Você já imaginou como seria se super-heróis, ou melhor dizendo, vigilantes mascarados existissem na vida real? Aposto que sim, e mostrar como seria isso (e acabar provando que tem tudo para dar errado) é o objetivo central de Kick Ass, HQ escrita por Mark Millar e desenhada por Romita Jr. Em suma, a HQ mostra a vida de Dave Lizewski e nela acompanhamos o começo, as consequências e o final de sua vida como um vigilante em três volumes recheados de violência e sangue.
Kick Ass: Quebrando Tudo! é o primeiro volume da série nos apresenta Dave, um adolescente de 16 anos, fã de quadrinhos, com poucos amigos e que, assim como todo leitor de quadrinhos, sempre se indagou: e se existissem heróis mascarados? Tendo isso em mente, ele decide vestir uma roupa de mergulho verde e, com dois bastões, resolve procurar justiça. Logo na sua primeira noite como vigilante já é recebido com diversos socos, uma facada e ainda é atropelado durante sua fuga. Após tudo isso, ele entra em cirurgias e recebe diversas placas de metal em seu corpo e, o que ele decide fazer em seguida? Isso mesmo, voltar para as ruas vestido de Kick Ass e continuar sua jornada. Com isso, sem pensar nas consequências e sempre agindo por impulso, acaba descobrindo a existência de mais dois vigilantes: Big Daddy e Hit Girl, pai e filha; E acaba inspirando outras pessoas a fazerem o mesmo – uma dessas pessoas é o vigilante Red Mist.
Big Daddy (McCready) era outro viciado em quadrinhos que virou vigilante e treinou sua filha para seguir ele nesse estilo de vida. Hit Girl (Mandy McCready) foi treinada a vida toda, se mudando de cidade em cidade com o seu pai e basicamente é uma criança de 12 anos com sérios problemas de agressividade (bem sérios, por sinal). Já Red Mist (Chris Genovese) é, supostamente, um vigilante inspirado pelas ações de Dave como Kick Ass. Big Daddy e Hit Girl estão numa caçada contra os membros da máfia, onde seu alvo final é John Genovese. Kick Ass se junta aos vigilantes nessa missão e esse acaba sendo o enredo principal do primeiro volume da série.
Se em seu primeiro volume vimos a origem da vida de Dave como vigilante, em Kick Ass: Volume 2 vemos as enormes consequências de seus atos. A trama já começa com Mandy aposentada e ocupada somente em treinar Dave, afinal, ele não sabia quase nada de luta no volume anterior além de bater seus bastões nos outros. A inspiração causada pelo surgimento de Kick Ass fez diversas pessoas a se revelarem como vigilantes mascarados, resultando na criação da Forever Justice: uma espécie de Liga da Justiça amadora, inclusive até temos a presença de uma mesa enorme para as futuras reuniões da mesma.
Dentro dessa equipe, temos nomes como Doutor Gravidade, que diz ser um professor de física que criou um bastão que fica vinte vezes mais pesado ao ser ativado, mas na verdade é um estudante de Letras; Coronel Stars e sua cachorra, Sofia; Tenente Stripes; Night-Bitch; Homem-Inseto; Batalheiro, que acaba sendo revelado ser um dos amigos de Dave; Entre outros. Decidi não aprofundar muito a história de cada um pois não se sabe exatamente a versão verdadeira das mesmas, afinal, cada um cria sua própria história e motivação para ficarem semelhantes aos personagens dos quadrinhos tradicionais. A atuação da equipe não fica só restrita a evitar assaltos ou invadir locais ilegais, mas sim em também doar sangue, distribuir sopa para desabrigados, espalhar panfletos de crianças desaparecidas, dentre outras ações sociais.
Mas não é somente Kick Ass que inspira as pessoas, com o surgimento do super-vilão Motherfucker várias outras pessoas decidiram se aliar a sua causa e, com isso, temos a formação de um exército de vilões. Como consequência dos atos terroristas desse grupo, os policiais decidem caçar e prender todos os mascarados independente de serem heróis ou vilões. Com isso, o pai de Dave acaba sendo preso no lugar dele e morto na cadeia, que faz com que Mandy decida vestir o traje de Hit Girl mais uma vez. Todos os eventos de Kick Ass 2 resultam em uma épica batalha em plena Times Square, onde temos todos os vigilantes contra todos os vilões.
Agora, chegamos na conclusão dessa história em Kick Ass: Volume 3. A trama começa após os eventos anteriores, onde vemos os vigilantes lidando diretamente com as consequências do volume anterior e o retorno da máfia de Genovese. Dave se forma na escola, começa um relacionamento e continua vivendo sua vida dupla como vigilante. A máfia começa a se fortalecer novamente e Genovese tem o plano de dominar toda a cidade obtendo poder de todas as outras famílias mafiosas. Don Rocco começa a caçar todos os membros da Forever Justice e encomenda a morte de Mindy, que faz com que ela volte como Hit Girl – e aí temos a última missão da dupla Kick Ass/Hit Girl: livrar Nova York dos mafiosos de uma vez por todas.
Nesses três volumes, Mark Millar fez um trabalho sensacional e bem radical, digamos assim. Por que radical? Pois colocar em uma HQ adolescentes e uma criança de 10 anos que saem na rua bancando os heróis e espancando bandidos é algo bastante chocante, ainda mais com uma forte violência visual. Porém tal violência cumpre o seu papel diante do quadrinho, não é feito somente para chocar o leitor e mostrar uma história que só tenha pancadaria, muito pelo contrário, a trama dos três volumes se desenvolvem de uma forma bastante inteligente. Um detalhe interessante é o que Millar fez com Kick Ass e Hit Girl, ambas as personalidades são totalmente opostas: enquanto um é mais próximo da realidade, um nerd fraco que não sabe se defender mas se vira com a máscara, a outra é uma menina de 10 anos que sabe várias artes marciais e manusear armas de fogo, katanas, facas, dentre outras coisas. Diferente de muitas sagas em quadrinhos, Kick Ass apresenta um término satisfatório ao leitor.
A arte de Romita Jr não tem defeitos, é algo que se encaixa perfeitamente no tom que a HQ propõe, nada que fuja da realidade mas nada tão próximo da mesma. Em suma, a trama escrita por Mark Millar e a arte de John Romita Jr, juntas, formam uma grande obra que vale a pena conferir.
As três edições de Kick Ass foram lançadas pela Panini aqui no Brasil, em um encadernado com capa dura e todos eles com, em média, 200 páginas.
Um comentário rápido: foi lançado em 2010, antes inclusive do primeiro volume de Kick Ass ter o seu final publicado, a adaptação cinematográfica da primeira HQ. Em 2013, sua continuação foi para os cinemas. Falando sobre os filmes, o primeiro é uma adaptação bastante fiel do quadrinho nas telonas, funciona tanto no roteiro como com o elenco. Entretanto, não se pode dizer o mesmo do segundo filme que começa com sua fidelidade mas no final sofre um desvio enorme que não dá para ignorar, o que acaba estragando um pouco a experiência do filme. Mas em suma, até que ambos os longas valem a pena serem assistidos depois de ler os quadrinhos.