A Diferença Invisível é uma história tocante, interessante e didática. Todos os dias interagimos com alguém. De forma automática dizemos “como vai?“, perguntamos se “está tudo bem?” e temos como resposta (por nossa parte ou dos outros) um “tudo!“. Mas o que é esse tudo? Ele existe mesmo?
Por mais que pareçam fortes do lado de fora, por dentro muitas pessoas pedem ajuda. Marguerite é mais uma francesa: Tem seu emprego, namorado, bichos de estimação, tarefas diárias, cuida de sua vida… mas ainda assim se sente desencaixada do resto.
Ela tem dificuldades em realizar ações que para muitos são simples, como se relacionar com colegas de trabalho, viajar, ir à festas, usar roupas de determinados tecidos e até um despertador. Não entende piadas e um fim de semana longe de casa já é um estorvo. A solução encontrada durante grande parte de sua vida foi viver em seu casulo. Mas um casulo, apesar de protetor, é frágil. Em algum momento se quebra e é necessário encarar o que há fora dele.
Graças à esse déficit social Marguerite descobre que tem a Síndrome de Aspenger, uma variação do autismo. Ela não se abate com isso. Finalmente ela está livre e se sente levada a sério e a partir daí começa a se redescobrir.
Todas estas dificuldades vividas por Marguerite e mais de 70 milhões de pessoas ao redor do mundo são apresentadas em A Diferença Invisível, publicada no Brasil pela Editora Nemo. A obra traz ilustrações de Mademoiselle Caroline e roteiro de Julie Dachez, que é ninguém menos que a própria protagonista Marguerite.
O número total de autistas equivale a 1% da população mundial. A sua perseverança mostra que não há o que é impossível de se fazer, se sim de ser feito de alguma outra forma. A vida para muitos precisa ser adaptada, e é assim que se segue. Assunto que, aliás, é pouco visto em HQs. Para quem é interessado em pesquisar sobre situações similares, a HQ Parafusos publicada em 2014 pela Editora Martins Fontes segue esta linha.
O uso de cores (que no início da HQ limita-se ao preto, branco, cinza e vermelho) vai se diversificando ao longo da história a cada nova descoberta de si mesma feita por Marguerite. Sua vida agora é outra: mais colorida, apropriada e dinâmica. O traço leve e simples de Caroline denota o tom direto de como o assunto é tratado na obra.
Um anexo chamado O que é Autismo? ao fim da edição esclarece também outros ponto importantes da síndrome. Dachez se tornou uma grande pesquisadora sobre o assunto. Vários textos e trabalhos seus podem ser consultados em seu blog http://emoiemoietmoi.over-blog.com/ (em francês) que ajudam principalmente a quem ainda tem dificuldade em se adaptar a este novo mundo que se revela para cada um deles. No Brasil também há instituições que trabalham para entender, identificar, tratar e a conviver com a situação, seja este indivíduo o diagnosticado ou pessoa próxima, e informações podem ser consultadas em http://autismobrasil.org/, por exemplo.
A edição da Nemo não foge do padrão adotado em outras publicações da editora, em formato 24 x 17 cm e 192 páginas com papel offset encadernado em brochura com orelhas e com edição e conteúdo muito fiel à publicação original com preço sugerido de R$44,90, com sua distribuição destinada à livrarias e lojas especializadas. Vale a pena a descoberta, seja você Marguerite ou qualquer outra pessoa.