Categorias
Serial-Nerd Séries

Uma surpresa mediana da Marvel Television chamada Agatha Desde Sempre

Existem surpresas boas, ruins e aquelas que ficam em uma zona intermediária. Agatha Desde Sempre, o “spin-off” de WandaVision, é, sem dúvida, uma representação repentina da Marvel Television que se posiciona nesse meio-termo.

Assim como a DC, que frequentemente lança séries sobre personagens que “ninguém pediu”, mas que conseguem gerar bons resultados, a Marvel decidiu seguir o mesmo caminho com uma produção focada na antagonista da Feiticeira Escarlate. À primeira vista, a ideia poderia soar monótona e sem atrativos; contudo, com um roteiro e direção que criem envolvimento até certo ponto, há o potencial para algo interessante, o que Agatha Desde Sempre até alcança, mas limitadamente.

Walk Up Lets Go GIF by Marvel Studios

Agatha Desde Sempre, spin-off de WandaVision, explora a origem da poderosa feiticeira Agatha Harkness, interpretada por Kathryn Hahn. Após os eventos de Westview, Agatha busca recuperar seus poderes perdidos. Agora, ela não está sozinha, pois se alia à House of Darkness, um grupo de bruxas dispostas a ajudá-la em seus planos. Além de Kathryn Hahn e Debra Jo Rupp, o elenco conta com Patti LuPone, Aubrey Plaza e Joe Locke. Na trama, uma nova série de tragédias assola Westview, deixando Agatha enfraquecida e desmotivada. No entanto, sua sorte muda quando um adolescente gótico misterioso a liberta de um feitiço distorcido e a convence a guiá-lo pela lendária Estrada das Bruxas, uma jornada mágica repleta de provações. Juntos, eles reúnem um clã de bruxas desesperadas e embarcam em uma perigosa aventura em busca do que Agatha mais deseja: recuperar o que lhe foi tirado. A série mergulha no passado da personagem, expandindo o universo mágico do MCU, enquanto Agatha enfrenta seus desafios e descobre o verdadeiro poder da magia e das alianças.

O maior mérito de Agatha Desde Sempre está na sua autonomia narrativa em relação ao restante do MCU. Embora faça parte de um universo interconectado e compartilhe algumas referências, a série evita depender de eventos grandiosos ou de personagens externos para conduzir sua trama. Em vez disso, oferece uma história que se sustenta e se desenrola por conta própria, trazendo uma narrativa coesa e interessante sem a necessidade de se apoiar em ganchos ou crossovers. Esse enfoque independente não apenas valoriza a produção como também amplia as possibilidades de desenvolvimento para o universo das bruxas da Marvel, fornecendo uma perspectiva fresca e menos previsível dentro de uma franquia que frequentemente adere a interligações obrigatórias.

Grande parte do charme e do apelo da série reside na atuação impecável de Kathryn Hahn como a personagem-título. Hahn consegue captar a essência da bruxa com uma sagacidade contagiante, incorporando Agatha com uma dose perfeita de carisma e sarcasmo.

 A presença de Joe Locke como Billy adiciona um toque ainda mais peculiar à dinâmica, já que ele transita entre a lealdade e a aversão em relação a Agatha, numa dualidade convincente, mas entendiante em determinados momentos. Esse vai-e-vem emocional, apesar de aceitável, em alguns momentos soa confuso, mas serve para intensificar o vínculo entre os personagens.

Aubrey Plaza, no papel de Rio Vidal, que eventualmente revela-se como Lady Morte, se destaca pela revelação. Sua presença enigmática e sensual, junto a habilidade de imbuir a personagem com uma certa ambiguidade moral tornam sua performance divertida de acompanhar. No entanto, essa revelação pode ser um ponto de estranhamento para aqueles menos familiarizados com o universo das HQs, uma vez que o desfecho de sua verdadeira identidade ocorre de maneira abrupta. Ainda assim, Plaza imprime um magnetismo que torna sua personagem uma adição considerável, contribuindo para o tom sedutor da obra que ela chega a flertar em determinados momentos. 

Do you think Iron Man saw Lady Death at the end of Avengers: Endgame?

Apesar dos acertos, Agatha Desde Sempre tropeça em um problema comum às produções televisivas da Marvel Televisoon: a inconsistência rítmica. A obra começa com um ritmo adeauado, cuidadosamente construindo sua atmosfera e introduzindo o universo das bruxas de forma minuciosa. No entanto, à medida que a trama avança, essa execução se torna errática, oscilando entre momentos de suspense eficaz e trechos apressados, onde a tensão perde força. Essa irregularidade impede que a narrativa mantenha o mesmo nível de impacto do início, comprometendo o potencial de imersão e enfraquecendo a experiência para o espectador que espera uma progressão mais estável.

Além disso, o desenvolvimento de alguns pontos cruciais sofre com a pressa em apresentá-los sem o aprofundamento adequado. Em busca de um final que fará gancho para uma produção futura, o seriado lança uma série de revelações e subtramas em rápida sucessão, deixando alguns arcos mal explorados ou até superficiais. Esse excesso de informações prejudica a construção de certos elementos que poderiam ter sido tratados com maior detalhe, tornando-os quase descartáveis ao invés de agregar valor à história principal. O resultado é uma narrativa que, embora repleta de potencial, resolve certas pontas relaxadamente, faltando a densidade que faria justiça ao universo denso e enigmático das bruxas.

Série Agatha Desde Sempre sugere ligação entre Thanos e Morte | Cine Fera

Em suma, Agatha Desde Sempre entrega uma experiência que, embora esteja longe de ser memorável, surpreende por sua independência narrativa e alguns acertos pontuais. Kathryn Hahn lidera o elenco com carisma, e a escolha de manter a série relativamente afastada das tramas centrais do MCU é uma decisão bem-vinda, conferindo ao projeto uma autonomia rara para a Marvel. Contudo, a produção acaba sucumbindo a problemas estruturais, com um ritmo irregular e a pressa em introduzir elementos sem o desenvolvimento necessário, comprometendo a profundidade que poderia elevar a trama. Assim, a série se posiciona como uma surpresa morna da Marvel Television: ainda que seja uma adição agradável ao universo de WandaVision, falta o fôlego para consolidar-se como algo mais significativo.

NOTA: 3/5

Por Daniel Estorari

With great powers...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *