O princípio de ir ao cinema é querer a diversão, e os filmes de super-heróis na maioria dos casos proporcionam muita diversão, ou propõem algum tipo de reflexão ou inspiração. Entretanto, alguns consumidores exigem um padrão de qualidade absurdo desse tipo de filme. E será que deveria ser assim? Todos os filmes de super-heróis precisam ser obras-primas, ou algumas pessoas só estão ficando mais chatas conforme o tempo passa?
Existe uma frase máxima que diz: “Quando você vai consumir um produto com má vontade, você não irá gostar daquilo, mesmo que diga estar se esforçando.” Esta frase se encaixa em diversos contextos, desde o leitor de gibis até o consumidor de cinema, passando pelo fã de séries ou de música. É claro que todos devemos exigir um padrão de qualidade satisfatório para aquilo que gostamos, mas para algumas pessoas este padrão alcançou níveis inalcançáveis.
É comum, ao serem apresentadas para obras de uma qualidade acima da média, algumas pessoas passarem a desgostar de tudo que seja minimamente inferior (em quesitos técnicos ou não) àquela outra obra. E nisso, surgem pérolas como “este filme não é um Cavaleiro das Trevas, então não é tão bom“, girando uma roda de amargura infinita que aos poucos contamina a todos. Filmes de super-heróis não precisam ser obras-primas em 100% dos casos.
Digo isso baseando-me primeiramente no material de referência para tais filmes. Os quadrinhos, apesar de exceções que são verdadeiras perfeições, normalmente apresentam histórias consumidas como passatempo, feitas para entreter jovens e adultos que desejam sair um pouco da realidade e acompanhar aqueles personagens fictícios. E quase todos os filmes de super-heróis também são assim: você consome como um passatempo. Vai ao cinema, se diverte e fica tudo bem. Suspensão de descrença, como todos devem saber, refere-se à vontade de um leitor ou espectador de aceitar como verdadeiras as premissas de um trabalho de ficção, mesmo que elas sejam fantásticas, impossíveis ou contraditórias. E o mundo fictício dos super-heróis é todo baseado nisso.
Se você começa a exigir demais de certos entretenimentos, a qualidade não irá melhorar milagrosamente. Primeiramente, porque você é um ninguém, já que está dando seu dinheiro para um produto que já sabe que não irá gostar. O que vai acontecer é você se tornar um verdadeiro chato, onde nada lhe entretém. E você passará sua vida remoendo as “insuperáveis obras clássicas da humanidade”, reclamando de efeitos especiais (em filmes onde personagens precisam voar e soltar raios), dos vilões (vindos de uma mídia onde eles fazem diálogos expositivos com seus planos) ou de seríssimas incongruências como a existência de um índio americano num filme de Primeira Guerra Mundial… onde existem amazonas e deuses do Olimpo. Que absurdo! Quero meu dinheiro de volta!
Se você chegou ao triste ponto de procurar pelo em ovo para manter sua postura de reclamão, acredite quando digo que você é um dos piores tipos de consumidor. Entra em incríveis debates com outras pessoas que, ilogicamente, gostaram daquilo que você odeia. Tenta criar argumentos e questões para convencer os outros de que aquilo que eles gostam é um lixo tóxico. E nada muda, é só você lamentavelmente tentando criar mais ódio baseado na sua “experiência” e não aceitando a opinião do fã que se entreteve. E isso também vale para o sentido oposto, apesar de ser uma atitude menos comum.
É claro que gosto é algo que não se discute. Você pode não gostar, eu posso gostar, e a vida segue. O problema é quando o gosto torna-se um problema, já que ninguém sabe conviver com pessoas que discordam da sua opinião super embasada. Mas não estamos falando de gosto pessoal aqui, e sim de uma postura que visa sempre não gostar das coisas.
Aparentemente todas as pessoas também estão virando críticos profissionais de cinema. Mas a verdade é que quase ninguém é. É difícil simplesmente gostar ou não de algo sem tentar justificar expondo falhas técnicas ou estruturais das quais você nem sabe do que está falando. Principalmente se a pessoa, supostamente, tiver alguma influência nas mídias sociais, como um site ou canal de YouTube. E argumentos como “o filme te trata como burro” são risíveis por um lado, e extremamente tristes por outro, deixando pré-definido que o inteligentão é muito superior ao pobre burrinho que adorou ir ao cinema. E as vezes, a pessoa que não entendeu é o tal inteligente, que deixou passar um simples diálogo que explica uma situação.
É importante lembrar: você pode ir ao cinema de forma descompromissada. Assim como você pode ler um quadrinho, assistir uma série ou ouvir uma música só pelo entretenimento da coisa. Ninguém precisa ser um crítico expert em todos os assuntos, nem precisa justificar nada de forma super embasada. Divirta-se, acima de tudo. E se você vai consumir algo com má vontade ou exigindo um padrão de qualidade elevado, faça um favor para si mesmo e nem perca seu tempo. É uma dica muito útil que estou dando, já que você poderá economizar dinheiro e também utilizar as horas perdidas fazendo algo mais inteligente e proveitoso. Quem sabe?
Garanto que uma pessoa que gostou de algo não quer saber sua opinião que tenta fazê-la desgostar daquilo. E nem está interessada em ouvir supostas falhas. Ela está satisfeita. Dificilmente você mudará isso, Sr. Entendido.