O Massacre da Serra Elétrica, de 1974, é considerado um marco para o gênero de horror. Idealizado por Tobe Hooper, o filme surgiu como um projeto independente que alcançou um sucesso inesperado devido a icônica figura de Leatherface, o grande vilão (e também protagonista) da franquia.
São quarenta e oito anos de história, de altos e baixos. Entretanto, diferente de outras sagas de slashers, O Massacre da Serra Elétrica sofre com uma série de longas-metragens problemáticos e pouco cativantes, salvando-se apenas pelo seu garoto propaganda que caiu no gosto popular, principalmente pelos idólatras de obras de terror clássicas.
Desconsiderando suas continuações lançadas nas décadas de 80 e 90, foram quatro tentativas de salvar a série, todas sem muitos resultados. Agora, com o lançamento de O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface pela Netflix (que comprou apenas os direitos de distribuição, o desenvolvimento é inteiramente da Legendary), a franquia tenta se reerguer diante uma sequência direta da produção lançada em 1974.
Quando uma viagem de negócios leva uma jovem, sua irmã mais nova e seus amigos pelas estradas do Texas, elas precisam sobreviver a um encontro fatal com o Leatherface.
Infelizmente, as adversidades com O Retorno de Leatherface se iniciam muito antes de sua chegada no streaming. Originalmente, a dupla Andy e Ryan Tohill foram contratados para dirigirem a continuação. Entretanto, poucos dias após o início das gravações (que começaram em Agosto de 2020), os irmãos foram trocados pelo cineasta David Blue Garcia, que iniciou as filmagens do zero após os executivos da Legendary não estarem satisfeitos com o trabalho dos Tohill; que por outro lado, não concordavam com a visão que a produtora tinha perante o projeto.
Um ano depois, a Legendary anuncia o cancelamento da estreia do novo O Massacre da Serra Elétrica nos cinemas, e divulgou que a obra cinematográfica será lançada com exclusividade no catálogo da Netflix. Muitos fãs ficaram preocupados com o destino do filme, mesmo o modelo de negócios ser comum entre os mais variados streamings desde 2018. Afinal, qual será o destino da saga? Pois não se engane, O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface não é uma redenção dos erros do passado.
Sua curta duração, atrapalha em seu desenvolvimento. Após cinco anos em hiato (Massacre no Texas, prequel de 2017, foi o último longa-metragem lançado), os idealizadores do projeto haviam um desafio em mãos: explorar a mitologia de um Leatheface idoso após os eventos de O Massacre na Serra Elétrica (1974). Logo, não haviam motivos para elaborar uma história de 1h 23m, mas sim, algo mais longo para se aprofundar na psique do serial killer que leva o seu nome no título.
Sua fraca introdução (porém inteligente, diga-se de passagem) serve como um breve resumo para os telespectadores. Em seguida, conhecemos o grupo de jovens que serão os protagonistas. Suas inserções são feitas de forma pouco cativante, e fica explícito que será cansativo acompanhar a jornada da equipe, dado que não há um princípio vital nas personas.
O vazio nas interações entre os amigos é tedioso, e ao contrário de outros filmes de terror, aqui suas atitudes não são estúpidas, mas sim, mesquinhas e soberbas. É um diferencial para O Retorno de Leatherface, contudo seria um elogio caso os aspectos fossem guiados de formas mais cuidadosas e menos apressadas.
A introdução de Sally Hardesty (Olwen Fouéré é a sua intérprete, uma vez que Marilyn Burns, a atriz original, faleceu em 2014) não empolga, principalmente quando o prólogo do enredo explica através de uma razão preguiçosa, o motivo de Sally nunca ter ido atrás de Leatherface até então. Hardesty estava sendo vendida como uma ”final girl”, no estilo de Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), de Halloween, no entanto as suas atitudes não chegam nem perto da coragem e determinação de Strode. A lentidão em tomar uma conduta essencial para situações de risco, faz com que o espectador se questione se era realmente necessário trazê-la de volta.
Há algumas adversidades em Leatherface, mas mesmo diante de uma trama debilitada por problemas externos, o vilão entrega aquilo que ele propõem desde a sua criação: fazer um verdadeiro massacre.
Sem quaisquer demonstração de sentimentos ao assassinar suas vítimas, o longa-metragem apresenta um lado mais humano do antagonista quando uma tragédia pessoal (causada por incompetência de terceiros) aflige a sua vida. Em contrapartida, ele não causa uma presença assustadora, mesmo sendo um indivíduo ameaçador.
É satisfatório ver Leatherface em ação, apesar do personagem tentar se distanciar do seu passado conturbado (é possível perceber a condição através de pequenas atitudes) e voltar à ação exclusivamente por um fator que ameaça sua ”existência”.
Lastimavelmente, toda a carnificina causada pelo sujeito não é suficiente para salvar o débil conto de O Retorno de Leatherface. O gore causado pelo elemento é pouco explorado, ainda que explícito em determinadas ocasiões.
O Massacre da Serra Elétrica: O Retorno de Leatherface utiliza da mesma fórmula de Halloween: ser uma sequência apenas do filme original desconsiderando suas eventuais sequências, reboots e remakes. Porém, se é proposto que ele seja uma continuação do original, é ilógico que Chris Thomas Devlin, Fede Alvarez e Rodo Sayagues (roteiristas) junto de David Blue Garcia e da Legendary, excluam elementos essenciais para a mitologia de Leatherface que são obrigatórios para qualquer obra cinematográfica do portador da famosa ”motosserra”.
A produção pouco se esforça em explicar por que Thomas Hewitt (Leatherface) se envolveu com uma nova personagem, tal qual o destino de alguns membros de sua família incestuosa. Em contrapartida, a sua cena pós-créditos deixa um sorriso no rosto e quiçá, é a melhor parte da película junto de seus créditos estilizados.
Fãs de O Massacre da Serra Elétrica terão mais uma decepção. Já, quem não conhece muito da franquia mas fica feliz em assistir à um filme de horror, irá se entreter na medida do possível.
NOTA: 2,5/5