Super-força? Visão de raio X? Sopro-congelante? Super-velocidade? Qual o melhor poder do Superman? Você pode enumerar poderes do maior super-herói de todos os tempos, ou melhor, o super-herói definitivo. O Superman é o personagem que sempre será visado, em visões diferentes, versões diferentes e de formas diferentes. Mas as melhores versões do Superman (e acredite tem muitas versões) são aquelas que o maior poder do personagem é melhor executado e utilizado: o simbolismo.
O Superman é um símbolo. E quando qualquer escritor usa esse poder especial que poucos heróis tem, possivelmente o Steve Rogers/Capitão América chega próximo, são as melhores fases e histórias do personagem. Quando pegamos o quadrinho Entre a Foice e o Martelo, que Mark Millar apresenta o Superman soviético, resolve se transformar em um símbolo e mudar toda trajetória daquele país. O simbolismo em que Grant Morrison apresenta em Grandes Astros, como é importante ser o Superman no mundo. Até mesmo o Superman do Frank Miller, em Cavaleiro das Trevas, é um símbolo. Mesmo que seja um símbolo da derrocada dos heróis, o maior e mais forte homem do mundo virou um fantoche do governo. São alguns dos exemplos.
Então entendemos que o Superman é um símbolo. E só isso responde a pergunta que está encravada no título desse artigo. Mas como isso pode funcionar nos cinemas? É só fazer o simples e convicto no estilo Pantera Negra. Com representatividade, com respeito, amor e sendo um símbolo para as pessoas. Não que o Pantera Negra não tenha sido, ou melhor, não seja. Mas estamos falando do maior super-herói de todos os tempos.
Criando uma comparação meio forçada até, é como colocar o Martin Luther King com todos esses poderes. É o símbolo que até então na grande mídia e até mesmo nos quadrinhos, nunca conversou com a raça negra. Apesar de existir o Superman da Terra-23, ele nunca teve tanta importância no Universo DC, aparecendo em sagas entre as Terras ou algo similar. Ninguém na DC Comics nunca usou Calvin Ellis para ser protagonista de algo grande e único. Calvin Ellis precisa deixar de ser esse personagem que simplesmente somente representa uma contraparte de outra Terra e ser utilizado no como o símbolo que o Superman sempre teve.
Em um mundo em que as diferenças sociais estão cada vez mais ativas, em que casos como George Floyd, ou então em casos de pessoas famosas cometendo falas ou atos racistas em programas de realitys shows, e mesmo assim essas pessoas ainda ficando em evidência e ganhando milhares de seguidores, ou as infindáveis injustiças sociais que ocorrem no dia a dia e que se tornaram “rotina”. Um personagem do peso e da importância do Superman ser negro é extremamente importante. É um símbolo que pode e deve ter um efeito fantástico sobre a sociedade. Para os dois lados, tanto para inspirar para o bem, para inspirar, como para os milhares de imbecis vomitarem seus preconceitos em seus teclados covardes e seus relinchos que nada passa de uma “lacração”.
O Superman sempre foi a figura do imigrante. Aquela pessoa que tenta se incluir em um mundo que não é seu, que não pediu para ficar, mas escolheu ficar lá e proteger aquele povo que ele adotou. E o super-herói que vive de escolhas, que com sua audição escuta milhares de quilômetros e todos os problemas em volta, e precisa estar em vários lugares e salvamentos em locais diferentes. O Superman precisa decidir, usando um exemplo “idiota”, se vai se dar o luxo de jantar ou salvar um trem caindo de uma ponte.
Algo como a população negra hoje em dia. Como a população nordestina. Como a população indígena. Como a comunidade LGBTQ+. Como muitas mulheres. Pessoas que precisam escolher entre andarem sozinhas, entrar em lojas sem serem desconfiadas, de ter o um aparelho telefônico mais moderno ou ficar em casa para não correr o risco de acontecer nenhum preconceito/agressão contra.
Em uma época em que desconstruir as características benevolentes e inspiradoras do Superman virou moda em diversas mídias, e simplesmente sucatear o personagem como um super-herói violento é sinônimo de vendas, poder colocar o personagem com o simbolismo como sua maior virtude, seria muito bem-vindo. Provavelmente a última vez que o simbolismo do personagem foi melhor utilizado foi na, excelente, Superman: Smashes the Klan de 2020.
Possivelmente, eu, Ricardo Ramos, não seja a melhor pessoa para escrever esse texto. E tenho minha consciência isso e nem é minha intenção tentar me colocar no lugar de ninguém, eu não tenho esse direito. Eu não sofro como as pessoas que citei sofrem no dia a dia, como uma rotina maldita que não escolheram. Mas eu tenho certeza de que o Superman negro, e seu simbolismo, seria de suma importância para o mundo de hoje. Espero que realmente a Warner saiba fazer isso acontecer.