Lendo o título da postagem, você pode levantar diversos questionamentos, como por exemplo “Isso é algo que realmente pode ser feito?“; “De onde que um zé ruela que escreve pra um blog poderia ter tirado uma fórmula mágica pra isso?“, ou “A maioria dos problemas não está fora do alcance das editoras?“. E, embora confesse ter sido um pouco sensacionalista na chamada, acredito ser um tema relevante o bastante para discussão, e onde todas as perguntas mencionadas possam ser analisadas e eventualmente, respondidas.
Começo, de cara, respondendo a segunda: longe de mim querer ser o dono da verdade. Mal sou o dono da minha própria vida, quem dera ter razão em alguma coisa. O que eu venho aqui sugerir hoje (destaque pro verbo) é apenas uma (de diversas) formas de tentar dar o empurrão que pode embalar o mercado que hoje é tão parado.
Diferenças postas de lado, me escutem nessa. Light Novels são livros, e todos sabemos que o brasileiro odeia ler. Tá, tá, “odeia” é uma palavra forte, mas vejam as estatísticas: em pesquisa da Ibope Inteligência para o Instituto Pró-Livro em 2015 (a mais recente que pude encontrar sobre o assunto), apenas 56% dos Brasileiros leram (de forma parcial ou integral) algum livro nos últimos três meses. Já começamos mal. Então quando uma Light Novel – que tem, dentre outras possíveis, uma periodicidade trimestral – é publicada, já temos apenas 56% da população como possíveis compradores.
Mas veja o dado seguinte, que intrigante: dentre esses que leram algum livro, 25% deles o fizeram por gostarem do que estão lendo, e 15% estavam interessados somente em se distrair. E também vemos que 30% dos livros são escolhidos devido ao seu ‘Tema ou Assunto‘. Consegue perceber para que lado eu estou querendo levar essa conversa?
Existem tantos gêneros e tantos tipos de Light Novels diferentes, que a nossa tentativa de estereotipar a mídia para fins cômicos acaba sendo a piada. Dos poucos títulos que temos no mercado atual, muitos deles acabam tendo gêneros que se sobrepõem, limitando ainda mais as possibilidades para possíveis leitores. Finalmente chego até meu ponto: o que falta no Brasil é variedade.
Antes que você comece a vir pra cima de mim com três pedras na mão, eu já adianto que eu sei que popularidade dentro do nicho é importante, e que as editoras usam fama de adaptações como termômetro para anúncios. Posso parecer que não entendo absolutamente nada sobre o que estou dizendo (o que é verdade na maioria das vezes), mas tenho noção do que sugerirei agora, e vocês entenderão também, se tiverem saco para ler.
Agora que tudo está colocado no papel, vamos para aquilo que Brasileiro gosta: LISTAS. Todo mundo adora listas, não é verdade? Listarei os gêneros de Light Novel que ainda não têm um representante aqui no país, e darei algumas sugestões (justificadas, pois não quero levar aquelas pedradas do parágrafo anterior) de possíveis títulos.
1 – Comédia
Não, sério? Como não temos um título que seja puramente cômico sendo publicado? Humor é um dos carros-chefe da mídia. Apesar de termos partes com foco cômico em alguns títulos (Re:Zero, No Game No Life ou Log Horizon como exemplos), ainda não existe algo que seja dedicado a isso. As sugestões são óbvias:
- KonoSuba – Kono Subarashii Sekai ni Shukufuku o!
Além de fazer parte do clube de “títulos enormes característicos de Light Novels”, KonoSuba foi adaptado em duas temporadas de anime, ambas extremamente populares (Média 4,7/5,0 no Crunchyroll), e tem um “novo projeto animado” já anunciado, podendo fazer ibope para a publicação nacional no futuro.
No longinquo ano de 2013, Hataraku Maou-sama! foi a sensação da garotada. Tá certo que coisas que foram um sucesso cinco anos atrás (é rapaz, 2013 não foi ontem não!) não necessariamente fariam sucesso agora, mas parece que uma Copa do Mundo não é tempo o bastante para largar o osso, não é mesmo?
