O Ministério da Informação do Cazaquistão apresenta,
uma produção do Ministério da Agricultura e
da Vida Selvagem,
em associação com o Centro Almaty de Controle de Doenças:
A Resenha de Borat: Fita de cinema seguinte
Um ano complicado. O 2020 entrou para a história por ser um ano em que uma pandemia varreu o mundo e vitimou milhares de pessoas ao redor do globo. 2020 está sendo um ano pesado onde vemos casos de violências aumentando, racismo/preconceitos/xenofobias cada vez mais sendo explícito, líderes mundiais que tomam decisões equivocadas por simples orgulho e por nuances de ideologias políticas que disfarçam interesses obscuros próprios. E vemos cada vez mais as pessoas apoiando esse tipo de coisa.
E na quase reta final desse pardieiro trágico disfarçado de ano, temos o retorno de um polêmico personagem. E ele volta em momento muito oportuno. Borat: Fita de cinema seguinte traz de volta o segundo melhor repórter do Cazaquistão, com seu humor ácido e terrivelmente realista. Aqui temos Sacha Baron Cohen em grande forma, assumindo novos disfarces e buscando passar mensagens contra aqueles que consideramos os grandes vilões do mundo. O roteiro escrito por Sacha em parceria com Peter Baynham, Anthony Hines, Dan Mazer e Dan Swimer, é afiado e atinge de Disney passando por Kevin Spacey. Da Primeira Dama dos EUA e o Brasil. Nada escapa.
Mas apesar de tudo isso, o filme não é engraçado. E lá embaixo explico o motivo.
Borat: Fita de cinema seguinte não é tão impactante quanto foi o primeiro filme, sim o fator surpresa meio que se perde na continuação. Mas é o filme mais necessário que foi lançado em 2020 se tratando de como o mundo está reagindo a políticas fascistas, racistas, machistas em geral. Sacha ainda coloca pessoas em situações incomodas e aperta a ferida até o pus espirrar. E sim, como disse antes, é necessário colocar esse tipo de pessoas contra a parede. Como nas cenas que desmontam as finas camadas de hipocrisia como no baile das debutantes e na clínica médica, quando sua filha engoliu um brinquedo.
Aliás tem que ser destacado (e muito) a dobradinha Sacha Baron Cohen e Maria Bakalova. A atriz está imperdível como Tutar Sagdiyev, a filha adolescente e única da família que segue e acredita no pai. Pode-se dizer que a personagem é o ponto mais importante de Borat: Fita de cinema seguinte. Ela consegue ser engraçada e bizarra, como o seu pai tinha sido no primeiro filme e ainda evoluir para repassar uma mensagem importante. E essa mensagem é um tapa na realidade da sociedade e seus costumes patriarcais que são fortes.
Tutar Sagdiyev vive para satisfazer a sociedade patriarcal e desde tempo foi criada desse jeito. Como acontece na vida real de muitas outras meninas e mulheres, ela é condicionada em ficar como sempre como o ser inferior, que a vida é como o conto de fadas que ela assiste desde pequena, aceitando a submissão praticada por uma… digamos… “cultura”. O aterrador é saber que isso é a realidade em todo mundo, em qualquer país…
Mas Sacha Baron Cohen sabe muito bem onde atingir e expor as pessoas que praticam esses e outros costumes nefastos, ele atua em cima de suas decisões e onde eles se espelham: em seus líderes políticos e figuras da mídia. Quando ele mira em Rudy Giuliani, ex-prefeito de Nova York, que atualmente é advogado e conselheiro do presidente dos EUA, Donald Trump, ele sabe que está atingindo não somente um politico como Trump. Mas também toda a sua campanha (o filme foi lançado propositalmente momentos antes da eleição presidencial americana) e o orgulho de seus eleitores que acreditam no discurso de família em primeiro lugar que esse tipo de político branda sem praticar na vida real.
Quando eu falo que Borat: Fita de cinema seguinte não é engraçado, eu na verdade armei uma falsa chamada para você, estimado leitor, chegar até esse ponto da resenha. Sim, você caiu na minha pegadinha. E sim, Borat tem momentos engraçados, mas ao mesmo tempo os momentos vão desnudando pessoas e atos terríveis onde Sacha aperta as fakes news como as que negam o Holocausto, ou eleva pessoas a cantarem que devemos queimar outras pessoas por terem posições políticas diferentes e cutuca o conservadorismo presente em todo lugar. Quando acontece essa transformação, o filme aborda, em sua forma ácida, assuntos sérios que são assustadoramente reais, a comédia fica por ali mesmo e faz os espectadores (não todos, infelizmente) pensar.
Como eu disse lá pelo meio do texto, Borat: Fita de cinema seguinte não tem o mesmo impacto do primeiro filme, mas é tão importante e tão necessário como o seu antecessor. Arrisco dizer que ele é até mais importante, dado o momento em que vivemos. Tornando-se assim um dos melhores filmes do ano. E com um final totalmente genial!