Após anos, inúmeros fãs pedindo para que um dos mais saudosos heróis do universo da Marvel fosse explorado em um projeto solo, finalmente chegou a vez do Gavião atirar suas flechas. Com seus dois primeiros episódios lançados em 24 de novembro, a série finaliza com seis atos que definitivamente merecem uma bela análise.
Temos que deixar bem claro que a sua fonte de inspiração é totalmente focada na run de Matt Fraction, que foi de 2021 até 2015. Até mesmo a arte de David Aja é relembrada na introdução e nos créditos finais. Com isso, devemos lembrar que em uma década de MCU, a fidelidade com o material original é uma incógnita entre os fãs, mas a forma que se propõe aqui é diferente de tudo já visto em termos de honrar sua inspiração.
Com isso dito, já podemos falar que muitas origens são modificadas, mas que são bem-vindas. Com isso, começamos com a da Kate Bishop, que se liga com os eventos de Os Vingadores, em uma cena que lembra muito o início de Batman v Superman. Lucky, Jack Duquesne, Kazi e Derek Bishop são outros que também tem suas histórias modificadas; mas, algumas ideias criativas aqui podem causar revolta nos fãs. Porém, cada uma das novas invenções mostradas aqui se encontra em harmonia e fazem muito sentido.
Em sua história, o roteiro é fantástico. É difícil tentar definir como ele funciona, mas é uma mescla de uma comédia dos anos 80 natalina com uma trama criminal recheada de ação, coisa que até provavelmente Scorsese gostaria. Todo o desenvolvimento aqui funciona extremamente bem, a relação de Clint com Kate, como o mistério envolvendo a família Bishop e a gangue do agasalho estão conectadas, e como cada personagem está amarrado. Desde o momento inicial até o final, somos cativados por esse mundo que estava sendo muito necessitado nesse universo de deuses e poderes, algo mais pé no chão. Além de que, todo o humor da série acerta em cheio com o dos quadrinhos, e todas suas partes dramáticas também funcionam – uma parte muito bem realizada principalmente pelo remorso do Clint. Mas, infelizmente tem sua parte ruim, que é o desperdício de histórias, não temos muitos aprofundamentos em elementos essenciais dos quadrinhos que poderiam aumentar ainda mais a qualidade da série – e isso é um erro em quase todas produções Marvel, tristemente. Também, a série infelizmente desliza em seu último episódio, sem conseguir de fato atingir toda a glória na qual ele estava quase conquistando. Por mais que seja bom, aquele gosto amargo fica, de que está faltando alguma coisa; e isso se intensifica na pior cena pós-credito de qualquer produção do estúdio.
Já por parte de seu elenco, é digno de salva de palmas. O maior foco é para Hailee Steinfeld, que acertou em cheio ao dar vida para Kate, é uma combinação que até mesmo Kevin Feige disse que não houve teste de elenco. Jeremy Renner continua dando vida para uma adaptação nada fiel, porém divertida de Clint, e consegue trazer muita emoção para o background do personagem. Os outros personagens secundários também são marcantes e muito divertidos, assim como os antagonistas, principalmente Echo e Yelena.
Um dos pontos mais fortes aqui é a representatividade trazida por um dos fatos mais importantes dos quadrinhos do herói, que é a deficiência. Aqui é sondado toda uma parte focada na surdez de Clint, que após inúmeros eventos envolvendo lutas físicas, intensificou para quase uma perda total auditiva. E falando de representatividade, também temos a atriz iniciante da Echo, Alaqua Cox, que é nativa-americana, surda e tem sua perna direita amputada. É uma atitude belíssima por parte da Marvel de explorar isso com atores que realmente tem as mesmas características que suas personagens, vimos isso também em Os Eternos – e que isso seja um bom começo para que todas as produtoras acabem com o capacitismo dentro de produções audiovisuais. E também, que respeitem as origens étnicas de seus atores com seus papeis, assim como mais uma vez foi realizada com Alaqua.
Em seus pontos técnicos, tudo é feito com maestria, menos dois pontos que pareceram ficar sem atenção pela produção. Sua direção é fantástica, temos cenas em plano-sequência que são absurdas (com foco na da terceira temporada), uma ótima forma de se contar a história e um timing bem estruturado para o clima funcionar. Sua fotografia também é uma bela cereja nesse bolo, junto com a equipe de cenografia e figurino, as cores funcionam de maneira primorosa e com foco no roxo – marca registrada dos heróis nos quadrinhos – e parece que ele puxa da página para a tela. Seus efeitos especiais também são muito bem feitos, principalmente em momentos de luta. E uma trilha sonora recheada de Natal, com músicas de Esqueceram de Mim e Grinch, só para deixar o natal ainda mais especial.
Mas a grande aflição chega na parte de maquiagem, que entrega perucas de qualidade baixíssima e execuções desnecessárias, um exemplo é o cabelo de Eleanor Bishop no início do primeiro episódio, que parecia de um vídeo feito para o Youtube. Sua montagem e edição também são em certos momentos confusa e chega a tirar a imersão, quebrando regras que deixaram Walter Murch arregalado. Mas, isso provavelmente foi causado por cortes de cenas, logo que, há rumores fortes quanto a pós-produção.
De todos os alvos, Gavião Arqueiro acerta com maestria, mesmo que por vezes quase errando de raspão, é uma obra essencial e que merece um reconhecimento como uma adaptação de sui generis. Se o futuro do universo cinematográfico se parece com isso, então, é fácil dar um salto de fé e dizer que o amanhã é glorioso.
NOTA: 4,5/5 – Ouro