Confesso que nunca fui muito chegado em animes, mas não pude evitar quando a minha timeline do Facebook só estava falando sobre um assunto: O Death Note da Netflix. Claro que como toda adaptação de anime/mangá, os comentários foram negativos. Foram tão negativos, a ponto de eu assistir aos 37 episódios do anime para assistir ao filme. O anime é uma obra fantástica e derruba o estereótipo criado por alguns (inclusive eu) de que os desenhos são japoneses só tem lutinha e humor nonsense, é um thriller policial focado no embate entre duas mentes geniais: Light e L. E o filme da Netflix? É completamente diferente do anime, mas é um exemplo de uma boa adaptação.
Quando falo em adaptação, falo em se adequar a algo, no caso, o Death Note de Adam Wingard se adéqua perfeitamente à sociedade ocidental. Se no anime acompanhamos o perfeito e futuramente sociopata Light Yagami, aqui acompanhamos o imperfeito e instável Light Turner(Nat Wolff), que é basicamente o retrato do adolescente da geração millenium. Ele é o cara esperto, emocional e loser. Ele quer impressionar a garota que ele gosta e não, ser o Deus do Novo Mundo. Sendo assim, posso dizer que o Light da Netflix é você, ou pelo menos, é mais relacionável com o espectador. Vai me dizer que você também não contaria que tem um caderno da morte para impressionar uma garota?
Principalmente uma garota como a Mia(Margaret Qualley), que deixa de ter o papel de namorada submissa e se torna aquilo que Turner não consegue: Kira. É uma decisão muito mais interessante, para falar a verdade. O detetive L(Keith Stanfield) deixa de ser aquele cara estranho com olheira – você provavelmente já quis se sentar como ele se senta – e se torna alguém mais instável e mais equilibrado, alguém mais real. Realidade em um filme sobre um caderno que mata? Real não, verossímil. Se Light e L no anime são tão parecidos por causa da inteligência, os respectivos personagens da adaptação são parecidos em outro aspecto: A instabilidade.
Nesse conjunto de ideias interessantes do novo Death Note, nem todas são bem executadas devido à duração. 1 hora e 40 minutos é muito pouco para ter seu público totalmente investido nos personagens e ele sofre com isso no terceiro ato, em que ele deveria atingir o seu ápice. O trabalho de CGI em Ryuk é incrível e a voz de William Dafoe, é provavelmente a escolha mais acertada do elenco. A direção de Wingard é competente e criativa. As mortes escritas no caderno são criativas e bizarras, como se a intenção do diretor fosse trazer um filme trash repleto de sangue. A montagem também é eficiente e divertida ainda mais com a presença de músicas como The Power of Love. Em nenhum momento é possível ficar entediado devido a rapidez, em um piscar de olhos o filme já terminou.
Death Note definitivamente deveria ser um pouco mais longo em prol do desenvolvimento de personagens, mas é divertido e tem ideias interessantes para se encaixar no contexto ocidental. É aquilo que ele precisava ser, um filme sobre um cara que quer impressionar a garota e não, escrever nomes em um caderno enquanto faz poses comendo batatinhas.