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Primeiras Impressões | Girlfriend Girlfriend

Nem só de resenha semanal vive um redator, e por isso, voltaremos às origens para falar uma vez só de algo que acabou de sair, para talvez revisitar com outra postagem no futuro: Mais um “Primeiras Impressões“!

O animê de hoje se chama “Girlfriend Girlfriend” (No original, “Kanojo mo Kanojo“, カノジョも彼女), baseado num mangá com arte e roteiro por “Hiroyuki“, ainda inédito no Brasil. Até o momento, o show possui dois episódios, animados pelo estúdio Tezuka Productions, e com direção de Satoshi Kuwahara.

No Brasil, os direitos de exibição simulcast são da Crunchyroll, que disponibiliza a seguinte sinopse e trailer:

Naoya, o protagonista, está no primeiro ano do colegial. Ele se declara para Saki, sua paixão de infância, que aceita se tornar sua namorada. Sua vida não podia estar melhor, quando uma bela garota chamada Nagisa o convida para sair. Indeciso e incapaz de magoar uma garota tão gentil quanto a Nagisa, Naoya chega a uma conclusão inusitada, dando início a um novo tipo de comédia romântica!

Vamos começar falando do elefante na sala. Simplesmente não vai ter como termos uma conversa franca sem alinharmos expectativas quanto a isso, então precisa ser falado o quanto antes:
Sim, este é um show sobre um “trisal” adolescente. É um caso de poliamor que se encaixa na definição de dicionário do termo. Não há “mas”, não é “poréns”, as três personagens estão num relacionamento aberto e estão todas cientes disso.

Com isso dito, a pergunta que eu faço para você, leitor, é a seguinte: Isso te incomoda? Isso é um problema? E faço essa pergunta com a cara mais lavada do mundo. Não quero pagar de diferentão, de desconstruído, nem nada do tipo. A minha opinião sobre o assunto (e, sinceramente, a sua também!) não poderia ser menos importante. Estou simplesmente alinhando expectativas pro resto do texto.

A ideia do show é justamente usar essa situação, que é bastante “inusitada” (principalmente no contexto em que acontece), como fonte de humor. E tudo nasce a partir disso. Se isso for algo que te incomoda, o animê simplesmente não é para você. E tudo bem! Faz parte, cada um tem seu gosto. A única coisa que eu peço é a seguinte: Ao menos tente assistir, pensando que se trata de uma comédia. Você não precisa levar o conceito a sério, e isso independe da sua opinião sobre o quão real o poliamor pode ser na vida real. Pois isso é uma ficção, e o próprio show deixa claro que não está se levanto a sério. Por que você deveria levar?

As duas reações mais comuns ao ler a sinopse (Reprodução: Crunchyroll)

Pronto, chega, sermão dado, oração feita, expectativas alinhadas. Vamos falar do animê em si, agora que sabemos que estamos olhando para uma comédia:

Um dos tipos mais clássicos de humor japonês é o “Manzai“, onde temos um “cara sério” (chamado de “Tsukkomi“) e um “cara bobo” (chamado de “Boke“). A ideia desse tipo de show é que o “cara sério” serve como a voz da razão, e reage aos comentários absurdos do “cara bobo”. E por qual motivo eu estou explicando isso ao invés de falar do animê, como prometi no parágrafo anterior? Pois isso é essencial para entender o show.

Embora tenhamos apenas três personagens principais, eu diria que podemos enquadrar quatro “coisas” nos títulos anteriores: Temos três Bokes e um Tsukkomi. O “cara sério” é, claramente, a garota que parece ser a mais sensata do grupo, SakiSaki (ou apenas “Saki”). Não haveria nada demais nisso, se ela fosse um Tsukkomi tradicional, que simplesmente reage aos absurdos dos Bokes e corta o barato deles. Acontece que a Saki é um Tsukkomi muito fraco, ela não tem a frieza e o bom senso necessários para aguentar tanto absurdo. Afinal, ela precisa lidar com seu namorado, Naoya, e a namorada dele, a Nagisa, como Bokes. E, pra piorar, a própria situação em que eles estão pode se enquadrar como um gigantesco, onipresente e francamente genial Boke.

O que me fez dar tanta risada com os dois primeiros episódios de “Girlfriend Girlfriend” foi justamente essa dinâmica pouco comum, onde a Saki, não conseguindo segurar as rédeas da situação, acaba se juntando ao absurdo e cada vez mais se vê afundadando na areia movediça dos outros dois. É um caso semelhante ao que existe em “A Destructive God Sits Next to me“, embora lá, o protagonista “sério” tinha um pouco mais de “força” para segurar os seus Bokes. Não o suficiente, mas já gerava um tipo diferente de humor.

E já que estamos falando de personagens, o ponto alto do show, pra mim, foi o fato de que não tem um único que se salva ali. Tá todo mundo completamente biruta. Se erguer o braço, Deus leva. Mesmo a Saki, que deveria ser a pessoa mais sã entre os três, já está muito mais pra lá do que pra cá, e é justamente essa instabilidade dela que se encaixa tão bem com a honestidade do Naoya, e com a inocência da Nagisa, para nos dar uma dinâmica maravilhosa. É uma dinâmica um pouco “cringe“, para usar o termo da moda? Sim, com certeza. Especialmente quando os adolescentes começam a discutir sobre sexo. Mas a ideia é justamente essa, é engraçado justamente por ser vergonhoso.

Eu fiquei o episódio inteiro pensando nessa imagem do The Joker™

Falando um pouco sobre a parte técnica, eu tenho dois comentários indispensáveis pra fazer: O primeiro é sobre a qualidade da atuação de Sakura Ayane, a dubladora da Saki. Com um alcance de voz absurdo, ela conseguiu dar vida a todo o caos e volatilidade necessários para interpretar a garota. Em um momento, ela está falando normalmente, e na próxima frase, já está gritando como se sua vida dependesse disso. É esse tipo de reação exagerada (que todas as personagens tem) que fazem o Manzai ser engraçado pra mim, e ter uma dubladora tão talentosa como a Sakura Ayane trabalhando nisso facilita muito o humor.
O segundo ponto é o uso cirúrgico da trilha sonora e de efeitos sonoros para incrementar cada piada. Cada música e cada som foi colocado com uma maestria, que somente uma pessoa extremamente qualificada conseguiria tal proeza. O responsável é o diretor de som Satoshi Motoyama, que trabalhou em mais comédias do que eu posso contar, e tem o know-how pra fazer mágica com os ouvidos.

