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Twisters | Entre tornados e CGI: a tentativa de reviver um clássico

Escrito por Daniel Estorari

”Qual a necessidade de uma continuação de Twister” é o que pensaram os fãs saudosistas do clássico longa-metragem de catástrofe natural. Quase que desnecessário, Twisters é um filme divertido que causa uma sensação de nostalgia ao telespectador

A sequência chega com a difícil missão de capturar o espírito do original, enquanto tenta modernizar a trama para um novo público. Embora traga novos personagens e desafios, a essência permanece a mesma: a luta humana contra a força implacável da natureza. Essa conexão entre o imprevisível e o heroísmo continua sendo o coração da história, e é nisso que Twisters busca se apoiar para conquistar tanto os fãs antigos quanto os novatos.

Ainda assim, Twisters entrega momentos de tensão e adrenalina que remetem ao charme do seu antecessor. A direção mantém o ritmo acelerado, com cenas de perseguições intensas e perigos imprevisíveis que nos prendem à tela. O maior desafio, no entanto, é conquistar tanto os novos espectadores quanto aqueles que guardam com carinho as lembranças do original. Será que a sequência consegue esse feito?

Twister GIFs | Tenor

Twisters é uma continuação do longa homônimo de Jan de Bont, lançado em 1996. Desta vez, sob a direção de Lee Isaac Chung (Minari) o filme foca em uma dupla de caçadores de tempestade. Kate Cooper (Daisy Edgar-Jones) é uma ex-caçadora desses fenômenos, mas que acaba sendo atraída de volta às planícies por seu amigo Javi (Anthony Ramos), para testar um novo sistema experimental de rastreamento meteorológico. Nessa missão, ela cruza seu caminho com Tyler Owens (Glen Powell), um ícone das redes sociais que compartilha suas aventuras de caça à tempestade. Conforme a temporada de tempestades se intensifica, dando início a acontecimentos aterrorizantes, Kate e Tyler, que são concorrentes, se encontram em meio a uma situação nunca antes vista, colocando suas vidas em risco. 

De fato, Twisters não precisava de uma nova produção cinematográfica. Aqui, Twisters é tratado mais como um soft-reboot (termo usado quando uma saga ou franquia é reiniciada do zero, mas situada no universo original, sem desconsiderar o que veio antes). Contudo, devido ao peso do clássico, apostar em um elenco jovem, com Lee Isaac Chung como diretor, que está se experimentando no mundo dos blockbusters, foi uma jogada arriscada da Warner e da Universal. Por sorte, eles acertaram em cheio o alvo que estavam mirando.

Essa decisão ousada reflete a tentativa dos estúdios de equilibrar tradição e inovação. Ao mesmo tempo em que homenageiam o original, buscam cativar uma nova geração de espectadores que talvez nunca tenham assistido ao filme de 1996. O elenco jovem, com rostos promissores de Glen Powell, Daisy Edgar-Jones e Anthony Ramos, traz uma energia fresca à narrativa, e o diretor, em sua primeira grande incursão no mundo dos blockbusters, surpreende ao entregar um filme dinâmico e frenético, distanciando de seus dramas experimentais. 

A escolha de manter conexões sutis com o original, sem depender exclusivamente da nostalgia, foi um ponto forte. Os novos personagens enfrentam desafios próprios, com suas histórias e motivações, o que impede o filme de cair em uma simples repetição. A presença de alguns elementos icônicos do primeiro filme, no entanto, garante que o sentimento de familiaridade seja preservado, criando um vínculo emocional com os fãs de longa data.

Por fim, o equilíbrio entre momentos de tensão e cenas mais introspectivas contribui para o desenvolvimento da trama. O espectador não é apenas levado pelas cenas de ação frenética, mas também convidado a se conectar com os personagens e suas obsessões em caçar tornados. Esse foco no lado humano da história, mesmo que superficialmente, dá ao filme uma camada emocional que o diferencia de outras obras de desastres, tornando Twisters mais do que apenas um espetáculo visual.

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 Mesmo com um CGI de alta qualidade, o uso excessivo dessa tecnologia e o abandono quase completo dos efeitos práticos prejudicam o impacto visual de Twisters. Enquanto o original trazia uma sensação de perigo palpável, aqui o realismo é diluído em meio a tantas cenas geradas por computador, o que diminui o senso de urgência e desespero que o primeiro filme conseguia transmitir com maestria.

O avanço tecnológico permitiu que Twisters criasse cenas grandiosas e visualmente impressionantes, com tornados que parecem ganhar vida na tela. No entanto, essa dependência do CGI muitas vezes rouba a autenticidade que os efeitos práticos do filme original proporcionavam. Em Twister (1996), cada cena de destruição era visceral, com objetos sendo realmente lançados pelo ar, e os atores interagindo com os elementos ao redor. Esse toque realista fazia toda a diferença na construção da tensão, algo que a sequência não consegue replicar com o mesmo impacto.

A ausência de efeitos práticos não é apenas uma questão de nostalgia, mas sim de imersão. Quando vemos atores interagindo com cenários reais e elementos físicos, o perigo parece mais tangível, e o espectador é arrastado para dentro do caos. No caso de Twisters, embora o CGI seja tecnicamente impressionante, ele muitas vezes cria uma barreira entre o público e o desastre na tela. O perigo parece distante, calculado demais, o que acaba tornando a experiência menos visceral e emocionalmente intensa.

Esse contraste entre os dois filmes evidencia uma mudança na forma como os desastres naturais são representados no cinema moderno. Enquanto o primeiro Twister usava efeitos práticos para criar um senso de urgência e medo genuínos, Twisters aposta no espetáculo visual. Isso gera uma dualidade: por um lado, temos cenas de tirar o fôlego; por outro, falta o toque de realismo que fazia o espectador sentir que estava vivendo aquele momento. A tecnologia pode ter avançado, mas o impacto emocional parece ter ficado para trás.

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Em resumo, Twisters se apresenta como uma sequência que tenta capturar o espírito do clássico original, mas que enfrenta o desafio de equilibrar tradição e inovação. Embora traga um elenco jovem e use da nostalgia para cativar antigos fãs, a falta de efeitos práticos e a forte dependência do CGI acabam diminuindo o impacto emocional que fez de Twister um marco no gênero de desastres. O filme entrega cenas de ação visualmente impressionantes, mas não consegue atingir o mesmo nível de urgência e autenticidade que seu predecessor alcançou com recursos mais limitados.

Ainda assim, Twisters consegue proporcionar entretenimento, principalmente para aqueles que buscam um espetáculo de efeitos especiais e momentos de tensão. É uma produção que reflete as mudanças da indústria cinematográfica, onde a tecnologia avança, mas a conexão humana com a história pode se perder. No fim, Twisters pode não causar o mesmo impacto que o original, mas ainda assim, merece ser reconhecido pelo esforço de manter viva uma franquia que marcou uma geração.

Nota: 3/5

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Sobre o Autor

Daniel Estorari

With great powers...

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