2 – Harém Escolar Mágico Genérico
O termo acima, cunhado por este mesmo que vos digita, é, provavelmente, o mais próximo do estereótipo de Light Novels que você chegará. Ao menos no mundo animado, quando falamos de “Adaptações de Light Novel”, é isso que vêm a cabeça. O nome ‘correto’ (se é que dá pra ser mais correto do que isso) para o gênero é “Escola Mágica”, mas – quase – todas são acompanhadas por um harém e por clichês literários mais batidos que mulher de vagabundo, então… De qualquer forma, é um gênero que é polarizante, sendo um Hit or Miss, ou você adora, ou você detesta.
- Mahouka Koukou no Rettousei
Falando no diabo… A Panini recentemente (e repentinamente, convenhamos) anunciou a publicação desta obra… Em sua adaptação para mangá. Assim como a maioria, fiquei decepcionado por não termos recebido a obra original. Acho que só a comoção que foi feita na página da editora no Facebook já é sinal o bastante de que a galerinha tá bem animada com isso. E se quiser mais, a adaptação em anime tem média 4,2/5,0 no Crunchyroll.
Tudo bem, podemos argumentar sobre a qualidade da popularidade do anime de Gakusen Toshi Asterisk, mas não podemos negar que popular ele foi. Em suas duas temporadas, com sua mais recente em 2016, o show não saía da boca (e dos teclados) do povo, por ser o ápice de tudo que um Harém Escolar Mágico Genérico é aclamado (ou difamado) por ser.
Confesso que esse está na lista por indicação do Redator, mas não me crucifiquem que eu tenho um motivo! Date A Live não foi muito popular na época em que sua adaptação animada saiu, com primeira temporada em 2013 e segunda em 2014, mas ele se encaixa bem no gênero (com certa licença poética). Além disso, a publicidade está garantida, pois uma nova temporada já está anunciada, e confiem em mim quando digo que os arcos que serão cobertos pelo novo anime são ótimos e com certeza gerarão atenção para a obra. Olha que baita oportunidade, hein?
3 – Fantasia Urbana
“Como assim? Temos várias novels de fantasia publicadas no Brasil! Você pirou?” Talvez você se indague. É mais uma questão de classificação, no final das contas. Os títulos que poderíamos enquadrar no gênero “Fantasia” acabam sendo engolidos por um gênero maior, mais corpulento e ameaçador: O Isekai. Re:Zero, No Game No Life e Log Horizon são todos títulos de fantasia, é claro. Mas todos eles acontecem em outro mundo, cada um por seu motivo. E justamente por serem obras Isekai, elas têm suas características próprias, deixando os arquétipos de “Fantasia” mais comumente conhecidos de lado.
Fora que nenhum deles é, de fato, uma Fantasia Urbana. Um subgênero da fantasia que, como o nome sugere, se passa no nosso mundo moderno. É uma categoria inteira que não se vê representada no mercado desde o fim da publicação de Fate/Zero, completo em seis volumes pela editora NewPOP.
Já que o único caso do gênero foi justamente outra obra da franquia… Nada melhor para substituir Fate/Zero do que a sua prima pobre, não é mesmo? As vantagens são diversas: já temos algo no mercado, então já existe um público garantido; Uma adaptação em anime acabou de sair, e também foi deveras popular; E o melhor de tudo, a dita adaptação está disponível na Netflix! Quer divulgação mais abrangente que estar disponível na maior, mais famosa e menos julgada-por-ser-assinante-de plataforma paga do país?
Se você forçar a barra, pode entrar como “Harém Escolar Mágico Genérico” também. Veja só, é dois pelo preço de um! O anime, apesar de criticado por alguns, é extremamente popular, e gerou comoção global quando teve sua terceira temporada anunciada para ainda este ano. Por também possuir um spin-off de grande sucesso, Toaru Kagaku no Railgun, a mídia está sempre na boca do povo. E outro ponto positivo: a série ainda está em publicação, mas foi dividida em duas partes. A primeira parte (chamada de “Velho Testamento”) já está completa. Talvez seja mais fácil e/ou menos arriscado licenciar somente uma parte, com número já estabelecido de volumes.
