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Vidas Passadas | Quando o final feliz é incomodo e prejudicado com a lentidão

Escrito por Daniel Estorari

Comédias românticas e romances são, sem dúvida, uma ótima escolha para quem busca entretenimento leve e descontraído após um dia cansativo. No entanto, a longo prazo, podem ser perigososs para aqueles que não possuem maturidade emocional. Isso ocorre devido aos gêneros em si, que, em sua maioria, são moldados por Hollywood e tendem a romantizar o amor de forma exagerada, criando expectativas irreais. Essa idealização afeta gerações recentes, alimentando visões ilusórias sobre relacionamentos. Em contraste, Vidas Passadas oferece uma visão mais realista dos altos e baixos do amor, proporcionando ao público uma perspectiva honesta e profunda sobre o que é “verdadeiramente” amar alguém no mundo real.

Vidas Passadas convida o espectador a refletir sobre os desafios e decisões que moldam um relacionamento ao longo do tempo, destacando que o verdadeiro amor está nos detalhes e nas escolhas difíceis, e não em idealizações inatingíveis.

movie gifs — PAST LIVES 2023, dir. Celine Song

Escrito e dirigido por Celine Song, Vidas Passadas é um drama que conta a história de Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), dois amigos de infância com uma conexão profunda, mas que acabam se separando quando a família de Nora decide sair da Coréia do Sul e se mudar para a cidade de Toronto. Vinte anos depois, os dois amigos se reencontram em Nova York e vivenciam uma semana fatídica enquanto confrontam as noções de destino, amor e as escolhas que compõem uma vida.

Com uma narrativa simples, Céline Song utiliza suas habilidades como diretora para abordar a trama com um olhar sensível e realista, evitando cair no exagero dramático que tantas vezes permeia filmes do gênero. Em Vidas Passadas, a Céline equilibra de forma competente as dores e as alegrias que compõem o amor, mostrando que o sentimento é formado por uma complexa mistura de sensações. A trama é trabalhada de forma a capturar a autenticidade das emoções, revelando que o romance não é apenas feito de momentos felizes ou tristes, mas de uma mescla constante entre eles.

A direção também se destaca por fugir de convenções previsíveis, conduzindo a história com sutileza e profundidade. Ela cria personagens que se sentem humanos, imperfeitos, e suas interações refletem isso de forma genuína. Vidas Passadas evita grandes reviravoltas ou gestos românticos exagerados, optando por pequenos momentos que carregam um grande peso emocional. Essa abordagem minimalista não apenas enriquece a trama, mas também traz uma sensação de autenticidade ao relacionamento central, permitindo que o público se conecte verdadeiramente com as experiências e os dilemas vividos pelos personagens.

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Entretanto, uma história realista e bem dirigida, mesmo com um roteiro que atende às expectativas, pode ser prejudicada por um ritmo lento e cansativo, o que pode minar o interesse do espectador e desviar sua atenção para outros estímulos. Infelizmente, Vidas Passadas sofre desse mal em alguns momentos, quando seu ritmo se arrasta, prejudicando a imersão na narrativa. Essa lentidão só é parcialmente resgatada com a entrada de Arthur, vivido por John Magaro, o marido de Nora, interpretada por Greta Lee. A presença de Arthur traz uma nova dinâmica à trama e restaura parte do interesse que a premissa inicial prometia.

A chegada de Arthur não apenas reanima a narrativa, mas também adiciona um novo ponto de vista, criando uma tensão emocional que eleva o enredo. Sua interação com Nora adiciona camadas ao conflito central, destacando as complexidades de um relacionamento marcado por diferentes culturas, distâncias e expectativas.

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A disparidade de maturidade emocional entre Nora, vivida por Greta Lee, e Hae, interpretado por Teo Yoo, contribui para que a narrativa se torne arrastada em certos momentos, mesmo com os dois atores entregando performances competentes. Enquanto Nora já superou o romance do passado, mantendo uma afeição que se aproxima mais do filia (o amor entre amigos) do que do eros (o amor romântico), Hae ainda está preso a sentimentos mais intensos e não resolvidos. Essa diferença de perspectiva, embora essencial para o enredo, acaba por criar uma dinâmica desequilibrada que, em vez de intensificar o drama, provoca uma sensação de desgaste para o espectador.

O conflito entre os sentimentos de Nora e Hae deveria agregar profundidade à trama, mas a insistência de Hae em manter uma conexão romântica unilateral acaba tornando suas cenas repetitivas e previsíveis. A tensão emocional que poderia ser explorada de forma mais rica e complexa se dilui, à medida que o espectador percebe que Hae está preso a uma idealização que Nora já deixou para trás. Isso acaba esgotando com a história se prolongando sem grandes mudanças de dinâmica, resultando em uma narrativa que, em alguns momentos, parece não avançar, apesar do bom trabalho dos atores.

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Vidas Passadas é uma escolha atraente para aqueles que buscam uma abordagem mais madura e realista do amor, oferecendo ao espectador uma imersão profunda nas emoções e dilemas dos personagens. A trama convida à reflexão sobre as complexidades das relações e os sentimentos não resolvidos que muitas vezes nos acompanham ao longo da vida. No entanto, apesar da direção habilidosa de Celine Song e de um roteiro que explora bem essas nuances, o ritmo lento e a atmosfera de melancolia beirando ao tédio em certas ocasiões podem esgotar a paciência de quem não está familiarizado com esse tipo de narrativa mais contemplativa e sutil.

NOTA: 3,5/5

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Sobre o Autor

Daniel Estorari

With great powers...

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