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Trolls de Troy: Histórias Trolladas

Spin-off do grande sucesso dos quadrinhos franco-belgas Lanfeust de Troy, Trolls de Troy chegou ao Brasil em 2016 pela Jupati Books, selo de quadrinhos da Marsupial Editora, dando continuidade às publicações deste universo tão rico e fantástico. Situado num período anterior ao da série principal e utilizando novos personagens, as boas características típicas desta franquia são mantidas e muito humor é adicionado, criando uma história verdadeiramente divertida e, no mínimo, inusitada.


Troy é um mundo fascinante, onde a magia faz parte do cotidiano de todos. Neste universo, todas as pessoas possuem um tipo de poder, de grande ou baixa utilidade. Os poderes variam muito, desde transformar água em gelo até o poder de gerar coceiras, e todos são mantidos localmente através das vilas graças ao poder dos magos anciãos, Sábios de Eckmul, que possibilitam que as pessoas utilizem seus dons mágicos através da canalização das energias.

Contudo, esta não é a história de Lanfeust, o herói da série Lanfeust de Troy. E na realidade, todo o parágrafo acima nem faz tanta diferença quando o assunto é Trolls de Troy, a aventura focada em Tetram, um troll da vila de Phalompa, e sua filha humana adotiva, Waha. Vivendo “pacificamente” na floresta, esta vila de trolls criava muitos problemas para a cidade de Klostope, habitada por humanos. Graças às reclamaçaões, são mandados Caçadores de Trolls ao vilarejo de Tetram, em nome do grande sábio humano Rysta Fucatu, responsável pela Grande Guerra de Extermínio dos Trolls. Lá, diversos trolls são assassinados e metade deles são levados como prisioneiros, enfeitiçados, para serem vendidos como escravos. Tetram e sua filha sobrevivem, e motivados a quebrarem o encantamento que prende seus semelhantes, vão atrás de ingredientes que serão usados para desenfeitiçá-los: uma mecha do cabelo de Rysta Fucatu, e o fogo de um vulcão. Coisa simples.

Trolls de Troy adiciona muito ao já rico universo “de Troy“. Enquanto a aventura da série principal se assemelha a uma partida de RPG de fantasia medieval, esta série envereda para o lado do humor, focando nestas criaturas tão estranhas (e temidas) da franquia, porém sem perder o charme da já citada Lanfeust de Troy. O destaque desta nova aventura são os protagonistas. Enquanto em “Lanfeust” o único troll a aparecer é o companheiro enfeitiçado do grupo, aqui a variedade de trolls é muito maior, e todos possuem características diferentes, físicas ou intelectuais. Ao situar a história no ponto de vista destes “monstros”, a percepção dos leitores com relação a eles acaba mudando. Especialmente quando a impressão é de que os humanos são os vilões.

O roteiro também fica a cargo de Christophe Arleston, criador da série, então todos os elementos centrais da mitologia são respeitados, explorados e expandidos da primeira à última página. Enquanto na história principal existe um sentido de coesão, aqui o escritor se dá ao luxo de surtar muito mais, brincando das mais variadas formas com todo tipo de situação nonsense imaginável, criando resoluções mais loucas possíveis para todo tipo de problema. Ao lidar com o choque cultural de uma humana ter sido criada no meio dos trolls, surgem as diversas piadas estilo peixe fora d’água, e somado a isso, outros personagens como o meio-troll Prophi e outra garota humana surgem no decorrer das páginas, encorpando a aventura.

A arte de Jean-Louis Mourier é bela, bem detalhada, porém simples e não muito expressiva, algo que se opõe ao estilo de Didier Tarquin, o co-criador da primeira série desta franquia, artista de Lanfeust. As cores de Claude Guth deixam os quadros com um aspecto de pintura, combinando com o tipo de história contada e também com o estilo de desenho de Mourier, e há todo um cuidado em demonstrar que esta aventura realmente se passa dois séculos antes do que os leitores presenciaram na outra série. As cidades possuem detalhes diferentes, parecendo menores e com aspecto de expansão, e até mesmo a fauna e flora parecem um pouco diferentes. Mas é claro que os grandes puntauros ainda existem.

Além do convívio em sociedade e dos maneirismos dos trolls, este trio de autores responsável por estas aventuras também explora (mesmo que de uma forma galhofa) o pensamento dos trolls, como sonhos (ou pesadelos), ideais de vida e tratamentos de respeito, afeição ou ódio. Tetram ter adotado uma humana (que age como uma troll o tempo todo) demonstra um lado completamente inesperado deste terríveis monstros. Mesmo que a motivação para a adoção seja bem peculiar

A forma como a editora Marsupial vem tratando a franquia mantém-se neste álbum, compilando duas aventuras originais de cerca de 45 páginas cada em um único volume, tornando a leitura muito mais proveitosa. Esta série é bem mais extensa que todas as outras, já que atualmente são 22 volumes publicados no exterior. Seguindo o formato brasileiro, em 11 volumes alcançaremos os franceses. Não é tão difícil…

Para todos que gostaram de Lanfeust, ou para quem busca uma aventura verdadeiramente divertida situada num universo rico e bem explorado por seus criadores, Trolls de Troy é uma ótima pedida. Um dos quadrinhos-destaque de 2016, toda a franquia merece o ótimo tratamento que vem recebendo no Brasil através do selo Jupati Books, sem cometer deslizes editorais, e com um ótimo acabamento gráfico. E segue viva a expectativa de que a editora publique outros materiais relacionados.

Trolls de Troy – Volume 1: Histórias Trolladas possui 96 páginas encadernadas em capa cartão e valor de capa sugerido de R$ 42,00Compre ou um troll malvado irá devorar você e toda sua família.