Talvez seja cedo demais, talvez o mercado ainda não esteja maduro o bastante para isso, mas Monogatari é uma das obras mais pedidas para todas as editoras, o tempo todo. O meu receio – e talvez dos editores também – em recomendar isso é que a obra é deveras… complicada. Ela é longa, possui uma gramática e ortografia extremamente complexas, e tem diversos títulos com nomes diferentes e que não fazem muito sentido para alguém de fora da bolha. Fico muito frustrado quando vou ver alguma série nova e os livros não tem “Livro 1”, “Livro 2”, etc, na lombada, e cada um tem um nome que não indica de forma alguma em que ordem eu deveria comprá-los.
Apesar dos pesares, o título é pedido com ardor por milhares de fãs ao redor do Brasil. E a franquia não parece dar sinal de estar acabando tão cedo: com novos volumes e novas adaptações sendo anunciadas e lançadas o tempo todo, estará sempre relevante na mídia.
Duas obras pelo aclamado autor Ryōgo Narita, elas seriam o ápice da “Fantasia Urbana”. O anime de Durarara!! teve sua primeira temporada em 2010, e já foi um sucesso. Quando teve sua continuação anunciada, foi outro estardalhaço. Seu episódio final saiu em 2016, e tem uma nota de 4,8/5,0 no Crunchyroll. Baccano! teve sua adaptação em 2007 e repercutiu na mídia recentemente por conta de seu irmão mais novo. Surfando na fama de Durarara!!, acabou voltando a ser pauta.
4 – “Mas o que diabos…?”
Outra parte que define a mídia, que é marca registrada de Light Novels, é o absurdo. O formato pequeno, de periodicidade espaçada e o baixo custo de publicação são os fatores perfeitos que abrem espaço para obras que beiram o surrealismo, e nos fazem questionar nossa sanidade. Em bom português, são aquelas coisas nada a ver com nada e que você tem dificuldades de entender como que um script desses foi aprovado.
Essas obras são muito mais de nicho do que qualquer outra (isso num assunto que já é de nicho), e fica difícil de fazer uma lista igual as anteriores. As coisas absurdas existem e são uma parte importante do mercado, mas não tem tanta repercussão fora do Japão. O melhor que posso fazer é trazer alguns dados do mercado estadunidense de Light Novels:
Publicado nos Estados Unidos pela Yen Press como “So I’m a Spider, So What?” (“Então Eu Sou Uma Aranha, E Aí?” em tradução livre), temos uma história de uma garota que… Vira uma aranha. Do nada. E é isso, essa é a história.
- Ore ga Heroine wo Tasukesugite Sekai ga Little Apocalypse!?
Com o título de “I Saved Too Many Girls and Caused the Apocalypse” (“Eu Salvei Garotas Demais e Acabei Causando o Apocalipse?!”), essa obra é publicada pela J-Novel Club e, como o nome sugere, é sobre um rapaz que por motivos absurdos e desculpas esfarrapadas acaba sendo a causa de uma guerra intergalática.
- Slime Taoshite 300-nen, Shiranai Uchi ni Level Max ni Nattemashita
Se você não se cansou dos títulos monumentais até agora… Está de parabéns. Esse será o último: pela Yen Press, é publicado como “I’ve Been Killing Slimes for 300 Years and Maxed Out My Level” (ou, “Eu Fiquei Matando Slimes Por 300 Anos e Acabei Chegando No Nível Máximo”). Adoro como eu não preciso fazer uma descrição da obra, apenas lendo seu nome já temos prova o suficiente para enquadrá-la na categoria.
Essa categoria te deixou um pouco tonto? Normal, é justamente esse o papel dela. Mas acredite que, assim como memes surrealistas fazem sucesso com um certo público, Light Novels de títulos gigantes e auto-descritivos com premissas absurdas também fazem.
Essas foram apenas algumas sugestões, baseadas na minha – limitada e normalmente errada – visão de mundo. Sei que com certeza nada disso vai mudar o mercado em si, mas apenas ergui a bandeira para uma discussão que pode vir a ter algum efeito de fato. Apesar de isso tudo depender das editoras e seus respectivos manda-chuvas, nós – que compramos as obras e sustentamos a empresa – ainda temos (ou fingimos ter) voz para buscar melhorias e tentar fazer o mercado cada vez melhor.