Vi muitos comentarem que “Girlfriend Girlfriend” lembra muito de outro mangá-que-virou-animê, “Rent-a-girlfriend” (no Brasil, foi adaptado para “Namorada de Aluguel” pela Editora Panini). E, de certo modo, lembra mesmo. Porém, eu não poderia ter tido uma experiência mais desagradável com “Namorada de Aluguel“, e o motivo é simples: Ele tentava ser levado a sério. Ele tentava ser uma história coesa e sensata. No final, ao tentar tocar uma trama de novela, as desavenças se destacaram muito mais do que o humor, e ficamos com um show sobre relacionamentos abusivos, ao invés de uma comédia.

É até bom eu ter tocado nesse assunto, pois é uma preocupação que eu tive assistindo “Girlfriend Girlfriend“: Isso parece que poderia se tornar um relacionamento abusivo muito rapidamente. Embora estejamos tratando tudo na brincadeira e na suspenção de descrença, é um desenvolvimento que poderia acontecer facilmente, se assim o autor desejasse. Eu espero que não, e que continuemos pensando apenas no absurdo da situação para darmos gostosas risadas.

Minha cara quando a comédia-romântica inevitavelmente vira um drama na segunda metade (Reprodução: Crunchyroll)

Com um humor absurdo e absurdamente bem bolado, “Girlfriend Girlfriend” foi uma das estréias mais divertidas da temporada, e será o animê que ficarei mais ansioso por assistir. Se fosse para dar uma nota para esses dois primeiros episódios, seria um sólido 9/10, e, claro, acompanhado do recado de que o show é melhor apreciado ao não ser levado a sério.

O animê está disponível na plataforma de streaming Crunchyroll, com legendas em português, e novos episódios todas as sextas.

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Primeiras Impressões | Heaven’s Design Team

Depois de anos escrevendo introduções onde falo que há novos animês sendo lançados com a mesma frequência de sempre, eu acabei ficando sem ideias para começar essa postagem. Mas, assim como a clássica “crônica sobre escrever uma crônica“, podemos ser metalinguísticos de vez em quando.
A questão é que depois de 2020 ter sido como foi, ficar sem palavras nem é tão estranho assim. Pelo menos o ano acabou, e com 2021 parecendo ser mais esperançoso, podemos ao menos fingir que haverá melhora, enquanto nos confortamos com um bom e velho show de humor. E esse aqui é justamente o que você precisa nesse momento!

Baseado no mangá – ainda inédito no Brasil – de Tarako, Hebi Zou, e Tsuta Suzuki, “Heaven’s Design Team” – o show que vamos tratar hoje – te dá logo de cara aquilo que é um dos pontos mais importantes para uma comédia: um clima animado e alto-astral. Embora seja possível (e alguns shows trabalham muito bem com isso), é difícil dar risada quando tudo parece deprimente.
Conseguimos esse clima com uma junção de diversas coisas, que se complementam de forma muito bem pensada: Um visual bonito e caricato no grau certo, com muita cor e liberdade artística (com destaque para Mijo Tanaka, responsável pelo design de cores); Um elenco de personagens divertido e que se completam, tornando toda interação uma interação interessante e com um grau de intimidadade que traz conforto; e uma trilha sonora que intensifica tudo isso (graças a nomes como Hayato Matsuo e Satoki Iida no controle musical).

Tendo como premissa um absurdo, é surpreendente pensar que o animê não é tão absurdo assim. Embora tenha suas eventuais cenas absurdas e que, até então, tiveram um timing decente, o quadro geral do humor do show está mais em quebra de expectativas.
Mas todo humor é sobre quebra de expectativas!“… Bem, sim. A diferença é pensar na quebra de expectativa desde o começo. Ainda é uma quebra de expectativa quando você sabe que a piada é justamente uma quebra de expectativa? Logo de cara você já percebe que tudo vai funcionar na base de incitar você a pensar em um animal, quando a resposta é outro, completamente diferente.

E é aí que entra a parte educacional do negócio. Temos pequenas esquetes ao longo dos episódios que contam algumas curiosidades sobre os animais citados, além de te mostrar uns filmezinhos reais no melhor estilo “documentário do National Geographic“.

Imagem do episódio 3 de "Heaven's Design Team"
Se você morre de saudades de aprender curiosidades de animais ao assistir TV Cultura, esse show é pra você!

Já aproveito o parágrafo anterior para fazer uma comparação impossível de passar batido, pois vai também nos ligar com o próximo ponto: Cells at Work! (Veja também: Primeiras Impressões | Cells at Work!). Ambos são shows com uma pegada extremamente semelhante de humor alto-astral e educativo, e com um início bastante forte. Por serem tão parecidos, é que eu tenho medo de Heaven’s Design Team sofrer do mesmo problema que Cells at Work! sofreu: Cair no marasmo de ser repetitivo demais.

Eu sei que a repetição é o primeiro princípio da comédia, mas como já comentei antes (nessa postagem aqui), a repetição precisa ser feita da maneira certa, ou fica repetitiva demais, e acabamos ficando cansados de mais do mesmo. Foi o que aconteceu com Cells at Work, que fez questão de nos dar uma introdução de um minuto todo episódio antes da música de abertura… Coisa que acontece também com “Heaven’s Design Team”.

Além disso, todo o lance “educativo” pode acabar ficando massante depois de um tempo. Apesar de serem esquetes divertidas e fofinhas, a maior parte das “curiosidades” passadas são coisas bastante comuns e conhecidas. Se você, assim como eu, possui um repertório de “conhecimento aleatório” gigante, os cortes acabam ficando entediantes. Além disso, existe a possibilidade de você simplesmente… Não se importar: Todos nós (ou, pelo menos, a maioria de nós) já saímos da escola, e ninguém tem mais saco para aulas de biologia, né?

Imagem do tema de encerramento do animê "Heaven's Design Team"
Não importa o quão legal seja uma luta de gigantes: Baleia x Lula; Kong x Godzilla… Uma hora, o negócio cansa.

Em resumo, o show me passou uma impressão muito positiva, com um humor amigável e bastante aberto para todos os públicos. A torcida é para que ele não acabe sendo repetitivo e mantenha o embalo até o final, coisa que eu queria muito que acontecesse, mas não estou com muitas esperanças. Porém, o que importa é o que tivemos até então, e até então, o animê fica com um 7/10 e um selo “Sessão da Tarde” de aprovação.

Heaven’s Design Team” está disponível com legendas em português na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios toda quinta-feira.

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Primeiras Impressões | The Misfit of Demon King Academy

Sejamos sinceros: você, eu, e todos os envolvidos nisso aqui sabemos exatamente com o que estamos lidando, e decidimos lidar com isso de qualquer maneira. Nós olhamos para a mais patética combinação de nome, título e sinopse, e imediatamente pensamos o quão idiota e ridículo seria esse show inteiro.
E justamente por isso que nós decidimos assisti-lo.

