Por muitos anos, Assassin’s Creed foi a minha franquia favorita de videogames. Com o passar do tempo, ficou claro que a qualidade dos jogos foi decaindo, e a série implorava por mudanças, e elas vieram. Desde Assassin’s Creed Origins, a série da Ubisoft se tornou um RPG de Mundo Aberto, e honestamente falando, eu não joguei. O último jogo da série que joguei foi Syndicate, lançado em 2015. Os motivos são simples: eu adorava que os jogos eram curtos e não confiava que a Ubisoft faria um bom trabalho na construção de um RPG e o que fariam com um mundo aberto, pois os jogos já eram repetitivos mesmo sendo pequenos. O mesmo fiz com Odyssey.
Porém, eu adoro Vikings e então dei uma chance para Assassin’s Creed: Valhalla.
Assassin’s Creed: Valhalla se passa no século IX e segue a história de Eivor, um (a) jovem Viking que deixou a Noruega e partiu para a Inglaterra em busca de conquistar terras e criar um legado. Assim como Odyssey, o jogo deixa escolher o sexo de Eivor, incluindo uma opção do Animus alternar automaticamente em certos momentos da história. Eu optei jogar com a versão feminina.
Devo admitir que as primeiras horas de Assassin’s Creed: Valhalla para mim foram bem maçantes. O famoso caso de “depois de x horas tal coisa fica boa” funcionou aqui. A história não parecia que iria melhorar, beirando o tédio em alguns momentos. Porém, ficar fazendo incursão e explorar o mapa me deixaram ocupado no jogo, por mais que o combate seja ruim.
A história não te dá um norte claro, um dos motivos para a impressão inicial negativa, então diversas vezes você acaba indo para as cidades, formando aliança, torcendo para o enredo andar. Em diversos momentos eu me perguntava se uma hora o jogo iria realmente acabar.
Em compensação, quando a história finalmente andava, era ótimo. O jogo melhorou bastante após a primeira leva de cidades, onde as coisas realmente começam a acontecer e nos leva para uma história bastante eficiente.
Para chegar ao final do jogo, você deve completar todos os territórios, mesmo que 70% deles não sejam relevantes para a história em si, então você fica com o sentimento de obrigação. O problema é que são arcos repetitivos, com missões de encheção de linguiça, apenas para ter conteúdo.
A história é dividida em vários arcos que se passam em diversas cidades da antiga Inglaterra, a ambientação novamente é um grande acerto da desenvolvedora. A estrutura entre eles é bastante similar, o que dá uma sensação de repetição. É basicamente a Eivor chegando na região, algo de ruim acontece e então a gente tem que resolver e os líderes dos lugares irão se aliar a nós.
A Eivor é uma personagem simples, mas bem carismática, pelo menos a versão feminina, você compra bem a razão e os motivos dela. A relação dos protagonistas com personagens históricos sempre foi algo que a Ubisoft soube fazer bem, desde os primeiros games, aqui não é diferente.
Os Assassinos, aqui chamados de Ocultos, são introduzidos bem rápido no enredo, com a presença de Basim, e eu gosto bastante da ligação deles com a história do jogo, é bem encaixado e não parece estar ali somente por ter Assassin’s Creed no título.
Assasin’s Creed: Valhalla é enorme. Eu finalizei o game com 75 horas e eu não completei metade das coisas que o jogo oferece como opcional. Para aqueles que buscam o Troféu de Platina, o jogo parece ser bastante amigável quanto a isso, a maioria dos troféus secundários são simples.
O roteiro não é nada inovador. Se você já está acostumado a ver histórias de Vikings, não importa em quais mídias, tudo aqui parece bem similar, mas com o efeito Assassin’s Creed.
Sobre o enredo do presente, a Ubisoft claramente não sabe o que quer fazer, os roteiristas estão perdidos desde Assassin’s Creed III. No entanto, talvez haja chances de alguma melhora acontecer, mas não vou criar esperanças e vocês não devem criar também. Não posso comparar com os dois jogos anteriores, Origins e Odyssey, pois não os joguei.
O que nos faz chegar na melhor parte do jogo: caçar templários, ou melhor, caçar membros da Ordem dos Anciões. São ao todo 45 membros que você deve matar. A maioria estão ligados ao enredo, outros você deve encontrar pelo mapa, no caso dos Devotos, e outros você deve achar pistas e investigar certos lugares.
Os Devotos possuem um nível bem maior que o seu na maioria dos casos, então deve ter cuidado ao enfrentá-los. Eles podem ser encontrados nas principais estradas do mapa, quase sempre andando de cavalo. Ao matá-los, eles liberam pistas de outros membros da Ordem. O mesmo acontece com alguns dos membros padrões.
