Já na capa, é notável a celebração dos recém-completados 90 anos de Mickey. As duas gerações do mesmo personagem com um fundo representado com seu nome em vários países mostra bem o que está por vir.
A edição de estreia do Mickey pela Culturama segue uma tendência que se manteve nos últimos meses de editora Abril: Duas histórias por edição. Com a ressalva de que, diferente do apresentado na anterior, sua nova casa começa com duas histórias italianas, e não uma italiana e outra dinamarquesa.
Isso é um problema? De forma alguma. As duas aventuras apresentadas representam muito bem a fase do personagem, que se manteve com narrativas de, em média, 30 páginas e, em determinados momentos, paródias. Nos últimos anos, Mickey incorporou James Kirk, Dylan Dog, Corto Maltese, Asterix, entre outros.
A primeira história é roteirizada por Francesco Artibani. Há um certo tempo ausente, a última aparição de Artibani como roteirista em uma edição de Mickey foi na edição nº 860 da editora Abril, datada de abril de 2014. Em Mickey e a Aventura sob Medida, Pateta e Donald ajudam o Camundongo-Detetive a solucionar o misterioso desaparecimento de casas na região, comprometendo seu serviço e de seus amigos, agora atuando como limpadores de chaminé.
Interessante a escolha do desenhista Lorenzo Pastrovicchio em optar pelo visual retrô do trio protagonista, design que não se aplica aos demais personagens da trama. Curiosamente, a última história de Pastrovicchio publicada no Brasil em um título solo do personagem, na recente Mickey nº 905, o artista opta pelo caminho inverso ao produzir ao lado de Tito Faraci A Quadrilha de Técnicos, uma releitura de A Quadrilha de Encanadores, clássico de Merill de Maris e Floyd Gottfredson publicado em tiras de jornal em 1938 e reeditada no Brasil em Os Anos de Ouro de Mickey nº10, em outubro de 2017. Lá, Mickey tinha um visual totalmente repaginado e moderno, uma vez que esta era a ideia em adaptar este roteiro feito há mais de 80 anos aos tempos atuais.
A história é uma mistura de tudo que costumamos ver nas páginas de Mickey: Mistério, aventura, humor e, dessa vez, uma pitada de nostalgia.
Em Eu & Minnie, Mickey reflete o porquê de uma recente discussão com Minnie, cujo real motivo ele desconhece. Revisitando seu passado e fazendo auto-crítica em relação a amizades, trabalho e aventuras, Mickey analisa porque a parceria com Minnie deu tão certo. Listando também as qualidades de sua companheira, mostra que este elo pode permanecer forte por muito mais tempo, mas antes precisam juntos superar as desavenças. Inclusive a cena em que Minnie o presenteia com uma ferradura e voam juntos pela primeira vez está lá, exatamente como aconteceu na animação Plane Crazy, considerada a primeira aparição de ambos os personagens, em março de 1928.
A trama tem um encontro de gerações inclusive em sua equipe criativa: o jovem Giorgio Fontana se junta ao veterano Massimo de Vita para celebrar os anos de união do casal. Em atividade desde 2015, esta é somente a 4ª história de Fontana publicada no Brasil; para De Vita, é a 215ª.
A estreia é satisfatória, ainda mais se considerar que Mickey é o personagem Disney mais cultuado hoje em vários países. Essa tendência tem refletido não só na Itália, mas também na França. Mickey tem sido o personagem Disney mais utilizado na linha Glenat, protagonizando 7 de 8 álbuns lançados pela editora francesa.
Em comemoração aos 90 anos do personagem, tivemos no Brasil apenas o álbum de figurinhas publicado pela Panini. Mesmo que atrasado, o orelhudo poderia ainda ter homenagem de aniversário em uma edição dedicada exclusivamente a HQs por aqui pela Culturama. Seus fãs merecem.