No finalzinho do ano que ficou pra trás, a Mythos Editora brindou as bancas e livrarias do Brasil com a nova edição da série Tex Graphic Novel. Uma das linhas autorais que mais admiro nos quadrinhos do ranger Tex Willer, esta série de graphic novels já foi tema de um artigo da Torre de Vigilância, onde o conceito da coleção foi apresentado. E o mais recente lançamento, Justiça em Corpus Christi, é a primeira história com senso cronológico dentro deste selo de aventuras lindamente ilustradas!
Serpieri, Mario Alberti, Angelo Stano, Gianfranco Manfredi, Giulio De Vita, Stefano Andreucci, Corrado Mastantuono e Mauro Boselli. Estes são os grandiosos nomes por trás dos seis volumes de Tex Graphic Novel lançados no Brasil até o momento. E Boselli é o nome que se repete mais vezes: os roteiros de quatro, das seis aventuras, são deste que é um dos maiores nomes responsáveis por Tex Willer de todos os tempos, não somente como roteirista mas também como editor.
As aventuras contadas neste selo autoral não possuem amarras cronológicas. Os autores podem ir e vir nas vidas de todos os personagens de Tex como bem entenderem, e esta liberdade permite que as histórias contadas se situem em momentos bem específicos da jornada do herói. No volume cinco, O Vingador, Boselli levou os leitores à trama de vingança de Tex, indo atrás dos assassinos de seu pai, culminando na tramoia que o tornou injustamente um fora da lei. Esta história se passa antes das origens inicias contadas há muitos anos na revista mensal de Tex. Justiça em Corpus Christi se situa logo após os acontecimentos desta história, sendo o primeiro caso de continuidade deste selo moderno!
O irmão de Tex, Sam, ainda vive. Após Tex completar sua vingança (que até então havia sido parcial, pois os facínoras que foram mortos por ele há algum tempo eram apenas uma parcela de um grupo maior), e com a parceria do ranger Jim Callahan, o mandante Bronson finalmente teve o que merecia. E com as manipulações feitas para incriminar injustamente Tex por roubo de gado, o herói parte em busca de uma forma para limpar seu nome.
Willer age como um justiceiro, indo atrás de uma enorme quadrilha de pistoleiros que é protegida pelo xerife de Corpus Christi. As ações de Tex e Callahan, feitas no volume anterior com relação aos mexicanos, reverbera na aventura narrada aqui. E o herói conta, quase literalmente, apenas com o apoio do ranger Callahan. A amizade dos dois torna-se aos poucos algo muito especial, e a jornada do grupo montado em busca de justiça é, pra dizer o mínimo, muito empolgante.
No decorrer, os heróis agem com astúcia para encurralar aos poucos cada um dos salafrários que regem Corpus Christi. Sam, irmão de Tex, possui um envolvimento direto com Harris, a dona de um pequeno rancho atacado pelos pistoleiros chefiados por Zeb Mason com apoio do xerife Donahue. E todas estas serpentes do Satanás, ótimos vilões, tentam piamente tirar vantagem de cada movimento e possível deslize de Tex, Callahan, Dan Bannion (outro ranger) e Sam Willer. Como toda boa história da Sergio Bonelli Editore, eles chegam bem perto de conseguir algum sucesso. Mas rapidamente nossos heróis os levam a sete palmos debaixo da terra.
Como todas as histórias mostradas nesta série de GN, Justiça em Corpus Christi foge um pouco do politicamente correto das aventuras mensais (ou especiais) do ranger. Isso acaba por se tornar uma faca de dois gumes, pois pode desagradar os fãs mais puritanos, mas também atrai novos leitores. Entretanto, O Vingador e Corpus Christi são exatamente situados em momentos da vida de Tex onde o “incorreto” reinava. E Boselli trabalha com maestria o lado justiceiro do personagem.
Corrado Mastantuono, o artista desta edição, é famoso por seu trabalho em Nick Raider e Magico Vento, além dos trabalhos feitos para a Disney. Como os cinco volumes anteriores, um chamariz incrível desta edição é a belíssima arte, valorizada pelo formato magazine da revista e também pelas cores de Matteo Vattani. Mastantuono segue um pouco a linha de Stefano Andreucci (do volume anterior), porém não emula completamente o desenho deste artista, tornando a continuação algo também original.
O jovem Tex de Mastantuono é um dos mais esguios apresentados até então, e a ambientação da cidade e dos arredores (com longas passagens pelo deserto) é também digna de nota. E as 48 páginas deste volume correm muito bem graças a narrativa fluida do ilustrador. Esta não é sua primeira história do Tex, então é perceptível que já há reconhecimento por parte do mesmo. Em Tex 583 e 584, por exemplo (Missouri! e I due guerriglieri), Corrado trabalhou com Boselli num arco. Esta era sua segunda história de Tex, primeira para a série normal.
E os méritos de roteiro e arte também são expansíveis para a edição nacional. A Mythos segue publicando os volumes desta coleção em formato magazine (28 x 20,2 cm), com capa cartão e preço de capa acessível – R$ 32,90. A tradução, como sempre, é do veterano Júlio Schneider, e fica o pedido dos leitores para que a editora lance o próximo volume, Cinnamon Wells, com roteiro de Chuck Dixon (já entrevistado pela Torre, clique aqui para conferir) e arte de Mario Alberti.