Existe uma hierarquia no menu, onde quanto mais pessoas você matar daquela estrutura, mais pistas de alguém do alto-escalão serão liberadas, o que vai levar ao líder da Ordem, “O Pai”. Os membros que você mata através do roteiro, não há surpresas de quem eles são, pois o menu possui a silhueta deles, com um borrão. O mesmo acontece com O Pai. Matar todos os membros, é um dos finais do jogo.
Montar e melhorar o seu acampamento me deu uma nostalgia de Assassin’s Creed II e Brotherhood, é o mesmo feeling. Ao melhorar Ravensthorpe, você vai liberando sidequests com a população, que incrivelmente não são quests tediosas de se fazer. Outras opções de aprimoramento aparecem ao recrutar novos Vikings para a tripulação. Elas são conectadas ao sistema de escolha do jogo.
Há dois tipos de escolhas no jogo: uma que vai definir qual dos dois finais principais você irá pegar e outra para conseguir novos membros para o seu bando. É um sistema bem funcional e simples. As outras opções de diálogos da história não fazem diferença.
O mapa do jogo é imenso e o mundo aberto funciona e você sente que está vivo. O game utiliza o mesmo sistema de encontros de GTA V e Red Dead Redemption 2, você anda pelo mapa e acha pessoas. Esses “Eventos do Mundo” vão de roubar casas, encontrar itens, ajudar pessoas, e por aí vai. E graças adeus não temos batalhas navais, que é uma das piores coisas que a Ubisoft incluiu na série e eu odiava cada momento delas.
Além desses eventos, tem vários outros Mistérios e Artefatos da Região, que compõem o conteúdo opcional do jogo. Temos armaduras, lingotes, empilhar pedras, destruição de símbolos amaldiçoados, exploração de cavernas e templos de Ocultos, entre outras dezenas de coisas. Entre elas, as incursões são uma das coisas mais importantes que você deve fazer para melhorar o seu acampamento.
O combate é o ponto mais negativo do jogo. Não há ritmo ou peso. Temos um sistema de postura, uma tentativa frustrada daquilo que vimos em Sekiro: Shadows Die Twice, e que honestamente não serve para a maioria dos inimigos.
Eu preferi jogar aos moldes dos antigos jogos, totalmente no stealth, afinal, temos a lâmina oculta novamente. Eu usei bastante arco também, talvez seja a minha arma favorita e dá para montar build dele. A árvore de habilidades é bem distribuída e é fácil começar a subir de nível e ganhar pontos, no entanto, dá a impressão de que os bônus não fazem diferenças, somente as habilidades em si.
Como eu vim do Syndicate, achei esquisito que as habilidades habituais dos Assassinos devem ser desbloqueadas, mas bem, é outro sistema. Também temos as Aptidões, que são habilidades especiais que utilizamos com a barra de adrenalina. Ela estão espalhadas pelo mapa, com um símbolo de Livro e são bem que legais, tanto pra combate corpo a corpo, quanto para a furtividade.
É engraçado que uma das melhores partes do jogo consiste em invadir e saquear lugares, mas que a pior parte é o fato de você ter que lutar.
Em relação à equipamentos, o jogo é gentil em não obrigar os jogadores a procurarem diversos sets pelo mundo. Cada peça pode ser melhorada e ser a mais forte, sem a necessidade de mudar sempre. Eu mesmo joguei 90% do jogo com um machado danês que adquiri logo nas primeiras horas do jogo. A árvore de habilidades ajuda bastante nisso.
Por mais que os gráficos sejam lindos, o jogo sofre com problemas de iluminação. Nem ao aumentar o brilho ou usar a tocha, isso é corrigido totalmente, então em cavernas fica quase que impossível de enxergar. Uma alternativa foi usar o Olho de Odin para “iluminar” as áreas.
Em termos de otimização, o jogo está bastante pesado e muito bugado. Tive que resetar missões várias vezes pelos personagens ficarem imóveis. Em algumas Incursões o jogo começa ter quedas de frames e em várias cutscenes o jogo crashou. Há carregamento para conversar com personagens, menus e lojas. Para entrar no jogo, dura pelo menos 5 minutos, eu cronometrei, enquanto o de viagem rápida fica por volta de 2~4 minutos, dependendo do lugar. Eu joguei em um PlayStation 4 base, e claramente é um jogo que tira tudo do processamento dos consoles de sete anos atrás.
Assassin’s Creed Valhalla demora para engrenar, mas quando chega lá se torna um ótimo jogo. O game possui um conteúdo massivo, que irá te deixar ocupado por muito tempo. Para os fãs de longa data, ainda há esperanças.
Prata – Considerável
Agradecimentos à Ubisoft pelo envio do código para análise. O jogo está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series S|X, Google Stadia e PC.