O quadrinhista mineiro Lelis está de volta à Editora Skript! Depois de publicar Popeye – Um homem ao mar, a Skript começou a pré-venda de Em Fuga!, uma HQ pintada em aquarela, que mistura realidade e fantasia, totalmente sem dialogos e onde o autor transita entre mundos da literatura em uma caçada de tirar o fôlego.
“A ideia era transportar personagens para outros contextos, outros universos. Retratar o que de mais precioso tem na literatura que é a experiência pessoal de cada um diante do que está lendo. Mas queria também fazer arte para esquecer um pouco a dor da perda de tantas vidas em meu país. Queria fazer quadrinho para contrapor o fascismo que toma conta da sociedade brasileira”, disse Lelis. “Queria fazer rir, porque há muita gente chorando e em desespero ao meu redor. Amigos sem emprego ou com subemprego. Gente que não pode deixar de se aglomerar dentro de um ônibus porque não tem auxílio financeiro suficiente do governo e precisa levar comida para casa. Gente que se sente estrangeiro apesar de ter uma pátria. Uma pátria desgovernada que caminha a passos largos rumo ao caos. Mas, eu não quero retratar o caos. Ele já é tão tangível, tão visível. Tão perto de mim. Queria abstrair”.
Lelis ainda falou que a missão era transformar a sua dor em arte, e que buscou lembrar e transmitir coisas que ele assistia quando criança e que o animava. Como os filmes do Gordo e o Magro e Charles Chaplin.
Em Fuga! tem 104 páginas e terá lançamento simultâneo na França.
A beleza e os mistérios que cercam o ambiente marítimo, porção maior na distribuição superficial de nossa crosta terrestre, em muito nos encantam desde nosso surgimento no planeta terra. Não é para menos: por muito tempo os maiores heróis de suas respectivas nações eram os navegadores, que de forma destemida lançavam-se rumo ao desconhecido para, além de descobertas no âmbito terrestre e novos parceiros comerciais, desbravavam territórios que, mitificados pela imaginação humana, eram em nossas cabeças habitados por maldições e criaturas fantásticas, que não recebiam forasteiros de forma amistosa.
O tempo passou e nossa relação com o mar também foi modificada. Dessa forma, inclusive nossas estratégias de transporte e exploração foram mudando, atendendo a demandas cada vez maiores. Tal industrialização pesqueira, assim como os grandes peixes que se alimentam dos menores em diferentes estágios de nível trófico, faz hoje os Estados Unidos da América serem o sexto maior país do mundo no ramo da aquicultura. Tudo isso a um custo: os pescadores independentes sofrem em uma batalha desproporcional com grandes empresas, e o lado mais fraco tende a sucumbir. EC Segar e seu famoso marinheiro parrudo de um olho só já exemplificavam a situação desde o início do Século XX, agora revisitada pela dupla Antoine Ozanam e Marcello Lelis.
Apesar de sua popularidade, pouco se vê do Popeye de sua criação original que originou tiras dominicais, animações, longa-metragens e produtos alimentícios lançados inclusive no Brasil:temos uma narrativa mais madura, séria e diametralmente oposta à comédia pastelão outrora protagonizada pelo marinheiro e seus personagens secundários como Dudu, Olivia e Brutus, aqui chamado de Bluto, seu nome original.
Como faz a ressaca do mar, aqui o leitor é tragado por uma trama de leitura fluente e rápida, mas com elementos onde reina o tom de melancolia: Popeye é um marinheiro em decadência traído por seu ex-companheiro de embarcação que se juntou a uma empresa gigante no ramo de pescados. Desamparado, tenta sobreviver a qualquer custo junto a Bosco, seu colega de profissão que precisa sustentar a si próprio e a sua família. Apesar do protagonista já ser conhecido mundialmente, Popeye – Um Homem Ao Mar nos brinda com um lado nunca antes visto.
