O mercado de quadrinhos possui alguns títulos, personagens e séries de bárbaros. Conan, Red Sonja e quadrinhos de Esteban Maroto são alguns exemplos da temática muito bem utilizada. Em O Coração do Cão Negro, primeiro volume da série Contos do Cão Negro publicada pela AVEC Editora, temos um ótimo gibi produzido por autores nacionais com a temática de bárbaros, com boas reviravoltas e belíssima arte!
Cão Negro é uma série criada por Cesar Alcázar. Com o livro A Fúria do Cão Negro, publicado em 2014, o autor nascido em Porto Alegre e fã de Robert E. Howard deu início a este universo que viria a se tornar, posteriormente, uma série em quadrinhos que narra as aventuras do anti-herói e protagonista Anrath.
Mercenário irlandês conhecido como “Cão Negro de Clontarf”, Anrath foi criado entre os vikings e possui um passado sombrio, cheio de tragédias que o destinaram a se tornar um renegado. Contratado pelo misterioso Inglês para encontrar um medalhão chamado “Coração de Tadg”, Anrath lida com as consequências de seu passado, enfrentando guerreiros que desejam a vingança e encarando horrores inimagináveis.
A sinopse acima detalha muito bem o teor da história presente neste primeiro volume. Nada revolucionária dentro do gênero espada e feitiçaria, porém dentro dos padrões de qualidade das melhores séries do gênero, a narrativa contém todos os clichés típicos da temática. O grande destaque fica para o jeito que é apresentada a aventura, de forma muito bem narrada, com roteiro e arte de qualidade acima da média!
O estilo remete a bons quadrinhos europeus, padrão das séries da AVEC Editora. Situado na Irlanda, este primeiro volume serve como uma introdução ao universo, apresentando Anrath, seu passado e personagens coadjuvantes. A personalidade do protagonista é o padrão dos bárbaros, sendo forte, exímio guerreiro e muito calado. E toda a apresentação à mitologia do Cão Negro é belissimamente ilustrada por Fred Rubim.
Nesta que é sua primeira publicação no mundo das HQs, Rubim, nascido em Porto Alegre e formado em Desenho Industrial, dá um show nas ilustrações. Utilizando muito bem as sombras, uma técnica semelhante ao que Mike Mignola faz em seus quadrinhos, o artista dá vida e movimento aos cenários e personagens, provando sua versatilidade especialmente quando comparado a outro quadrinho de sua autoria, Le Chevalier: Arquivos Secretos. Nesta série, sua arte parece uma fusão entre Mignola e John Buscema.
Sem um estilo caricato e mais simples, indo mais para o lado realístico e cinematográfico, o ilustrador retrata com fidelidade alguns objetos do período em que a aventura se passa (1022 D.C.), como vestimentas de guerreiros (escudos, elmos, espadas) e também barcos e construções. O estilo real dos personagens e animais fascina o leitor no decorrer das páginas, e quando o lado sobrenatural entra em cena, o visual torna-se fantástico e destoante, com cores que se destacam entre os quadros, separando o normal do fantasioso.
O texto de Cesar Alcázar é apresentado como uma aventura de ação típica, porém o domínio do passado e características de cada um dos personagens deixa claro que este é seu universo, com seus personagens e criaturas emprestadas da literatura fantástica. A narrativa segue um padrão que reveza entre presente e passado, com alguns flashbacks, e guarda as principais reviravoltas para as páginas finais, onde os mitos criam vida.
A personalidade de Anrath e a forma como ele age com relação aos seus inimigos e companheiros, antigos ou recentes, é um charme para fãs deste tipo de história. Sua lenda está relacionada a belas mulheres, de anos que se passaram ou da atualidade, e seus inimigos são motivados pelo ódio gerado por graves erros. A forma como Anrath encara o sobrenatural, no entanto, difere-se de personagens como o Conan, que nutre certa aversão por feitiçaria.
A violência também é marcante, com batalhas, mortes e muito sangue. Anrath é um habilidoso guerreiro, que ataca todo aquele que vier ceifar sua vida, agindo sem piedade contra seus inimigos. A sensação de que este anti-herói já possui uma fama pré-definida atiça a curiosidade para que mais de seu passado seja mostrado, abrindo possibilidade para histórias da sua juventude, entre os vikings, e períodos posteriores. Quem sabe até um álbum de origem. Ou podemos continuar simplesmente da forma que está, com sua vida sendo apresentada aos poucos para os leitores.
O Coração do Cão Negro é mais uma prova do ótimo desempenho dos autores nacionais em criarem boas histórias, séries e personagens que não devem em nada para os quadrinhos publicados no exterior. Com boa mitologia, texto bem escrito e revisado e arte de ponta, o primeiro volume desta série é um dos grandes destaques dos quadrinhos brasileiros, e a edição e acabamento gráfico apresentados também são de ótima qualidade. Um segundo volume já foi anunciado e está previsto para ser lançado ainda em 2017.
Contos do Cão Negro Vol. I: O Coração do Cão Negro possui 64 páginas encadernadas em capa cartão no formato 28 x 21 cm, com preço de capa de R$ 39,90.