Desde os créditos de Godzilla: Rei dos Monstros (2019), onde observamos o titã enfrentando Kong em uma pintura rupestre, os fãs do Monstroverso – este oficializado em 2017 com a cena pós-créditos de Kong: Ilha da Caveira – ficaram ansiosos esperando o confronto dos dois personagens. Finalmente, após muita discussão na internet acerca de quem ganharia a batalha, a espera acabou com o lançamento de Godzilla vs Kong em Abril deste ano.
Dirigido por Adam Wingard, responsável pela adaptação live-action de Death Note na Netflix, o título entrega uma diversão honesta com sequências bem construídas e com uma trama sólida, mas infelizmente comete os mesmos erros que o seu antecessor do universo compartilhado.
Na trama, Godzilla ataca a sede da Apex Cybernetics e, logo após isso, o presidente da mesma procura investigar com segundas intenções as origens dos monstros e da energia do titã presentes no planeta através de uma teoria denominada ‘Terra Oca’. Para isso, utilizam Kong como guia para o determinado local e isso provoca o confronto entre os dois titãs – que por si só já são inimigos naturais. Em paralelo, um grupo de humanos procura investigar as conspirações envolvendo a mesma.
O roteiro apresenta um argumento sólido, porém, é desenvolvido de forma expositiva e conveniente com todos os personagens envolvidos. Seguindo os mesmos problemas de Godzilla: Rei dos Monstros, os diálogos extremamente clichês entre os personagens servem apenas para explicar algo que já foi exposto visualmente ou para quebrar o clímax do longa com piadas sem graça. O ponto de vista dos humanos apresenta dois lados: um deles sendo protagonizado pelos personagens envolvidos com a Monarch e com a Apex Cybernetics, empresa envolvida com o plot do título, enquanto o outro dá ênfase na personagem de Millie Bobby Brown e seus amigos.
Enquanto o primeiro – apresentando os problemas estruturais de roteiro descritos acima – cumpre um papel importante para o desenrolar da trama e para o confronto dos titãs, o outro serve apenas para aumentar o tempo de tela do filme e não acrescenta em nada para o desenrolar da história, não contribuindo para o seu desenvolvimento. Caso os personagens do núcleo de Millie fossem removidos na edição final do título, a trama continuaria a mesma. Por último os humanos por si só não cativam o telespectador e fazem com que o desenrolar do filme seja arrastado em certos momentos, um exemplo disso é o primeiro ato do título que arrasta a trama até que ela consiga apresentar um ritmo, sendo este interrompido em diversas vezes pelos diálogos e interações entre os mesmos.
Em suma, o roteiro utiliza os humanos e suas interações para deixar tudo mastigado ao público como se o mesmo não fosse capaz de tirar suas próprias conclusões acerca do que ocorre em tela – o que acaba prejudicando e muito a experiência pois, em quase duas horas de filme, 75% de sua duração conta com as interações entre os personagens.
Kong e sua história acabam sendo o centro da trama e o que cativa o telespectador a descobrir mais sobre o universo exposto desde 2014 nas telas e, por mais óbvio que seja o fato que Godzilla é o mais forte do confronto, é inegável dizer que o carisma e a humanização do primeiro personagem não faça com que a torcida se volte para ele. Dito isso, Godzilla vs Kong acaba se tornando uma trama de titãs prejudicada pela participação dos humanos – assim como os dois filmes do titã nuclear, cujo no primeiro só aparece em tela durante oito minutos de longa.
Deixando o roteiro de lado, os confrontos entre os monstros são épicos e os efeitos visuais, em conjunto com a fotografia, são sensacionais. Toda a enrolação provocada pela trama no ponto de vista humano e pelos quarenta minutos iniciais, que são extremamente maçantes, acaba sendo compensada quando ocorre o primeiro encontro entre os dois e nas cenas de ação seguintes.
Então, é bom?
Por mais que a trama envolvendo o ponto de vista humano estrague grande parte da experiência do filme, as cenas de ação bem executadas e os efeitos visuais do longa compensam todos os defeitos e entregam um bom título. Godzilla vs Kong entrega com maestria o que vendeu em seu marketing: uma diversão honesta envolvendo um confronto épico e de tirar o fôlego entre os dois maiores titãs do audiovisual com uma conclusão satisfatória para os amantes do universo estabelecido pela Warner em 2014.
Veredito: 3/5 – prata