O roteiro de Ozanam é primoroso a ponto de ser necessário agradecer ao mesmo por, como o próprio confidenciou em sua nota de agradecimentos, não ter abandonado o projeto e seguir em frente apesar dos percalços. As desventuras são frequentes e Popeye une suas incontáveis sessões de pescaria mal-sucedidas a sua relação com Olivia, sua nova chance de ter uma companheira, muito tempo após sua amada Betty, imortalizada com uma tatuagem de coração em seu peito, partir. Sua convivência conturbada com seu pai e erros em série cometidos por outros personagens acrescentam maior drama e em definitivo retiram a alma romântica conhecida em volta do personagem. Popeye aqui é muito mais humano e muito menos, quase nada, sobre-humano.
A arte do brasileiro Lelis, apesar de suas expressivas aquarelas, precisam de determinado tempo para se acostumar. Seu traço é trêmula em todas as partes, causando uma estranheza à primeira vista pois, apesar da impressão de movimento causada, remete às situações em que temos dificuldades em processar imagens, como acometidos por náuseas ou efeitos provenientes de bebidas alcoólicas. Mesmo não sendo a primeira opção de ilustrador imaginada pelo roteirista, Lelis coloca sua marca pessoal e inconfundível no marinheiro mais conhecido dos quadrinhos, deixando rastros que nem a subida da maré seria capaz de apagar.
Fruto de uma campanha de financiamento coletivo muito bem-sucedida, a editora Skript brinda o leitor brasileiro com uma edição primorosa em capa dura, papel couchê e formato álbum. Além da ótima impressão, a tradução e revisão de texto é digna de destaque, incluindo um prefácio biográfico assinado por Diego Moreau a respeito Segar e seus trabalhos nos quadrinhos e inspirações artísticas.
Embora a trama seja encerrada em um único volume, há visível espaço para um hipotético retorno dessa nova versão de Popeye e deveria sim ser pensada com zelo. Há muitos mistérios e aventuras nos aguardando em alto-mar e ainda temos muito o que aprender e descobrir sobre ele.
Popeye – Um Homem ao Mar
Antoine Ozanam (roteiro)
Lelis (arte)
Marcio dos Santos Rodrigues e Monica Cristina Corrêa (tradução)
Ester Gewehr e Diego Moreau (revisão)
Skript
Capa dura
120 páginas
20×28 cm
R$109,90
A Editora Skript vai lançar, a partir desse mês, e se seguindo pelos próximos, campanhas relâmpagos no Catarse, com o objetivo de vender suas publicações com descontos especiais para esgotar os estoques. A primeira publicação é Pândega – Loucura & Terror.
A antologia Pândega – Loucura & Terror terá 93 cópias à venda com um desconto de 45%. A publicação tem um grande time de artistas como: Ailton Araújo, Ally Ribeiro, André Ota, André Vazzios, Beatriz Abbud, Bruna dos Santos Nascimento, Bruno Brunelli, Bruno Ferrante, Caio Sales, Cesar S. de Albuquerque, Chris Machado, David Lee, Diogo Mendes, Douglas Freitas, Erica Juliboni, Felipe Manhães, Guilherme Santos, Guus, Jackeline Santana, João Victor Santos, José Luiz, Kris Zullu, Manoela Costa, Marcatti, Marcel Bartholo, Márcia Baliza, Mariana Azzi, Mila Queiroz, NK Winter, Pedro Corin, Rafael Danesin, Rafael Mussa, Regi Munhos, Renata Aguiar, Renata C. B. Lzz, Ricardo J. Souza, Rodrigo Ramos, Rogério Ferraz da Silva, Sandro Júnior, Thaís Castro, Tom Dutra, Vanessa Fernandes dos Santos, Victor Zanellato, Yuri Miyasato e Yuri Perkowski Domingos.
A arte da capa é do Pedro Panta e layout de Guilherme Smee. Já o verso da capa é ilustrado por Kiko Garcia. Pândega – Loucura & Terror ainda tem textos de aberturas de Larissa Prado e Diego Calvo.
Pândega – Loucura & Terror tem formato 18 x26,2 cm, 216 páginas e capa cartonada. Para conferir a campanha, valor e recompensas, clique AQUI.