Desde a sua primeira aparição em Homem de Ferro 2 no ano de 2010, o público fã do MCU queria um filme solo da Viúva Negra. O desejo apenas aumentou quando, em Os Vingadores e em Era de Ultron, decidiram explorar no roteiro um pouco sobre o passado da heroína através de diálogos secundários e flashbacks.
Finalmente, e após um bom tempo sem produções da Marvel voltada para os cinemas por conta da pandemia, Natasha Romannoff ganhou seu longa que serve tanto como uma despedida da personagem nas telonas (após os eventos de Vingadores: Ultimato) como também para apresentar quem levará o seu legado adiante. Entretanto este era um filme que deveria ter vindo mais cedo e, quem sabe, sido o primeiro de uma trilogia da heroína.
Após flashbacks mostrando a infância da heroína e o que a levou para o seu treinamento na sala vermelha, o longa tem início logo após os eventos de Guerra Civil: Natasha está foragida por ter violado o Tratado de Sokovia ao imobilizar o Pantera Negra e ajudar o Capitão América a fugir com Bucky Barnes. Com o Coronel Ross em seu rastro, Natasha está se escondendo das autoridades quando o seu passado vem à tona através de Yelena Belova, que procura a heroína com um antídoto ao controle mental que as Viúvas Negras sofrem na esperança que Romanoff a ajude contra a sala vermelha para encerrar, de uma vez por todas, os treinamentos para criar novas assassinas e o controle das já existentes por Dreykov, líder da sala. Entretanto, surge o Treinador como obstáculo, um vilão criado pelo antagonista que consegue analisar e copiar todos os padrões de combate dos Vingadores.
A história se preocupa em explicar alguns pontos expostos em diálogos de longas anteriores – como a trama de Budapeste – e em explorar, mesmo que brevemente, o passado de Romanoff e seu treinamento para se tornar uma Viúva Negra, ao mesmo tempo que serve para introduzir Yelena Belova como sua substituta em tela. Há uma problemática pois acaba resultando em vários elementos a serem trabalhados em sua exibição, fazendo com que alguns não se desenvolvam corretamente. Além disso, o plot do filme é totalmente fraco e já está entregue logo nos primeiros trinta minutos do longa.
Logo nos minutos iniciais, com uma cena de abertura e uma introdução semelhante a de uma série de ação, já se observa uma tentativa de trazer um clima diferente ao filme. A diretora Cate Shortland introduz bem no primeiro ato essa nova dinâmica, ao investir no drama para que haja empatia com os personagens e com o núcleo familiar presente e se assemelha em determinadas sequências aos clássicos de espionagem como filmes da franquia Bourne ou Bond, e até mesmo procura se igualar ao que os Irmãos Russo fizeram em Soldado Invernal. Porém, logo no segundo ato, a direção desliza esse clima se esvai fazendo com que o longa se perca e não apresenta o devido clímax nos momentos que deveriam.
Inicialmente com um flashback do ”núcleo familiar”, que em tese é o tema principal abordado no filme, nota-se que a diretora procura criar uma relação entre o telespectador com o mesmo, mas é tão rápido que no final não há vínculo e nem desenvolvimento com o passar dos atos – tanto que, o reencontro que era para ser um clímax de emoção, acaba não significando nada a não ser um monte de piadas na mesa do jantar.
Entretanto os personagens deste núcleo por si só conseguem ser carismáticos, com David Harbour e Florence Pugh roubando a cena durante todo o momento que aparecem em tela, o que em parte é bom já que o longa serve para introduzir a nova personagem ao universo cinematográfico da Marvel e deixa o telespectador desejando mais conteúdo a respeito da história do Guardião Vermelho, personagem de Harbour.
Infelizmente esse também é um ponto negativo, pois por mais que os personagens funcionem em tela e consigam transmitir com clareza toda a relação entre eles, a personagem de Scarlett Johansson acaba sendo ofuscada (principalmente por Pugh) e se torna coadjuvante em diversos momentos no seu próprio filme solo – que deveria ser uma homenagem e despedida para a mesma. Isso só confirma que o filme foi lançado de forma atrasada, sendo que idealmente este deveria ser o terceiro de uma trilogia da personagem. Por fim, acabam desperdiçando uma bela chance de homenagear a heroína e desenvolver melhor sua trama no universo estabelecido.
Quanto ao vilão do filme: o Treinador é apenas um personagem genérico com uma máscara ameaçadora que depois de um tempo o telespectador se esquece de sua presença, pois o mesmo não aparece tanto e todas as suas cenas já foram expostas em trailers e spots do longa. E Dreykov, que seria o vilão principal, é apenas um personagem russo genérico tirado de um filme de ação dos anos 80 que não apresenta nenhuma ameaça. Ambos são personagens subdesenvolvidos e esquecíveis – no fim das contas, o filme todo é esquecível e parece um spin-off da Marvel.
Por fim as cenas de ação são bem feitas e as coreografias de luta são bem executadas, entretanto os efeitos visuais deixam a desejar em diversos momentos – principalmente no final do terceiro ato, que há uma cena extremamente vergonhosa envolvendo Yelena e Natasha, tanto pela situação em si como pelos efeitos utilizados. Por ser um filme de ação e espionagem, poderia ter sido optado o uso de efeitos práticos para trazer mais realismo em determinadas situações e, mesmo que não tenha como ser realista em um universo onde um homem se transforma em um monstro verde gigante, é melhor tentar do que fazer algo mal feito.
Então, é bom?
O filme solo que serve como despedida de Natasha Romanoff acaba desperdiçando diversas oportunidades de homenagear a heroína após seu fim trágico em Vingadores: Ultimato e de desenvolver seu passado. Como foi dito acima, o ideal seria que esse longa fosse o terceiro de uma trilogia ou ao menos um segundo, onde o primeiro explorasse todo o passado da Viúva Negra incluindo a missão de Budapeste, seu relacionamento com o Gavião Arqueiro e seu treinamento na sala vermelha.
Acaba que o longa apresenta uma história simples que não consegue se desenvolver por apresentar diversos elementos, dois vilões extremamente bobos e genéricos, efeitos especiais que beiram ao ridículo e a personagem protagonista se transforma em coadjuvante em seu próprio filme. Não chega a ser um péssimo filme pois ao menos diverte o público, mas a Viúva Negra com toda a certeza merecia bem mais como despedida.
No fim das contas, acaba que a cena pós-créditos empolga mais do que grande parte do filme.
Nota: 2/5