Detesto todas as generalizações e já disse um milhão de vezes que odeio exageros. Deveria ser claro para todos que a minha pessoa é a maior defensora de nunca julgar um livro pela capa e que devemos dar uma chance para tudo, pois sempre existe a possibilidade dela te surpreender.

…Mas esse não é o caso. “The Misfit of Demon King Academy” é exatamente tudo que você poderia ter imaginado, sem tirar nem pôr. Porém, estou aqui para fazer um comício sobre como isso não é algo ruim, muito pelo contrário!

Em tempos de incerteza, há um conforto calmante em saber exatamente o que esperar de algo. O Rei Demônio foi renascido e vai utilizar seus poderes ordens de grandeza maiores do que do resto da população para torcer a realidade à sua vontade? Claro que vai. O que mais ele faria? Quando você liga a TV ou acessa sua rede social e tudo que existe é o caos… Ter a possibilidade de simplesmente desligar o cérebro e aproveitar uma porradinha sincera e singela é uma bênção.

Quem não tem avó sentada no sofá, malha com castelo.

Confesso que por mais batido que seja o tema, e mesmo sabendo exatamente o que ia acontecer em cada situação, o show ainda conseguiu me pegar desprevenido algumas vezes, com um humor sucinto e eficaz. É surpreendente ver que souberam diferenciar momentos sérios de momentos cômicos, fazendo cada um deles mais impactante.

Claro que nem tudo são rosas no jardim do Rei Demônio, e precisamos comentar sobre o elefante na sala: Pelo amor de Deus que animê corrido jesus amado do céu. Tudo acontece numa velocidade frenética, não te dando tempo nem para respirar ou digerir qualquer informação que lhe foi dada. Eu tenho a impressão de que passamos por dez volumes de Light Novel em apenas dois episódios. O que é impossível, pois a novel original só tem cinco volumes publicados.

Isso é uma pena, pois parece que a história tem um aprofundamento interessante e um mundo com detalhes bacanas que poderiam ser explorados… Mas que passam quase desapercebidos por terem tão pouco tempo e muita informação pra passar de uma vez só. Qual a lógica por trás dos nomes dos feitiços? Alguém explicou o conceito de realeza que foi trazido umas cinco vezes no episódio? O que aconteceu para a história do Rei Demônio ser tão distorcida? O que diabos aqueles olhos mágicos deveriam fazer? Etc, etc, etc.

Chorando pois passaram voando pela sua introdução e nem deram tempo de te deixar fazer um monólogo de 17 páginas.

Na parte técnica, a animação do estúdio Silver Link. nos entregou cenas de ação mais bonitas do que um show como esse tinha qualquer direito de ter, e um design de personagens que faz cada pessoa ser distintamente ela mesma, sem parecer muito “animêsco”. A dublagem surpreende, ao trazer um protagonista experiente (Suzuki Tatsuhisa) para atuar com duas novatas na área (Natsuyoshi Yuuko e Kusunoki Tomori), trazendo confiança e renovação num só pacote.

Na prática, percebemos que “The Misfit of the Demon King Academy” não passa de mais um harém escolar mágico genérico que amamos, e serve como um lembrete de que um show não precisa ser bom para ser divertido. Definitivamente vale a pena conferir os dois primeiros episódios, se você souber o que está fazendo e já tiver experiência em atravessar mares conturbados. Para a estreia, eu daria uma nota 6/10, mas que no meu coração vale muito mais.

O animê pode ser assistido legalmente, com legendas em português e vídeos em alta resolução, na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios todos os sábados.

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Digimon Adventure: é um bom reboot sem apelar só para nostalgia

Digimon é uma das franquias de maior sucesso internacional do Japão, constantemente se reinventando com novos produtos, de jogos a animações. Produção original da Toei, a incursão mais recente do estúdio no universo de Digimon Adventure (ao qual pertencem as séries Digimon Adventure 01, 02, os filmes, e tri.) foi o filme Last Evolution Kizuna, disponível no momento apenas em terras nipônicas e que foi criado com a promessa de encerrar o ciclo da série original comemorando seus 20 anos de vida. Mas grandes franquias nunca terminam, sempre se transformam. E Digimon Adventure: (o “:” faz parte do título) chega na temporada de abril de 2020 para cravar essa máxima de forma certeira.

Um dos animês mais aguardados da temporada, Digimon Adventure: é um reboot da série clássica original de 1999. Taichi, Agumon e seus amigos Digiescolhidos irão novamente se aventurar no Digimundo, e agora de uma nova forma, pois como dito acima, esta nova série recomeça a franquia do zero.

Taichi, se preparando para um acampamento (uma óbvia referência à série original) vê sua mãe e irmã (Hikari, futuramente uma Digiescolhida) em perigo após uma pane nos sistemas de trem de toda Tóquio. Quando tenta salvá-las, acaba sendo levado ao Mundo Digital de onde a pane nos sistemas tecnológicos do mundo real está se originando por conta do ataque de um vírus misterioso.

Digimon Adventure: começa, em poucos minutos, referenciando o material clássico porém apresentando sua trama de nova forma, diferente. O reboot transparece essa vontade do estúdio de reapresentar a franquia para uma nova geração de crianças, respeitando os visuais clássicos que marcaram época e ao mesmo tempo trazendo novas músicas, trilha sonora distinta e criando um mix de situações que lembram a série Adventure e o filme Our War Game!, de 2001, apelidado de “o filme do Diaboromon“.

O design de série clássica é aplicado numa animação moderna, criando uma boa mistura das duas coisas.

E analisando apenas o que foi entregue no episódio de estreia, a Toei não poupou esforços em muitos aspectos técnicos que foram duramente criticados em séries anteriores do estúdio, como Dragon Ball Super. A animação deste Digimon está linda, e vale ressaltar que esta série vem como estreia do horário que era dedicado exatamente ao Dragon Ball, e depois, a GeGeGe no Kitaro.

É possível que os fãs da franquia original (e consequentemente do Adventure 2 e tri.) sintam de forma brusca as mudanças, colocando a primeira série ao lado desta. Não há menções a Butterfly ou Brave Heart. A trilha incidental é diferente. Detalhes como os brasões dos Digiescolhidos já são apresentados. A relação entre as crianças também parece tomar rumos completamente diferentes do original e o Digimundo propriamente não foi mostrado ainda, mas todas as mudanças são boas. Continua sendo Digimon, mas visando um novo público, enquanto ainda presta suas homenagens à história da franquia.

Taichi e Agumon se encontram pela primeira vez.

Parece que Digimon Adventure: terá um desenvolvimento mais lento e comedido que a temporada antiga. O primeiro episódio da temporada de 1999 introduzia os conceitos dos Digimons, do Digimundo, das primeiras Digievoluções e todos os principais Digiescolhidos de uma só vez no decorrer de seus 20 minutos. Este, traz apenas Tai e Izzy, com um gancho no final com outro herói querido dos fãs. E a aventura se situa apenas em Tóquio e na Net, trazendo também a nova forma de Digievoluir dos monstrinhos.

E a modernização dos visuais e desenrolar da história também é aplicada nas tecnologias. Depois de 20 anos, é previsível que a interação dos garotos com a internet, celulares e outros devices seja mais ligada diretamente ao funcionamento do Mundo Digital. Parte dessa interação foi muito usada em tri. e a promessa da Toei é de que agora os acontecimentos do Digimundo influenciarão diretamente na vida das pessoas na Terra, causando panes e possivelmente até mudanças naturais.

Digimon Adventure: moderniza o que os espectadores já conhecem muito bem sem apelar totalmente para o valor sentimental da coisa toda. O elenco de dublagem apresentado na estreia, porém, faz um bom trabalho em aproximar as vozes das características já conhecidas de cada personagem (Tai é dublado por Yuuko Sanpei, a dubladora que dá voz ao Boruto e outros personagens famosos), conversando também com o coração do fã de longa data. A nostalgia não é direta e barata, apelativa. Ela cria um sentimento que traz memórias distantes sem perder a sensação do novo.

E parte da magia de Digimon é justamente a recriação. A franquia possui muitas séries, algumas cronológicas e outras não, mas todas de alguma forma apresentam novidades respeitando conceitos pré-estabelecidos. E Adventure especificamente se prova como o mais sólido dos Digianimês, com fôlego para mais 20 anos de aventuras e amizade entre humanos e criaturas digitais.

A nova série está disponível no serviço de streaming Crunchyroll com transmissão simultânea com o Japão (aos domingos de manhã por lá, aos sábados à noite para nós no ocidente).

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Primeiras Impressões | Science Fell in Love, So I Tried to Prove it

No passado, já deixei duas coisas bem claras sobre mim: a primeira é que eu amo comédias, e a segunda, é que eu sou o famoso Químico da USP™. Então, quando vi que fariam uma comédia estrelando cientistas… Inicialmente tive alguns traumas mentais. Mas quando botei o pré-conceito do Bazzinga de lado, dei de cara com uma enorme surpresa. É justamente quando você imagina que já inventaram tudo quanto é possível, que você é pego desprevenido por algo que nunca estava esperando. O terceiro princípio da comédia pode ser aplicado tanto para o show em si, quanto para sua premissa.

SciLove (que eu abreviarei por preguiça) é tudo aquilo que uma comédia deveria se inspirar. Por ser o mais puro suco de desgraçamento mental que eu vi nos últimos tempos, englobando tanto a normalização do absurdo quanto o clássico Manzai na sua fórmula de RomCom, o show consegue agradar um público bem vasto de admiradores do humor.

Porém, acredito que o animê seja especialmente tragicômico para quem está familiarizado com a temática e ambientação dele: a pesquisa científica universitária. O choque de realidade foi tão grande que chegou a dar um aperto no coração, pois mesmo sendo de áreas diferentes (no show, eles são das Ciências da Computação, enquanto eu trabalho com Química), parece que todo laboratório é igual, né… Os mestrandos e doutorandos discutindo temas completamente tangentes ao trabalho; os graduandos perdidos e sem saber o que fazer da vida; o orientador – e responsável pelo laboratório – não dando as caras por dias; literalmente todo mundo usando o espaço do laboratório para tomar café e jogar joguinhos ao invés de fazer algo útil…
São detalhes que podem passar como piadas – e muito provavelmente são, mesmo! – mas que, como toda piada, têm um fundinho de verdade.

Pessoas de fora da área tentando achar graça do parágrafo anterior.

Outro ponto que o show trabalha magistralmente é a (sub)utilização de conhecimentos científicos. Já cheguei a ter crises em outras postagens por conta do maldito Gato de Schrödinger sendo citado erroneamente em tudo quanto é obra pseudo-cult, e quando SciLove parafraseou Pitágoras em seus primeiros VINTE SEGUNDOS, eu estava preparado para o pior. Felizmente, eles parecem saber o que estão fazendo desta vez, e tem até uma pequena esquete todo episódio onde um ursinho de pelúcia te ensina algum termo técnico na base da porrada.
E mesmo quando eles cometem algum erro teórico ou abusam um pouco da boa vontade da audiência, fica tudo dentro da licença poética e acaba virando o mote para alguma piada, exatamente como deveria ser.

Pessoas da área vendo um animê querendo ser edgy e citando o Gato de Schrödinger de forma errada pela 37ª vez.

Como nada é perfeito, eu tenho uma única reclamação sobre o animê. Ou melhor, uma INDIGNAÇÃO sobre moda. Sim, moda.
Esses caras são da área de ciências da computação. Eles trabalham com dados, números e computadores. O material mais perigoso que existe dentro daquele laboratório são as latas de cerveja na geladeira. POR QUE DIABOS ELES USAM JALECO?
Tá bom, tá bom, eu entendo que o jaleco acaba sendo mais uma ferramenta de roteiro e uma forma de arraigar o esteriótipo de “cientista” nas personagens, eu sei disso… Mas nossa, que ódio sobrenatural que me deu!
A pior parte é que, mesmo que eles PRECISASSEM usar jaleco (coisa que não precisam), eles estão quebrando umas vinte e sete regras de segurança ao vestir o jaleco com saias, bermudas, chinelos, calçados com salto, meias-calças, cabelo solto…

Tenho que confessar que eles ficam legais de jaleco.

Na parte técnica, não tenho muito o que comentar. O show é extremamente feijão-com-arroz e traz aspectos bem medianos tanto em arte, animação, direção, música e dublagem. Se bem que, nos dias de hoje, estar na média em todos esses quesitos por três episódios inteiros já é mais do que o esperado, não é? Cortesia do estúdio Zego-G (que animou “Grand Blue” e “My Roommate is a Cat“), com direção de Tooru Kitahata (responsável por, entre outros títulos, “Haganai” e “Hinako Note“).
Se bem que, tanto a Opening quando a Ending são excepcionalmente boas.

Resumindo: uma comédia de rachar o coco de tanto rir, que funciona muito bem para o público geral, e tem um gostinho especial para quem já adentrou esse mundo. Estou positivamente surpreso com a qualidade do show e da força de seus primeiros três episódios, e não poderia dar uma nota menor que 9/10 para a minha primeira estreia de 2020.

