean-Louis Michel. O Titanic repousava aproximadamente 612 quilômetros a sudeste de Newfoundland em águas internacionais. A partir disto, inúmeras expedições foram realizadas ao longo dos anos para detalhar com precisão o estado da icônica fragata após um bom período naufragado. Mas havia um grande porém, retirá-lo do oceano demandaria um esforço descomunal. Por conta disso, permanecerá descansando sem problemas.
Cem anos após o naufrágio, a UNESCO passou a proteger o navio por causa de seu caráter histórico, arqueológico e cultural. Vale menção que está em processo de corrosão como moluscos devorando a maior parte da madeira do navio, ao passo que micróbios corroeram o metal exposto, criando formações de ferrugem semelhantes a estalactites.
Boa parte das pessoas podem ter tido acesso mais detalhado sobre a tragédia através de relatos em documentários e entrevistas, porém foi através da obra cinematográfica de James Cameron, que aconteceu a maior comoção em relação a história. E como ele conseguiu tal feito? Simples. Apenas trouxe um dos conceitos mais elementares no universo cinematográfico: o amor. Acrescente isto a uma trama inserida antes, durante e após ao desastre, e pronto. Essa é a fórmula de sucesso. Nas mãos certas, essa fórmula será lembrada depois de anos após o seu lançamento. James pode se gabar deste feito. Titanic é lembrado até hoje.
A história de amor arrebatadora entre Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e Rose DeWitt Bukater (Kate Winslet) conseguiu conquistar bem o seu público pela forma como foi retratada e claro, pela excelente química entre os atores. Desde o salvamento de Rose no início até a despedida de Jack já falecido na água no final foi tudo construído organicamente e você sentiu isso na primeira vez assistindo e sente novamente ao rever (sim, eu sei que na primeira oportunidade você está reassistindo). Se conecta com estes dois personagens. Isso é muito importante.
O conceito do amor proibido não é novo, porém aqui conseguimos ser envolvidos completamente. Torcíamos pelo casal, mas o destino não os queria juntos. Finais imprevisíveis sempre são vistos com desaprovação para os devoradores de filmes, pois vai contra ao nosso conceito de final feliz. Não é justo uma separação tão dura assim, não é mesmo? Nunca é, mas aprendemos que nem sempre as coisas são como devem ser. Precisamos lidar com isso. Quando a decisão de matar Jack vem, é um ato corajoso e muito realista. Algo precisava respingar para os protagonistas mesmo tendo passado por cada situação difícil após a colisão com o iceberg.
Apesar de algumas liberdades criativas para compor o filme como, por exemplo, a verdadeira Rose (o diretor leu a biografia de Beatrice Wood para compor a personagem), a história injusta do oficial William Murdoch ao mostrá-lo cometendo atos anti-éticos (sendo que na realidade, ele não cometeu nada disso) e o exuberante diamante azul que Rose ganha de presente é fictício, Cameron tentou ser o mais realista possível em vários aspectos. Como a dimensão da réplica do navio em quase 100% ao original, toda a trajetória de embarque até o naufrágio, personagens reais e até a melancólica canção tocada pelo grupo de homens que serviu como pano de fundo para todo o desespero dos passageiros no avanço das águas gélidas do oceano. A música católica Nearer, My God, to Thee ficou conhecida como a última tocada pela banda.
Os bastidores não deixam mentir todo o esforço da equipe interna, elenco e figurantes na composição das principais cenas para encenar as consequências da colisão do iceberg e todo esta mega operação rendeu excelentes frutos no ano seguinte. Indicado a 14 Oscar, Titanic garimpou a edição de 1998 com um total de 11 estatuetas. Um importante feito para esta obra-prima de Cameron. O conjunto da obra permite-me chegar nesta conclusão. Não foi somente este reconhecimento que alavancou o filme como um dos melhores de todos os tempos. Conseguiu alcançar mais de 1 bilhão mundialmente e entrou na lista das maiores bilheterias de todos os tempos em primeiro lugar. Permaneceu invicto até a chegada de Avatar e com isso, mostrou uma nova versatilidade do diretor em fazer cinema.
Titanic me conquistou na infância e toda vez que revejo, volto a sentir esse misto de emoções que me permitiram amar completamente a história. Ficar feliz com o romance e depois ir às lágrimas com o desfecho do casal. Sentir arrepios com o efeito cascata da colisão no iceberg. Ficar impressionado com a grandiosidade que James Cameron impôs com tanto cuidado e carinho. Titanic é uma obra para apreciar em qualquer época desta geração e das seguintes.