“Ele finalmente voltou a usar a cueca vermelha” – diz uma das personagens durante a terceira edição de The Man of Steel. A nova minissérie do Superman marca o início da fase de Brian Bendis pelo personagem. Para quem não sabe, o roteirista assinou um contrato de exclusividade com a DC Comics. Era esperado que ele assumisse os roteiros de um personagem urbano, afinal ele tem mais afinidade com vigilantes. Entretanto, o inesperado aconteceu: Ele se tornou o novo roteirista do Superman.
Sua primeira história pelo personagem foi publicada em Action Comics #1000 – uma edição comemorativa – e acabou se tornando a pior parte da coletânea. Por isso, criar expectativas para The Man of Steel foi uma tarefa árdua. Primeiro, pois leva o nome da pior reformulação do personagem: O Homem de Aço por John Byrne. Segundo, pois a premissa está longe de ser original ou interessante.
Afinal, quando foi a última vez em que os roteiristas revelaram o que aconteceu durante a destruição de Krypton? Isso mesmo. Ano passado, Dan Jurgens durante o Efeito Oz, já nos fez uma revelação em relação a este fato. Agora, Bendis, tenta repetir o feito com Rogol Zaar, o novo vilão do personagem, o verdadeiro destruidor de Krypton. Sendo uma mistura visual entre a imponência do General Zod e o visual monstrengo do Apocalipse, ele é o pior personagem da história.
Mas quem dera este fosse o único problema. A escrita de Bendis é um problema ainda maior. Particularmente, sou um grande fã de monólogos. Alguns dos meus momentos favoritos nas HQs são monólogos. Às vezes, eles são o recurso narrativo certo para impactar o leitor, tornar a leitura mais imersiva e fazê-lo sentir o que o personagem sente. Entretanto, em The Man of Steel, Bendis faz o oposto. Com exceção de dois momentos, tudo o que pode ser visto nas páginas é descrito pelo Superman.
Esses dois momentos os quais são uma exceção, são os únicos em que nós realmente sentimos o que o personagem sente. O excesso de monólogos tornam a leitura uma experiência monótona assim como atrapalha a narrativa dos quadros e dos desenhos – lindos, por sinal. Outro grande problema do roteiro é a descaracterização dos personagens. Não acreditaria se eu dissesse que “Ca Ca Po Po” é algo dito duas vezes neste gibi, certo? Provavelmente pensaria: “O que diabos é isso?” Nem o redator que vos escreve, sabe. Enquanto o Superman continua sendo o herói clássico porém extremamente unidimensional, todos os outros personagens agem como idiotas.
Mas é claro, há pontos positivos. A arte está impecável. Ivan Reis, Doc Shanner, Ryan Sook, Kevin Maguire e Jason Fabok fazem um trabalho fenomenal e dinâmico. A primeira edição, apesar de atuar na zona de conforto, é divertida e realmente boa. Além disso, a trama envolvendo os incêndios em Metropolis e toda a crise do Planeta Diário são ideias interessantes e promissoras.
Uma delas, a qual altera todo o status-quo do personagem, é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que é uma progressão do run de Peter Tomasi e Patrick Gleason, é também uma contradição ao run de Dan Jurgens em Action Comics. Entretanto, esta contradição pode gerar os frutos não colhidos por Jurgens, ou não. Só o tempo dirá.
Contudo, o maior problema de The Man of Steel está fora dele: A editora. A DC tem medo do Superman. Enquanto o Batman busca pela felicidade e é reinventado, o Homem de Aço é obrigado a voltar com a cueca vermelha e salvar crianças de incêndios em todas as edições. Não bastasse a falta de coragem, eles contratam alguém que não está interessado em modernizá-lo. O Superman, um imigrante alienígena, no contexto político em que vivemos hoje, poderia render histórias realmente relevantes e deixar de ser apenas o cara da cueca vermelha. Talvez a DC deva seguir à risca a famosa frase do personagem: “Para o alto e avante.”