Você pode assistir Science Fell in Love, So I Tried to Prove it na plataforma de streaming Crunchyroll, com novos episódios disponíveis, com legendas em português, toda sexta-feira.

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Primeiras Impressões | ASSASSINS PRIDE

Esse show é exatamente o que você está imaginando, e é exatamente o que se propõe a ser. Dessa forma, não há muito o que comentar, além de chover no molhado: puta merda bicho, lá vamos nós de novo.

No início da década de 2010, vivemos o auge de um gênero conhecido (por mim, ao menos) como “Harém Escolar Mágico Genérico“. O nome diz tudo, e se você assistiu alguma coisa dessa época, com certeza sabe do que eu estou falando.
Por conta da explosão do isekai, os haréns escolares mágicos genéricos entraram em decadência, e passaram a ser exemplar raro ultimamente. Mas quando encontramos um…

Apenas membros de famílias nobres detêm o Mana, um poder que lhes torna capazes de enfrentar monstros. Kufa é um nobre, nascido numa família de duques, que é enviado para tutorar uma jovem chamada Merida. E em segredo, Kufa é encarregado de assassinar Merida caso ela não demonstre talento para utilizar o Mana. (Via: Crunchyroll)

Baseado numa Light Novel de mesmo nome, com autoria de Kei Amagi e ilustrações de Ninomotonino, ASSASSINS PRIDE é uma enorme reunião de tudo aquilo que torna um harém escolar mágico genérico em um… Bem, um harém escolar mágico genérico: o protagonista Kiritoface; as dezessete garotas, cada uma se encaixando em um estereótipo já conhecido; as roupas espalhafatosamente ridículas; o worldbuilding absurdo e que mesmo sendo cortado a menos de 10% do material original, continua sendo extremamente cansativo e repetitivo na adaptação; as batalhas escolares que por algum motivo colocam a vida dos estudantes em muito mais risco do que deveriam… E por aí vai.

De verdade, eu realmente não tenho nada a acrescentar sobre ambientação, sobre as personagens ou sobre a trama. É tudo tão engessado, é tudo tão clichê, que você já sabe do que se trata ou como as coisas vão se desenrolar. O que eu posso comentar sobre, porém, são as qualidades que diferenciam esse show dos seus antecessores.

A começar pela qualidade gráfica: eu não fazia ideia de que era legalmente permitido ter um harém escolar mágico genérico com visuais tão bonitos e consistentes. Não só as personagens, mas a cidade e o mundo são belos, e tanto as sequências calmas quanto as cenas de ação são coreografadas com uma maestria que parece estar sendo desperdiçada em um animê desse nível.
Até o episódio 3, tivemos algumas sequências de combate que foram de tirar o fôlego. Por mais que eu não entendesse metade dos motivos pelos quais as lutas estavam ocorrendo, ou que eu realmente não desse a menor bola para quem fosse sair vencedor, a violência gratuita foi tão gostosa de se ver que eu acabei gostando.

O negócio tá caprichadíssimo, e eu não sei como lidar com isso.

Outro ponto, que é aquele que sempre nos deixa com uma pulga atrás da orelha, é o excelentíssimo elenco de dublagem: temos nomes que claramente não deveriam estar emprestando suas vozes para algo desse naipe e talvez pudessem estar trabalhando em algo melhor, como Yuuki OnoYui IshikawaAzumi WakiMaaya UchidaTatsuhisa SuzukiAyane SakuraAsami Seto… Sinceramente, tirando umas duas dubladoras que estão em início de carreira, todo o elenco parece ser areia demais para o caminhãozinho de ASSASSINS PRIDE.

Como se pode imaginar, a dublagem está num nível altíssimo, com cada ator conseguindo trazer o melhor – e o pior – de sua personagem de uma forma que beira o inacreditável. Um detalhe que eu adorei foi como o protagonista, Kufa (dublado por Yuuki Ono) é um assassino treinado para esconder suas emoções, e mesmo nos momentos mais acalorados e intensos que tivemos até agora, ele conseguiu se manter calmo, e ainda assim passar todo o entusiasmo da cena. Como eu disse, inacreditável.

Vazaram cenas da versão dublada do animê, confira:

Apesar de parecer bonito e soar bonito (a OST e o uso musical no geral também são pontos a se exaltar), o animê continua sendo apenas o que é: um harém escolar mágico genérico, com uma construção de mundo ambiciosa demais e que foi transformada em frangalhos pela adaptação absolutamente acelerada, onde metade da história parece não estar sendo contada para você – e não está mesmo! – e todo o desenvolvimento parece voar pelos seus olhos… No quesito “direção“, o show é um caos, com todos os defeitos que poderiam ser imaginados, e há pouca coisa que uma pessoa que não teve contato com o material original pode fazer quanto a isso.

Quando se esforçam para te fazer o mais adorável possível, mas ainda assim o seu show acaba sendo uma shitstorm

No geral, a pergunta que fica é: você embarcaria no Titanic, mesmo sabendo que ele vai afundar e lhe causar uma morte terrível? Eu embarcaria. As partes boas conseguem sobrepujar as enormes falhas, que acabam sendo muito mais toleráveis quando é a sua quinquagésima vez lidando com elas, e o show consegue ser divertido. Para a estreia, minha nota é um surpreendente 5/10, pois sei que nem todo mundo tem a paciência de lidar com esse tipo de abobrinha.

Você pode assistir ASSASSINS PRIDE na Crunchyroll, que fornece o serviço de transmissão simultânea com o Japão e legendas em português, com novos episódios todas as quartas-feiras.

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Primeiras Impressões | Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba e Hitoribocchi

Mais uma temporada de animes se inicia e estou aqui mais uma vez para dar minhas primeiras impressões sobre as estreias da Primavera 2019. Nessa temporada, irei juntar alguns animes e fazer em um texto só. Meus colegas de equipe farão como eles quiserem.

Já adianto, essa temporada está bem fraca. Pra esse primeiro post, trouxe dois animes distintos: uma das grandes promessas e uma maravilhosa surpresa. Vamos lá!

Demon Slayer: Kimetsu no Yaiba

Um dos grandes destaques da temporada. Além de ser um mangá da Shounen Jump, que divide opiniões pra falar a verdade, ele está sendo produzido pelo estúdio Ufotable, bastante conhecido pelos fãs da franquia Fate/.

Uma sinopse rápida:

Após ter sua família morta por um Oni e ter sua irmã transformada em um, Tanjiro sai em uma jornada para tentar reverter a transformação e encontrar o responsável pelos eventos.

