Sei que vai ser difícil de acreditar, mas é verdade, então leia tudo até o fim. Faça isso, por favor! Apesar de estarmos falando de um animê, com um nome pouco chamativo e que provavelmente já te passou uma péssima primeira impressão, fazendo você achar que Japonês é um povo estranho… Dessa vez, tem algo a mais nisso. Algo que você precisa ver com seus próprios olhos. Dessa vez, até que animê não foi uma ideia tão ruim assim.
Fica bem fácil de saber que esse animê é baseado numa Light Novel, não fica? Digo, os sinais são óbvios: um nome longo e que descreve (ao menos) metade da sinopse; Nome, aliás, que soa ridículo para qualquer pessoa que já não esteja acostumada com esse tipo de coisa; Uma garota bonita na capa em alguma situação inusitada; Estrutura em arcos que fica óbvio onde cada volume acaba e onde o próximo começa… Poderia ficar aqui por horas, mas meu papel nessa postagem é outro, né?
Sabe o que é importante sobre uma Light Novel? Seu Autor. E o da Novel que deu origem a este animê é um já bem conhecido pelos fãs de melodrama adolescente: Hajime Kamoshida. Esse japonesinho com cara de simpático já passou pelas Primeiras Impressões quando o Luís comentou sobre Just Because!, quase um ano atrás. Se você assistiu a última obra adaptada do homem, sabe exatamente o que esperar disso aqui.
O estilo de escrita dele continua o mesmo, só mudando o enfoque: enquanto Just Because! se destacou por ser extremamente realista e pé no chão, Bunny Girl (que, desculpem, vou abreviar) parece ser uma primeira tentativa de trazer o sobrenatural para seu repertório.
E rapaz… Não é que ele está acertando em cheio?
Para explicar como que o nosso autor predileto consegue manter sua escrita “humanizada” enquanto parte para histórias além da compreensão humana, precisamos analisar justamente os humanos que estão inseridos nessa história: suas personagens.
Basta olhar para trás, que você verá o histórico do cara com seus protagonistas: tanto o Sorata de Sakurasou no Pet na Kanojo, como o Eita de Just Because! são farinha do mesmo saco. Apesar de terem suas próprias peculiaridades que conseguem distingui-los bem, eles têm um ‘esqueleto’ em comum: sua boa vontade e bom coração, sempre buscando ajudar os outros, mas cercado por diversas camadas de ironia e sarcasmo, que vão sendo derrubadas (e, às vezes, reconstruídas) com o passar da trama.
Em Bunny Girl, ele repete a fórmula, e consegue fazê-la bem, mais uma vez. E o motivo é simples: esse é o perfil mais genérico para um adolescente dos dias de hoje. É difícil errar quando você sabe exatamente onde quer acertar.
Já a garota, tem suas peculiaridades (até por conta de suas circunstâncias), mas também é convincente. Também é uma pessoa que você consegue imaginar sendo real, existindo e tendo problemas semelhantes aos que você vê na tela. E o jeito como ela reage, tanto ao mundo ao seu redor (já falo disso) como aos esforços do garoto, duas coisas que beiram o sobrenatural… É deveras realista. Você se surpreende com a racionalidade dela.
A ambientação do mundo é a grande novidade da obra. Pela primeira vez, ele tenta fazer algo além de sua zona de conforto, e traz o místico pro palco principal. Fica claro que ele não tem muita experiência com o assunto, mas que está se esforçando para dar o seu melhor.
Ele explica a visão geral das coisas e deixa com que você preencha as lacunas com seus próprios pensamentos e ideais sobre o oculto… Mas cinco minutos depois, traz a personagem que é o bode expiatório da sua própria culpa, e tenta desmentir tudo.
Exatamente, essa analogia é perfeita: o autor queria escrever uma obra sobrenatural, mas sua racionalidade é muito arraigada ao seu jeito de redigir… Daí, para desencargo de consciência própria, ele fez questão de tentar racionalizar, equacionar e desmistificar qualquer aspecto que não seja cientificamente comprovável.
Talvez esse defeito acabe sendo uma de suas maiores façanhas, no final das contas. O clima que temos acerca desta tal “Síndrome da Adolescência” é justamente de mistério. É uma “doença” que não faz sentido algum para a “ciência tradicional”, mas que, quando analisada psicologicamente por moleques de quinze anos, faz todo o sentido.
É a tal da “puberdade” sendo explicada em formato mais entretível. Ambas as personagens estão mergulhadas no oculto, em coisas sem explicação… Mas você consegue trazer todos os problemas que elas possuem para o âmbito de carne e osso. O real “inimigo” da série não é o fenômeno sobrenatural que é chamado de “Síndrome da Adolescência”, mas sim o fenômeno real de se viver numa sociedade e de ver e experienciar as consequências disso.
Agora, vem cá… O QUE ESSES JAPONESES TEM COM O SCHRÖDINGER E SEU MALDITO GATO? Desculpem a exaltação, mas francamente… Toda hora, o tempo todo, esse maldito experimento sendo citado e redesenhado e remodelado por animês e afins. E o pior de tudo? METADE DAS VEZES, ELES TÃO ERRADOS! O Gato de Schrödinger é um experimento criado pelo cientista de mesmo nome para mostrar justamente… o quão ABSURDO é o conceito por trás da Mecânica Quântica. Mas parece que gostam de citá-lo como uma fonte de razão e de racionalidade sempre que possível… E não é isso… Não assim… Não desse jeito…
Desculpem o desabafo.
Voltando a programação normal, podemos falar da parte técnica, que vejam só, não está decepcionando nem um pouco! A animação é do estúdio CloverWorks (que fez relativo sucesso recentemente com Darling in the FranXX); tem direção de Souichi Masui (que já tem um bom tempo na indústria); Um destaque também vai para Satomi Tamura, que fez os excelentes Designs de Personagens, e participou da animação dos primeiros episódios.
O visual é lindo, as personagens são muito bem desenhadas e se envolvem perfeitamente com o mundo (também belamente desenhado) em que estão. Até os figurantes e personagens de fundo, que muitas vezes são ignorados (ou renderizados em 3D) acabaram ficando bons. E a trilha sonora não deixa a desejar, sendo perfeita para todas as ocasiões, quase todas as vezes.
No mais, fica claro que Bunny Girl é muito mais do que aparenta ser, e que traz muito mais do que seu título poderia te fazer imaginar. É, literalmente, um livro que não se pode julgar pela capa, e parte disso se reflete até na própria trama do show. Sinceramente, não gostaria de me exaltar aqui, mas creio que, no mínimo, 8/10 para essa estreia é o que ela merece.
A série está sendo transmitida pela Crunchyroll, com novos episódios todas as quartas-feiras.