Bom, nesse primeiro episódio, o anime começou com o pé direito, eu diria, mas com algumas ressalvas. Há quem ame ou odeie o estilo de animação da Ufotable, mas não dá pra negar que funciona quando o assunto é fazer cenas de ação.
O uso de CG em algumas cenas me incomodaram, pois nenhuma delas precisava ter computação gráfica, eram cenas simples como o Tanjiro se virando ou andando. Sem falar no pombo, que ficou feio, mas aí sou eu fazendo nitpicking.

Sobre Tanjiro e Nezuko, nossos protagonistas, é muito cedo pra falar, foi só o primeiro capítulo. Mas o que deu pra perceber é que Tanjiro encarna o espírito do protagonista de shounen sem nem titubear.

Em termos de direção e composição de série, o anime é simplesmente copia e cola do mangá. É tudo igual, os caras não inovaram em nada, é basicamente o mangá em movimento.

Há bastante diálogos internos que não se encaixaram, são basicamente monólogos no meio das cenas e que quebram o ritmo. Falando em ritmo, o de Kimetsu no Yaiba é muito acelerado e não sabe a hora de parar e terminar o episódio, pareceu 2 episódios em 1.

No geral, promete ser um ótimo anime de lutinha pra acompanhar, e estou torcendo para que a animação dos poderes da abertura, sejam a mesma do anime em si. Aliás, baita abertura.

Foram confirmados 26 episódios para o anime, mas não foi dito se será 2 cours ou split-cour. O anime está disponível na Crunchyroll.


Hitoribocchi no Marumaruseikatsu

Cara… o que falar dessa MARAVILHA?

Não sou muito chegado em animes totalmente moe sem muito foco em narrativa, o máximo que devo ter aguentado foi Yuru Camp, lançado em 2018, mas Hitori Bocchi me pegou em cheio.

A história segue Bocchi, uma menina tímida que tem que criar laços com toda sua turma do Ensino Médio, por conta de uma promessa feita com sua única amiga de infância. É baseado em um 4-koma e produzido pelo estúdio C2C.

Eu obviamente me identifiquei com a Bocchi, mas ao contrário dela, as pessoas que vinham até mim (por bem ou por mal), então não adiantou nada no meu caso. As situações em que a Bocchi acaba parando, para conseguir ser amiga da Nako são hilárias e, de certa forma, idiotas, mas acabam funcionando por conta da direção. O timing cômico é excelente, e consegue dividir bem atenção com os momentos dramáticos.

Em questão de animação, o anime é bom naquilo que se propõe, não precisa de muito para funcionar.

Os problemas de relacionamento no Japão (e no resto do mundo) são bem conhecidos por suas extremidades, você pode ir do céu ao inferno. Não irei comentar muito, pois vem de uma visão ocidental, e o anime nem toca TANTO nesse assunto, pelo menos no primeiro episódio.

A trilha sonora contém SAMBA, só isso é o suficiente.

Hitoribocchi no Marumaruseikatsu terá 12 episódios e também está disponível na Crunchyroll.


Iria ter um terceiro anime nesse post, Mayonaka no Occult Koumuin, mas é muito chato e acabei dormindo. Tem na Crunchyroll pra quem quiser ver.
É isto, em breve volto com mais animes!
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Primeiras Impressões | The Quintessential Quintuplets

Tá bom, eu sei que estamos aqui para comentar sobre o animê e tudo mais, mas de verdade, deixa eu repassar uns números pra vocês antes, pode ser?

Segundo um relatório da National Vital Statistics dos Estados Unidos (semelhante ao IBGE), nascem no território do Tio Sam, em média, sessenta quintupletos (ou múltiplos maiores. Depois de cinco, não vale muito a pena separar os casos) por ano. Considerando todos os nascimentos, as chances estimadas estão em torno de um caso em cada sessenta milhões (1:60.000.000).

Com uma pesquisa rápida no Google, você descobre que as chances de ganhar na Mega-Sena, com uma aposta mínima, é de uma chance em 50.063.860.
Os pais dessas meninas podiam ter ganhado na loteria, mas preferiram gastar a sorte deles ao parir quintupletos. Mas sinceramente falando, se você soubesse que suas cinco filhas seriam tão bonitinhas assim, você não aceitaria esse negócio também? Ninguém pode te julgar.

Voltemos ao que interessa, porém, e falemos do negócio em si. Baseado num mangá por Negi Haruba, “Gotoubun no Hanayome” (lit. “As noivas quíntuplas“) está em publicação desde 2017 na Shounen Magazine, e foi licenciado nos Estados Unidos pela Kodansha no meio do ano passado. O autor não tem lá muitos trabalhos anteriores, mas tem uma ótima arte e parece conseguir se virar nos roteiros.

Falando em roteiros, existem algumas situações na ficção onde fica claro quando o autor está tentando ser autobiográfico e quando ele está tentando escrever uma obra de autorrealização. Mas sabe que olhando para QuiQui (Essa não é a abreviação oficial mas ninguém vai me impedir de usá-la), o cara provavelmente fez os dois ao mesmo tempo.

Digo, dá uma olhada na situação: Um cara solitário e pobre, mas que é muito inteligente e tem boas intenções. Esse é, com certeza, o maior self-insert da história.
Aí você olha pro outro lado e vê cinco garotas lindas e milionárias que estão desesperadamente necessitando da sua ajuda e estão dispostas a pagar para ter você na casa delas. Ok, colocando dessa forma isso soou estranho… Mas essa dubiedade até que ajuda o meu argumento: É ou não é um sonho frustrado sendo realizado na ficção?

Mais uma vez, a dubiedade defende meu argumento.

Algo que eu achei incrível, porém, é que mesmo sendo um pedaço de papelão com buraco no rosto para você encaixar o seu próprio, o protagonista – Futaro Uesugi – conseguiu se mostrar como uma pessoa de personalidade e que é gostável, não apenas por ser fácil de se identificar com, mas por ter suas próprias características e trejeitos.

E as garotas… Ah, o que falar dessas garotas, hein? Tem a Nakano, a Nakano, a Nakano, também a Nakano e por fim a Nakano… São todas boas garotas. É, elas são irmãs e eu me recuso a chamá-las pelo primeiro nome pois chamar cinco personagens da mesma forma é muito mais engraçado. E como sabemos, não tem muito o que falar individualmente de cada uma, sem causar a temida waifu war que é sempre o maior centro de atividade em animês harém. Então eu uso desse artifício para poder dizer sem medo que a Nakano é a melhor garota.

Piadas a parte, as garotas caem muito facilmente nos estereótipos mais comuns do gênero: Temos a Tsundere, a garota quieta, a Tomboy esportista, a garota alegre e hiperativa, e a garota que eu gosto de chamar como “A ‘normalque claramente vai vencer pois está na capa da obra“. Apesar de serem irmãs gêmeas, a única coisa que as liga é o sobrenome e a burrice. E admito que o autor teve o talento de transformar essa incapacidade intelectual das personagens em charme. Somado com o character design que já é de ponta, cada protagonista se torna especial e notável.
Claro, dentro dos padrões de haréns.

A cara da sua waifu ao descobrir que ela será esquecida e trocada por outro daqui três meses.

E agora voltando às piadas, que deixamos de lado no parágrafo anterior, o show se trata de uma comédia romântica, e portanto, deve ter um aspecto cômico e um aspecto romântico. Podemos dissecar ambos e falar sobre um de cada vez.
A comédia é suave e singela. Não é aquele tipo escrachado de humor, onde situações absurdas ou punchlines acontecem a cada dez ou quinze segundos. É um humor mais elaborado, mais lento. Eles preparam uma piada por alguns minutos, deixam ela marinando até chegar no ponto, e conseguem soltar com um timing que até então foi impecável. Não é um animê onde você passa mais tempo rindo do que assistindo, mas que consegue ser divertido de forma mais “chique”.

De forma semelhante, o clima “romântico” da obra também fica só no ar o tempo inteiro, sem nunca se estabelecer por completo. Pelas primeiras cenas do show, fica claro que o protagonista irá se casar com uma das garotas (OH MEU DEUS COM QUAL DELAS SERÁ?), fazendo com que toda a duração do animê se torne uma versão nipônica de How I Met Your Mother. Eu acho, nunca assisti How I Met Your Mother. Mas é interessante acompanhar como Futaro se esforça para ganhar a confiança das irmãs, uma a uma, para que possa enfim tentar ensinar alguma coisa para elas. E em troca, ele acaba também aprendendo a lidar melhor com pessoas. Pode até não ser amoroso, mas é isso que relacionamentos são, e QuiQui coloca os pingos nos i’s nesse quesito.

Nas palavras de Ted Mosby: “É quase que insano a quantidade de coisas que aconteceram em apenas um dia e meio…” – How I Met Your Mother S09E20

Por fim, eu preciso dedicar um parágrafo inteiro para falar sobre o elenco de dublagem desse show. Com uma equipe praticamente inteira composta por profissionais AAA, chega até a ser suspeito. Minase Inori, Hanazawa Kana, Taketatsu Ayana, Sakura Ayane, Itou Miku e Matsuoka Yoshitsugu são quem dão as vozes para as seis personagens principais. Se você acompanha o cenário de dublagem japonês, você com certeza reconheceu praticamente todos esses nomes. E se não acompanha, com certeza reconhecerá as vozes quando ouvi-las. São gigantes da indústria trabalhando em conjunto para fazer uma animação legal.

Quando olhamos para esse elenco todo, sempre se levanta aquela suspeita. Afinal, não é nada incomum você ter haréns genéricos (como é o caso) onde a única função é vender bonequinhos e CDs de música. Consigo pensar em uns dez casos só de cabeça, onde a história é negligenciada pois eles sabem que ninguém se importa, afinal, eles só precisam vender os singles.

Mas isso não é uma preocupação, por enquanto, com QuiQui. Apesar de ter certeza que eles vão ganhar toneladas de dinheiro com os respectivos bonequinhos e CDs (inclusive confesso estar tentado), a trama parece estar se levando a sério o suficiente para ser aproveitável em si própria.

Assim, The Quintessential Quintuplets trouxe uma boa impressão, e começa a temporada com um confortável 7/10, me deixando bem ansioso por novos episódios.

Você pode assistir ao show na Crunchyroll, que traz novos episódios todas as quintas-feiras, com legendas em português.

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Primeiras Impressões | The Rising of the Shield Hero

Se tem uma coisa na indústria de animês que está mais saturada que o Reclame Aqui depois da Black Friday, com certeza é o gênero “isekai“. Eu sou um cara que gosta de clichês e que curte sempre as mesmas coisas repetidas vezes, mas mesmo pra mim… Putz mano, isekai já tá forçando a barra, não é mesmo?

Acontece que japonês é um povo estranho e não pensa assim, e continuamos com nossa leva sem fim de animês isekai sendo adaptados das mais diversas fontes. E como você pode imaginar, o que vamos falar hoje é justamente um isekai vindo de uma Light Novel.

Escrita por Yusagi Aneko, “Tate no Yusha no Nariagari” (lit. “A ascensão do herói do escudo“), como você pode suspeitar, fez relativo sucesso lá pela terra do sushi. Vendendo aproximadamente 3,3 milhões de cópias, recebeu adaptação em mangá, spin-offs e tudo que você tem direito.
Só quando foi licenciado nos Estados Unidos, pela One Peace Books, que sua “fama” cresceu no oeste. E eu uso as aspas pois a fama que Shield Hero tem no ocidente não é nada boa.

Você raramente vai me ver falando sobre assuntos polêmicos “da atualidade” pois do meu histórico, a maioria das pessoas que falam, não sabem do que estão falando. Eu incluso! Por isso, prefiro apenas omitir minha opinião sem embasamento (e queria que mais pessoas fizessem o mesmo). Mas quando o dever chama, acabamos precisando comentar. E é o caso aqui. A tal “infâmia” de Shield Hero se dá por conta de alguns temas delicados no ocidente.

Basta ler a sinopse, que você já identifica o primeiro: o protagonista, Naofumi Iwatani, é – falsamente – acusado de assédio sexual, e perde praticamente tudo que tinha recebido ao chegar no mundo alternativo. É um assunto complicado, ainda mais nos dias atuais, onde mais e mais alegações de assédio surgem na mídia. Foi um lançamento na hora errada, e no lugar errado.
Já o segundo não está tão escancarado, mas nota-se logo de início: como o autor e sua personagem principal lidam com o já famoso tropo de “escravidão num mundo alternativo“. Acho que não preciso entrar em detalhes sobre qual a causa da discórdia aqui, né?

Aquele momento que a personagem secundária é self-aware.

Da mesma forma que recentemente tivemos um surto da utilização da violência sexual como ferramenta de roteiro (Goblin Slayer, Sword Art Online Alicization, entre outros), vemos as alegações contra Shield Hero dividindo opiniões. Há quem diga que é apenas uma ficção e que esse tipo de ação só serve como engrenagens para girar a obra; e há quem diga que essas coisas são inaceitáveis, independente de qual o meio ou por qual motivo elas são empregadas.

Qualquer que seja sua opinião sobre o assunto, acontece que o autor já escreveu o negócio, e tal negócio já foi adaptado em animação, e cá estamos nós. Eu estava legitimamente surpreso com a qualidade da escrita nos primeiros momentos da obra. A reação das personagens aos acontecimentos eram muito reais e convincentes, dentro do pouco que nós conhecemos delas. Nos quarenta e tantos minutos iniciais da obra (que teve um primeiro episódio duplo), eu realmente me vi simpatizando com o pobre herói do escudo.

Mas… O resto dos episódios aconteceu. A história e o protagonista deram uma virada tão grande, tão rápidos, que eu quase fiquei zonzo. Do nada, tudo se tornou sombrio e forçado demais, parece que o autor se esforçou pra fazer com que o roteiro se tornasse o mais edgy possível. Forçou tanto, que acabou fazendo até com que sua personagem principal se descaracterizasse completamente. O pior é que logo depois, ele começa a mesclar as “duas personalidades” do cara, e o herói do escudo se torna um herói inconsistente, tentando ser edgy e fofo ao mesmo tempo. Simplesmente não dá.

Outro ponto a se levantar é sobre a construção de mundo. Não é incomum uma ambientação acabar sendo muito mais legal do que uma história (como eu vivia dizendo sobre Re:Zero). E o mundo de Shield Hero é um desses casos interessantes… Ao menos no papel.
Um reino com profecias antigas proclamando o fim dos tempos; problemas sociais e preconceitos conduzindo o subconsciente popular e corrompendo pessoas; uma sociedade matriarcal, onde a mulher é a autoridade maior. Mas quando vemos a realidade, temos apenas uma trama genérica sobre heróis que salvarão o mundo; uma sociedade escravocrata e que não tem nenhum desconforto com o seus preconceitos; e um reino matriarcal que é governado… Por um homem. São boas ideias, mas que ficam só no campo das ideias mesmo e nunca são executadas.

Ao menos a gente consegue salvar qualquer coisa através de memes, não é mesmo?

Quando olhamos para a parte técnica, porém, não há nada sobre o que reclamar. A animação está linda (pelo estúdio Kinema Citrus), a dublagem me deixou boquiaberto (meus destaques vão pro Kaito Ishikawa, Yoshitsugu Matsuoka e pra Asami Seto, o Herói do Escudo, o Herói da Espada e Raphtalia, respectivamente), as músicas fazem jus ao momento (por Fumiyuki Gou), e por mais conturbado que seja o material original, a direção fez o que pôde para torná-lo assistível (palmas para Takao Abo). É uma equipe e tanto trabalhando para tentar tirar leite de pedra.

A conclusão que se pode tirar é que se não parecesse tanto ser uma ficção de auto-realização vingativa, o show poderia ser melhor. Ele tem algumas ideias boas e algumas personagens interessantes, o único problema é que tudo isso é deixado em segundo plano, para dar foco a uma vingança forçada e que se esforça para parecer “adulta e sombria”, quando na verdade acaba tendo um efeito contrário, fazendo-a parecer boba e sem sentido.

Com o que temos pra hoje, a obra fica muito abaixo do que poderia ser, e embora ainda seja assistível, beira o medíocre e não traz muito divertimento. As primeiras impressões sobre o herói do escudo o deixam com uma nota de 4/10, e só podemos torcer para que o desenvolvimento da trama faça com que as partes boas sobreponham as partes ruins, que tiveram o foco até então.

Você pode assistir a The Rising of the Shield Hero pela Crunchyroll, que faz a transmissão simultânea com o Japão, com novos episódios todas as quartas-feiras.

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Primeiras Impressões | The Promised Neverland

Desde que começou a ser publicado em 2016 na Shounen Jump, The Promised Neverland vem batendo recordes e mais recordes de vendas. Então, a chegada do anime era mais do que óbvia. Assim, em Janeiro de 2019, o anime enfim estreou.

Antes de começarmos, eu estou em dia com o mangá, então sei o que estar por vir em The Promised Neverland. O primeiro arco, que o anime adaptará ao longo de seus 12 episódios, é de longe o melhor do mangá, e onde, na minha opinião, a história deveria ter finalizado. Os arcos posteriores tiveram uma queda na qualidade, e o atual, é meio difícil prever o que pode acontecer, mas posso afirmar, que não chegará aos pés do primeiro. Não chegam a ser ruins, mas, né?

Enfim, que primeiro episódio excelente, não é mesmo?

Admito que quando escolheram o CloverWorks como estúdio, eu fiquei um tanto preocupado. Era um estúdio recém formado, que tinha acabado de ficar independente da A-1 Pictures, e com bastante projetos já anunciados.

Darling in the Franxx, que foi feito em parceria com a A-1 e Trigger, foi um pouco decepcionante em seu roteiro e o mais recente, Bunny Girl, não é lá essas coisas, nem de direção, nem de animação. E os outros animes que o estúdio apoia, como a terceira temporada de Fairy Tail, bem… é triste. Porém, fui surpreendido.

A direção e o storyboard conseguiram transmitir tudo aquilo que o mangá conseguiu quando foi publicado. A tensão, o sentimento de que “vai dar ruim”, percorre por todo o episódio. A sequência da Emma e Norman após saírem do orfanato é sensacional. A trilha sonora, assim como a abertura e encerramento, são de arrepiar.

A edição também está muito boa, destaque para a cena na cerca após o pique-esconde, quando um personagem decidia falar, havia um close na cara por 1 segundo e depois abria para o plano geral.

Protect

Sobre os personagens, ainda é muito cedo para falar sobre eles. Aos poucos eles serão desenvolvidos, mais especialmente o trio principal, Emma, Norman e Ray.

Emma é a nossa protagonista de shounen padrão, sempre bem animada, tentando levantar a moral; Norman é o cérebro da equipe, é de onde partirão as estratégias; e o Ray é  frio e calculista, um mini-Sasuke. Terão várias revelações sobre o mundo em si, e ver como esses personagens vão reagir a isso, será bem interessante. A Isabella, já adianto, é uma boa personagem, que será bem explorada nesse arco. Se preparem para a enxurrada de teorias que surgirão pela Internet.

Os próximos episódios se focarão em batalhas mentais, enquanto as crianças tentam fugir. Não é impecável, tem bastante bullshit, mas é até que bem feito.

A direção de The Promised Neverland está nas mãos de Mamoru Kanbe, conhecido por Elfen Lied, que eu não assisti; Oono Toshiya é o responsável pela Composição de Série; Shimada Kazuaki pelo Design de Personagens; e Obata Takahiro na Trilha Sonora.

Se manter essa qualidade pelos próximos 12 episódios, podem ter certeza, The Promised Neverland será um dos melhores animes do ano.

The Promised Neverland está disponível pela Crunchyroll. Já o mangá, é publicado pela Editora Panini.